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Publicado em 23 de abril de 2013 às 09h22min
Tag(s): Folha de São Paulo
A produção científica brasileira, medida pela quantidade de trabalhos acadêmicos publicados em periódicos especializados, está em ascensão. Mas a qualidade dos trabalhos não acompanha o ritmo.
O cenário foi encontrado em informações tabuladas pela Folha a partir da base aberta de dados Scimago (alimentada pela plataforma Scopus, da editora de revistas científicas Elsevier). Ela traz números da produção científica de 238 países.
De 2001 para 2011, o Brasil subiu de 17º lugar mundial na quantidade de artigos publicados para 13º --uma conquista que costuma ser comemorada em congressos científicos do país.
Em 2011, os pesquisadores brasileiros publicaram 49.664 artigos. O número é equivalente a 3,5 vezes a produção de 2001 (13.846 trabalhos).
O problema é que a qualidade dos trabalhos científicos, medida, por exemplo, pelo número de vezes que cada estudo foi citado por outros cientistas (o chamado "impacto"), despencou.
O Brasil passou de 31º lugar mundial para 40º. China e Rússia, por outro lado, ganharam casas no ranking de qualidade nesse período.
MAIS BRASILEIROS
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, um dos motivos do salto de produção com queda de qualidade foi o aumento do número de periódicos brasileiros listados nas bases de dados: de 62 para 270 em dez anos.
"Isso aconteceu por causa de uma política de abertura para revistas científicas nacionais de países como Brasil, China e Índia", explica o cienciometrista da USP Rogério Meneghini, coordenador da base Scielo, que reúne 306 periódicos brasileiros.
O problema é que os trabalhos de periódicos científicos brasileiros têm pouco impacto. Apenas 16 dessas revistas receberam, em 2011, uma ou mais citações por artigo. Para ter uma ideia, cada artigo da revista britânica "Nature" recebeu cerca de 36 citações.
O maior impacto entre os periódicos nacionais é igual a 2,15, da revista "Memórias do Instituto Oswaldo Cruz".
"Cerca de 45% dos trabalhos científicos que recebemos são de autores estrangeiros", conta Francisco José Ferreira da Silva Neto, do corpo executivo do periódico.
Mas não são apenas os periódicos nacionais que derrubam o impacto da ciência brasileira no mundo.
"A política atual de ensino superior no Brasil pressiona para que os pesquisadores publiquem mais e para que publiquem de qualquer jeito", diz o biólogo Marcelo Hermes-Lima, da UnB (Universidade de Brasília).
SALAME
Cientistas brasileiros acabam desmembrando trabalhos parrudos em artigos com menos impacto, fenômeno conhecido como "salame".
"Cada descoberta é fatiada e publicada separadamente", explica Fernando Reinach, biólogo que deixou a academia e agora está na iniciativa privada. "O número de trabalhos aumenta, as descobertas ficam semelhantes e o impacto diminui."
Volume de publicação científica é critério para distribuir recursos a pesquisadores
O número de artigos publicados é um dos critérios utilizados pela Capes, órgão do governo que avalia a pós-graduação do Brasil, para distribuir recursos para ciência.
"Mas a qualidade do periódico científico também conta", diz Elenara Chaves Edler de Almeida, coordenadora de um portal da Capes que qualifica periódicos científicos do Brasil e do mundo em conceitos que vão de "a" até "c".
A Capes, recomenda que cada doutor tenha três artigos aceitos para publicação.
Já a Fapesp, agência estadual que financia as pesquisas em São Paulo, Estado que concentra 51% da pesquisa nacional, tem recentemente adotado uma política de valorizar as citações dos artigos na hora de analisar solicitações de financiamento feitas por equipes de pesquisa.
"Isso difere da política de outros órgãos que valorizam apenas o impacto das revistas nas quais os artigos saem", explica Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da fundação.
"Um artigo pode sair em uma revista de alto impacto e ser pouco citado."
De acordo com Cruz, a Fapesp solicita que todos os cientistas que pedem financiamento criem suas páginas no Google My Citations ou no MyResearcherID.
Essas duas ferramentas permitem identificar as citações de cada artigo.
"Prefiro não publicar do que publicar numa revista sem impacto", diz Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP. (SR)
Fonte: Folha de São Paulo