UFSC sedia colóquio Coleções Literárias: Textos/Imagens

Publicado em 03 de junho de 2013 às 11h14min

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 Será realizado no Auditório Henrique Fontes, do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, em Florianópolis, de 5 a 7 de junho, o Colóquio Coleções Literárias: Textos/Imagens, que tem como foco central a questão da imagem e a(s) sua(s) relação(s) com a literatura. O Colóquio contará com a presença de pesquisadores ligados a instituições de ensino e pesquisa brasileiras e internacionais. As inscrições para ouvintes são gratuitas e podem ser feitas até o dia 4 de junho. "A questão da imagem é de fundamental importância para a contemporaneidade. Literatura é imagem, e outras formas artísticas como o teatro, a pintura, o cinema se manifestam igualmente por meio de imagens", destaca a professora Maria Aparecida Barbosa, uma das organizadoras do evento.
A imagem, acrescenta, nunca esteve tão presente no nosso cotidiano de forma tão crua, intensa. O debate sobre a "paixão pelo real", desenvolvido em O Século, de Alain Badiou, conflui com os escritos de Georges Didi-Huberman e toda uma tradição formada por Bataille, Freud, Lacan, Foucault. Não se busca o todo, a totalidade, muito menos uma origem propulsora, a atenção está acima de tudo nos intervalos, para lembrar uma frase de Warburg que abre o ensaio sobre o método de Carlo Ginzbug: "O bom Deus está nos detalhes". O caminho mais tortuoso substitui o linear.
Coincidindo com o ano da Alemanha no Brasil, a mesa de abertura do Colóquio Coleções Literárias contará com a presença de um pesquisador da Universidade de Hamburgo/Alemanha. O diretor da Casa Aby Warburg, Uwe Fleckner, é na Alemanha o grande estudioso daquele erudito fundador da disciplina Teoria da Cultura; ademais, um especialista no trabalho de Carl Einstein, um judeu contemporâneo de Warburg, igualmente historiador das artes.
O interlocutor de Uwe Fleckner na mesa de abertura será Raul Antelo que há anos desenvolve estudos da obra de Einstein. Na ocasião, ele se refere à repercussão do livro Negerplastik entre os modernistas, pois pelo menos Mário de Andrade e Osório César tiveram acesso a essa literatura: o primeiro, através de uma abreviada versão em italiano, o segundo, que leu a tradução francesa.
Einstein bateu-se por questões estéticas formais que se traduziriam em expressões artísticas e políticas de maior nitidez, e cuja obra e o próprio percurso de vida atestam, respectivamente, extraordinária coerência e revolta contra o status quo. Einstein é autor do livro A Arte do Século 20 (em fase de tradução) e de Escultura Negra-Negerplastik, que a Edufsc editou em 2010. No caso de Warburg, a enorme coleção de livros que ele sistematicamente organizara em Hamburg, visando uma história das artes de caráter interdisciplinar, teve que ser transferida a Londres em 1933. Referimo-nos a livros de imagens, portanto, que quando da ascensão do nazismo foram banidos, proibidos, queimados. Referimo-nos à imagem que opera no sentido da revisão do tempo histórico segundo propôs Benjamin em suas teses, à imagem dialética, provocativa, desafiante. O filósofo Badiou trata num ensaio dessas imagens "que queimam".

Fórum de debates sobre a cultura
O Colóquio Coleções Literárias: textos/imagens acontece como um fórum onde importantes reflexões de natureza cultural serão debatidas, entre outros desafios colocados está no ar a pergunta sobre a literatura lançada à fogueira em maio de 1933, ou sobre a arte plural e incisiva desclassificada na exposição de arte degenerada em 1937, que até hoje não passaram por um crivo que de fato as reabilitasse.
Nas discussões do evento emerge, por exemplo, a temática da sobrevivência de imagens no processo de tradução. A exposição dessa problemática fica a cargo de Berthold Zilly, professor-convidado na Pós-graduação em Estudos da Tradução (UFSC), enfronhado atualmente na versão do romance Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa ao alemão. Como tradutor de Os Sertões: Campanha de Canudos (1902), o pesquisador abordará o desafio que constituiu a pesquisa em língua alemã das expressões correspondentes à forte dimensão imagética do livro de Euclides da Cunha. No que concerne o gênero textual poesia, o tradutor da poesia portuguesa ao italiano, o romano Giorgio De Marchis, traz a distinção entre a operação de traduzir e o ato de translocar. E o diálogo dos dois tradutores, contíguo às suas palestras, será intermediado pela tradutora de literatura russa e italiana à língua brasileira, a professora da USP, Aurora Bernadini.
As imagens poéticas, mais especificamente anotações e recortes de João Cabral de Melo Neto relacionados à tauromaquia, constituem o objeto da pesquisadora Flora Sussekind. O interlocutor da pesquisadora da Fundação Rui Barbosa (RJ) é o pesquisador - além de poeta - Sérgio Medeiros, cujo trabalho apresenta criações da arte contemporânea que aliam suas experimentações à poesia verbal, reportando-se a Brancusi.
A mesa Acervos, Dispositivos, Memória reúne três pesquisadores que igualmente trazem problemáticas atuais. Em trabalhos de artistas contemporâneos, Rosângela Cherem constata a crítica sobre o campo institucional da arte com considerações relevantes à reflexão sobre políticas culturais e museológicas, constituição e manutenção de seu acervo. Jair Tadeu Fonseca torna a pesquisa sobre o arquivo de Maurício Gomes Leite mais ampla ao introduzir o conceito de crítica de autor, que dentro da crítica cultural o conduz a outras imbricações da crítica cinematográfica com a crítica literária. Em textos/imagens/poemas/esculturas Ana Luiza Andrade investiga Poesia com barro: barro/co de bichos, por meio de jogos poéticos que engendram a própria fala da pesquisadora.
Arquivos, coleções literárias é a temática para o diálogo que se propõe entre Wander Miranda, especialista na problemática acervo e processos de conservações de coleções bibliográficas, que trata do viés leitor colecionador, e Sílvia Maria Azevedo, em percurso por hemerotecas brasileiras da modernidade, constata certos impasses nas imagens publicadas no Jornal das Famílias, periódico dirigido ao público família patriarcal brasileira do século XIX.
Pontuando novamente o pendor interdisciplinar do Colóquio Coleções Literárias: Textos/Imagens, a mesa de encerramento coloca lado a lado a pesquisa da História e a pesquisa da Teoria Literária com a proposta de um debate sob a égide do tema Sobrevivências. Maria Bernardete Ramos Flores confronta o arquivo que se oferece ao pesquisador sob condições aparentemente melhores, e o arquivo inexistente que exige a busca das afinidades e compreensões do trabalho artístico na abordagem da própria obra plástica. E Maria Lúcia Barros de Camargo investiga o lugar ou não lugar da poesia na imprensa atual a partir da seção "+poema" do caderno Mais da Folha de São Paulo.
Finalmente, buscando abrir e estender a reflexão concernente à conjugação texto escrito e ilustrações a toda a comunidade, o Colóquio convida o escritor e ilustrador Odilon Moraes para uma palestra que acontecerá, somente neste caso, na Biblioteca Barca dos Livros, no bairro Lagoa da Conceição (no Lagoa Iate Clube).
Os organizadores do Colóquio convidam os interessados a conferir a programação completa, os resumos, tanto das palestras como das comunicações, horários e demais informações disponíveis no blog http://colecoesliterarias.blogspot.com.br/. Será dado certificado para todos os inscritos que participarem de pelo menos 75% das atividades.
O evento é uma realização da Pós-Graduação em Literatura (PPGL), Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET) e do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (DLLE), com apoio do CNPq, Capes, UFSC, CCE e Núcleo de Estudos Interdicisplinares de Italiano (NEIITA).

Mais informações:

http://colecoesliterarias.blogspot.com.br

 

Fonte: SBPC

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