2 de maio de 1997: Adeus a Paulo Freire, o revolucionário da pedagogia

Publicado em 02 de maio de 2013 às 11h45min

Tag(s): Educação



O pedagogo Paulo Freire, 65 anos, morreu de infarto em São Paulo, no Hospital Albert Eistein, onde estava internado. Freire criou um método revolucionário de alfabetização de adultos em 1962 e deixou a essência de suas ideias no livro Pedagogia do oprimido(1968). Perseguido pela ditadura militar, passou 10 anos no exílio e voltou ao Brasil em 1979.
Paulo Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife. Apesar de ter nascido no seio da classe média, desde cedo, Paulo vivenciou a pobreza e a fome, decorrentes principalmente da Grande Depressão (1929). Talvez tenha sido essa experiência a mola propulsora de tanta dedicação aos projetos desenvolvidos em prol dos menos favorecidos. Por esse empenho Paulo Freire tornou-se uma inspiração para gerações de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos.
A sua prática didática foi uma contribuição ímpar para a sociedade. Fundamentou-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, criando sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído.
No dia 13 de abril de 2012, através da Lei nº 12.612, Paulo Freire foi reconhecido como patrono da educação brasileira.
Um guardião da utopia
Não é lugar comum. De Paulo Freire, pode-se dizer que morreu como viveu. Isto é, fazendo projetos. Esava agora fazendo as malas para oferecer seu magistério na Universidade de Harvard, nos Estado Unidos, quando a morte o acolheu.
Sua vida, depois do longo exílio a que o levou o regime autoritário, dividia-se entre o serviço do seu próprio país, o Brasil, e a pregação que fazia no estrangeiro, onde suas obras eram estimadas no seu justo valor. Não se dirá que o Brasil não o apreciasse, mas era do estrangeiro que lhe chegavam estima e aplauso.
Paulo Freire era sobretudo um notável filósofo da educação, com aquela marca que caracteriza os grandes do seu ramo: um pensamento ancorado na realidade profunda dos povos, marcado pela busca de soluções que levem a um futuro melhor.
Na fase das grandes utopias, o seu discurso foi certamente aquele que mais profundamente tocou a emoção e o espírito das pessoas que, em todo o mundo, viam na educação um caminho redentor. Se livro Pedagogia do oprimido revela sua preocupação fundamental: ensinar àqueles que a sociedade colocou lá embaixo, na base da pirâmide, a melhor via para superar os riscos da assimilação pelo entorno ideológico.
Sua proposta era carregada de otimismo e de fé, quando ele definia a escola popular e democrática como o lugar em que se podia ensinar e aprender com alegria, e a sua noção de processo participativo incluía a liberdade para criar. Tratava-se de uma postulação fundada na construção sistemática do pensamento pedagógico libertário, quando valorizava os projetos teóricos-práticos, recusando, ao mesmo tempo, os discursos vazios e as práticas sem fundamento conceitual. Esse é o sentido do seu último livro, A pedagogia da autonomia, condição que a seu ver faz parte da própria natureza da educação.
Todo o seu labor no Brasil, na América Latina, na África e nos Estados Unidos era marcado por esse otimismo e essa fé, qualidades que nunca o abandonaram, porque alicerçadas numa vida que foi uma lição de generosidade e de caráter. Sem isso, aliás, é impossível ter fé e agir pensando que um futuro é sempre possível, quando somos movidos pela vontade limpa de construir coisas fundamentais para a humanidade.
Fonte: Jornal do Brasil, sábado, 3 de maio de 1997 - página 2

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