Alunos brasileiros ficam entre os piores em teste de raciocínio lógico

Publicado em 02 de abril de 2014 às 10h03min

Tag(s): Educação



Os estudantes brasileiros têm sérias dificuldades para resolver problemas de matemática aplicados à vida real. É o que mostram os resultados de um novo teste do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados nesta terça-feira pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil ficou apenas com 38ª colocação entre os 44 países participantes.

É a primeira vez que a OCDE realiza este teste, que buscou avaliar mais as habilidades cognitivas dos estudantes do que seu conhecimento de conteúdo matemático. Participaram do exame cerca de 85 mil alunos, todos com 15 anos de idade. Os adolescentes de Cingapura e Coreia do Sul alcançaram as melhores pontuações nessa avaliação. Veja o ranking completo no final da reportagem.

"Os alunos de 15 anos com dificuldades para resolver problemas serão os adultos de amanhã lutando para encontrar ou manter um bom emprego", disse Andreas Schleicher, diretor interino de Educação da OCDE. "As autoridades e educadores devem rever seus sistemas de ensino e currículos para ajudar os estudantes a desenvolver suas habilidades para resolver problemas, cada vez mais necessárias nas economias atuais".

A OCDE é conhecida por divulgar, a cada três anos, os resultados gerais do Pisa, que, na sua última edição, em 2012, avaliou estudantes de 65 países com provas de matemática, ciência e leitura. Divulgados em dezembro do ano passado, os resultados desses exames mostraram uma realidade péssima para o Brasil. Apesar de uma melhora em matemática desde 2003, quando o Pisa começou, o país estava na 58ª posição, bem abaixo da média nas três disciplinas.

A prova de matemática do Pisa já mostrava as dificuldades dos alunos brasileiros com problemas que pediam raciocínio lógico e conhecimentos básicos da disciplina. Apenas 33% dos alunos de 15 anos do país conseguiram resolver questões com o grau de complexidade mais baixo. Para muitos especialistas, o problema está justamente nos problemas de leitura. A maioria dos nossos estudantes não consegue interpretar o enunciado da questão.

 

Um alerta

A diretora-executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, lamenta o baixo desempenho dos alunos brasileiros na avaliação, mas diz que os dados estão longe de surpreender.

- Estamos falando de jovens de 15 aos, que estão ou no Ensino Fundamental II ou no Ensino Médio. Pesquisas nossas mostram que, desse grupo, apenas 17% dos alunos chegam ao final do ano tendo aprendido o conteúdo adequado de matemática. Portanto, esse resultado não nos surpreende - avalia.

Para a diretora, o levantamento traz um sério alerta sobre o futuro "muito próximo" destes estudantes - que chegarão em breve ao mercado de trabalho. Priscila avalia que esses meninos não estão tendo seu direito à educação plenamente garantido no país. Outro fator grave, segundo a especialista, é o fato de a matemática ser ensinada em sala de aula totalmente descontextualizada da realidade dos alunos.

A análise do Todos pela Educação é de que o ensino, de uma vez por todas, deve servir para a vida do aluno e não apenas para o repasse de conteúdo. Ela ainda atribui ao Congresso Nacional grande parcela de responsabilidade pelos problemas no ensino específico da matemática.

- O Congresso foi aprovando a inclusão de outras disciplinas, sem que as escolas tivessem dado conta, sequer, daquelas básicas, como matemática e português.

Priscila Cruz ainda questiona a formação do professor de matemática no país e o tempo de permanência do aluno em sala de aula, que não passa de 3 horas/dia em média. 

- Temos que melhorar a formação do professor. Para se ter ideia, no ensino fundamental II, apenas 35% dos professores da disciplina têm formação. E destes, muitos saem da faculdade sem preparo ou estratégias para aplicar a disciplina em sala de aula. Outro problema grave é esse pequeno período de permanência do aluno em sala. Acaba, claro, sobrando muito pouco tempo para a matemática.

 

Veja o ranking completo

1º - Cingapura, 562 pontos

2º - Coreia do Sul, 561

3º - Japão, 552

4º - China/Macau, 540

5º - China/Hong Kong, 540

6º - China/Xangai, 536

7º - China/Taipé, 534

8º - Canadá, 526

9º - Austrália, 523

10º - Finlândia, 523

11º - Reino Unido, 517

12º - Estônia, 515

13º - França, 511

14º - Holanda, 511

15º - Itália, 510

16º - República Tcheca, 509

17º - Alemanha, 509

18º - Estados Unidos, 508

19º - Bélgica, 508

20º - Áustria, 506

21º - Noruega, 503

22º - Irlanda, 498

23º - Dinamarca, 497

24º - Portugal, 494

25º - Suécia, 491

26º - Rússia, 489

27º - Eslováquia, 483

28º - Polônia, 481

29º - Espanha, 477

30º - Eslovênia, 476

31º - Sérvia, 473

32º - Croácia, 466

33º - Hungria, 459

34º - Turquia, 454

35º - Israel, 454

36º - Chile, 448

37º - Chipre, 445

38º - Brasil, 428

39º - Malásia, 422

40º - Emirados Árabes, 411

41º - Montenegro, 407

42º - Uruguai, 403

43º - Bulgária, 402

44º - Colômbia, 399

 

Fonte: O Globo

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