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Publicado em 02 de dezembro de 2013 às 10h25min
Tag(s): Enem
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio Costa, afirmou categoricamente nesta quinta-feira que o órgão não errou na divulgação dos resultados por escola do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012. Ele veio ao Rio para a conferência "O Ensino Médio em Debate", promovida pela Fundação Cesgranrio.
Segundo Costa, o motivo para escolas tradicionais terem ficado de fora são erros do próprio colégio no ato de preenchimento do Censo Escolar ou na inscrição do aluno no Enem. Nesta quarta, 24 instituições de ensino em todo país entraram com recurso pedindo revisão dos dados. O Colégio Santo Inácio e o Notre Dame, no Rio, e o Gay Lussac, em Niterói, são exemplos de escolas que não entraram na lista divulgava pelo Inep.
O Inep divulga as notas das escolas com no mínimo 10 alunos participantes no Enem e com ao menos 50% dos estudantes inscritos no exame. Neste ano, mais de 11 mil se enquadraram nestes critérios e tiveram seus resultados divulgados. A seguir, veja a entrevista com Luiz Cláudio Costa:
Algumas escolas tradicionais ficaram de fora do levantamento de desempenho do Enem 2012, e esta não é a primeira vez que isso acontece. Quais seriam as causas dessa exclusão da lista?
LUIZ CLAUDIO: Para todas que recorreram até agora, não houve nenhum erro do Inep, e eu vou lhe assegurar que não há nenhum erro. Se houver, nós teremos muita humildade para reconhecer. Vinte quatro instituições entraram com o recurso. O Censo Escolar é nossa base, nós temos que ver quais são os concluintes do ensino médio estudando naquela escola. No Enem, o número de inscritos é muito mais do que o número de participantes que estão de fato concluindo o ensino médio. Na hora da inscrição no Enem, muitos alunos que já não estão mais na escola preenchem o formulário dizendo que estão matriculados no seu ex-colégio. Isso gera confusão. Por exemplo, em uma escola com 40 concluintes do ensino médio, como é que pode ter no Enem 48 alunos dizendo que são concluintes daquela escola? O sistema não calcula porque, desse modo, estaremos prejudicando ou beneficiando aquela escola. Quando há inconsistência, a escola recorre. Nós mandamos os dados para fazer a compatibilização e ela vai nos dizer realmente quem são seus alunos. Se é procedente, nós fazemos os cálculos.
Essas "inconstâncias" então ocorrem no ato do preenchimento do Censo ou do Enem?
LUIZ CLAUDIO: Pode ser nos dois. A inscrição do Enem não é a escola que faz, é o estudante. Então, ele pode cometer algum erro. Pode ter estudado num semestre em uma escola, depois ter ido para outra, e ter se inscrito no Enem como se fosse aluno da primeira. Quando a escola fala "eu tenho certeza que meus alunos"... Não tem. Não tem controle. Ela não inscreve os alunos. E pode ser também que haja insconsistência no Censo. Então, é por isso que nós não gostamos de calcular a média. O que estou pensando para o ano que vem, mas que por enquanto é apenas uma expectativa, é se adiantar e identificar essas inconsistências entre Censo e Enem antes do resultado. Assim, nós pediríamos esclarecimentos antes.
E se forem muitas escolas?
LUIZ CLAUDIO: Por isso que eu preciso averiguar, é apenas uma ideia.
Todos sabemos que o MEC e o Inep não fazem rankings. Mas, partindo da perspectiva dos pais dos alunos, é possível se guiar pela comparação das médias das escolas no Enem para aferir a qualidade do ensino médio repassado por elas?
LUIZ CLAUDIO: No Campeonato Brasileiro só pode haver um primeiro lugar. Na corrida de Fórmula 1, só pode haver um primeiro lugar. Mas na educação, nós temos todas as escolas juntas, e cada uma com suas características. Então, uma escola estadual com 400 a 500 alunos não deve ser comparada exatamente com uma escola privada de 20 a 30 alunos. A primeira escola é boa em termos de inclusão, e a segunda em termos qualitativos. Se a primeira tivesse também uns 20 alunos, ela poderia ser tão boa quanto a segunda em termos qualitativos. Mas eu acho que não pode ser jogado tudo fora, desde que haja reflexão sobre essas diferenças. Acho bom a gente analisar os dados para que saibamos o seguinte: qual educação nós queremos?
Mas esses rankings não acabam se repetindo no ensino superior, com a divulgação de dados como o IGC e o CPC?
LUIZ CLAUDIO: Nós não fazemos rankings. Quem faz são vocês (da imprensa). É a forma de a imprensa dialogar com a sociedade, e que eu acho bom. Não tem problemas. Agora, quando se divulga IGC e CPC vêm aquelas perguntas de qual é a melhor, é natural, é um diálogo social. Costumo dizer que nós do MEC/Inep temos que fazer três diálogos no mínimo: um com as escolas, que, para mim, é o mais importante, outro com a sociedade, de fundamental importância, e depois com a imprensa, que para mim é importantíssimo. . Quando discutimos educação, temos que levar em conta o seguinte: por que aquela escola é boa? Será que é por que ela tem poucos alunos? Será que é seus professores são todos graduados? As escolas federais, por exemplo, tiveram um ótimo desempenho, mas vejam que nós nem procuramos exaltá-las porque entendemos que nossa preocupação é com as escolas estaduais.
Fonte: O Globo