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Publicado em 10 de setembro de 2013 às 10h27min
Tag(s): Brasil
As vítimas da violência e do arbítrio do golpe militar de 11 de setembro, ocorrido em 1973 no Chile, foram homenageadas em sessão especial do Senado, nesta segunda-feira (9). Durante o evento, foi realizado o Colóquio Chile 40, em que autoridades e especialistas debatem o tema. Ainda na sessão, foi debatido o filme No, de Pablo Larraín, sobre o plebiscito nacional chileno que derrubou Pinochet.
O professor Jacques de Novion, da Universidade de Brasília (UnB), diz que a eleição democrática de Allende foi mais incômodo para os Estados Unidos do que a Revolução Cubana.
O golpe, ocorrido há 40 anos, derrubou o regime democrático constitucional do Chile e o presidente Salvador Allende. O levante foi articulado por oficiais da Marinha e do Exército chileno, com apoio militar e financeiro do governo dos Estados Unidos. O líder do movimento, Augusto Pinochet, se proclamou presidente.
Após a execução dos hinos nacionais de Brasil e Chile, o senador João Capiberibe (PSB-AP) – que viveu parte de seu exílio no país vizinho no início da década de 1970 e vivenciou o golpe – lembrou a trajetória de Allende, primeiro presidente de república e o primeiro chefe de estado socialista marxista eleito democraticamente na América Latina. Ele governou o Chile entre 1970 e 1973.
“A verdade é que Salvador Allende vai ser lembrado sempre. É um exemplo de político que se submeteu ao sacrifício final, sacrificou a própria vida a defender os compromissos firmados com a sociedade chilena”, disse o senador João Capiberibe, um dos requerentes da sessão, junto com os senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE), Lídice da Mata (PSB-BA), Walter Pinheiro (PT-BA), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Clésio Andrade (PR-MG).
Experiência inédita
Em 11 de setembro de 1973, bombas atiradas por aviões da Força Aérea chilena destruíram uma das primeiras experiências democráticas de socialismo do mundo, enquanto abriam o caminho para uma ditadura que impôs ao Chile o modelo econômico neoliberal, algo também inédito no planeta.
O bombardeio do Palácio de La Moneda e o suicídio do presidente Salvador Allende marcaram o golpe de estado no Chile e são considerados alguns dos momentos mais importantes da Guerra Fria.
Allende e as vítimas da violência e do arbítrio do golpe de estado chileno, que completa 40 anos, foram lembrados na sessão pelos parlamentares brasileiros e outros participantes, que lamentaram a perseguição política àqueles que se opuseram ao regime militar instituído no Chile naquela data.
Laboratório do neoliberalismo
De acordo com o professor e pesquisador Jacques de Novion, do Centro de Pesquisas sobre as Américas da Universidade de Brasília (UnB), a eleição democrática de Allende foi um marco mais incômodo para os Estados Unidos do que a Revolução Cubana de 1959.
“Se já era inaceitável pensar num processo revolucionário armado, como foi o caso de Cuba, mais inaceitável ainda nesse momento seria aceitar uma eleição democrática com um projeto socialista”, disse o professor. Ainda segundo ele, após o golpe, o Chile se transformou no principal laboratório do modelo econômico neoliberal na América Latina.
O professor emérito do Departamento de Serviço Social da UnB, Vicente Faleiros, que viveu no Chile por quase quatro anos, conta que Allende tinha um amplo apoio popular, devido à política transformadora que fazia. Faleiros chegou a ser preso e ressaltou que o golpe foi uma guerra contra o povo.
“A cidade foi ocupada e houve alguns tiroteios e o que eu observei é que não foi um golpe apenas, foi uma guerra contra o povo. No barco onde eu fui preso, a gente sempre se perguntava quando era chamado: vou ser fuzilado, torturado ou liberado?” disse Faleiros ao lembrar da truculência do regime militar no país.
Minuto de silêncio
O senador Randolfe Rodrigues (PSOl-AP) pediu desculpas pelo apoio que a ditadura militar brasileira deu ao golpe que levou Pinochet ao poder, no Chile. Já o embaixador do Chile no Brasil, Fernando Schmidt, agradeceu pela homenagem e evocou um minuto de silêncio em memória de todos os que foram vitimados pelos acontecimentos de 1973. A estimativa é que mais de três mil pessoas tenham morrido ou desaparecido durante o período da ditadura militar (1973-1990).
Para Schmidt, o martírio do ex-presidente Salvador Allende representou um passo doloroso para o desenvolvimento da sociedade chilena, que hoje leva os cidadãos a compartilharem a rejeição por toda e qualquer ideia de ditadura e o horror pela violação dos direitos humanos.
“Lá reina um estado de direito, imperfeito, mas respaldado pelo compromisso de toda a sociedade de mantê-lo e melhorá-lo, junto com as condições de vida de todos os cidadãos”, disse o embaixador, afirmando que o Golpe de 1973, Salvador Allende e o general Augusto Pinochet são ainda presenças constantes nos debates políticos do país.
Fonte: Portal Vermelho com Agência Senado