Relatório da Comissão da UFRN documenta Verdade em ato oficial

Publicado em 15 de outubro de 2015 às 08h43min

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A Universidade Federal do Rio Grande do Norte deu um enorme passo no sentido da reconciliação entre a história, a verdade e a justiça, com a entrega à Comunidade Acadêmica do relatório final da Comissão da Verdade. O lançamento aconteceu na manhã desta quarta (14), em solenidade que contou com a presença da reitora Ângela Maria Paiva, no auditório Otto de Brito Guerra.

Professores, estudantes, funcionários, perseguidos políticos, familiares e amigos de presos, mortos e desaparecidos e todos os que de uma ou outra maneira foram vítimas da violência e dos vexames infligidos pela ditadura cantaram e se emocionaram com hino símbolo de resistência à ditadura, “Por que não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré.

Discursos emocionados e contundentes emprestaram o tom à cerimônia e reafirmaram a importância do relatório como material de consulta e acervo histórico. “Este documento, revelador de vários fatos que ocorreram nessa Instituição, é o resgate não apenas da Memória, mas da Verdade, que é tão vilipendiada e distorcida hoje pelo mundo da informação. Para a Juventude que, felizmente, não vivenciou essa época, que esse livro seja um objeto de leitura e reflexão sobre a importância da defesa da nossa jovem e frágil democracia, que vive sendo ameaçada”, ressaltou em sua intervenção o presidente do ADURN-Sindicato, Wellington Duarte.

O livro foi apresentado como um divisor de águas ao documentar em ato oficial a inteira verdade sobre circunstâncias e autoria das graves violações de direitos humanos praticadas entre 1964 e 1988 na UFRN. Uma oportunidade para a Comunidade Universitária conhecer a história da intervenção governamental na vida acadêmica brasileira através do depoimento de professores, estudantes, reitores e funcionários.

Para a professora Angela Ferreira, membro representante do ADURN-Sindicato na Comissão, este trabalho “cumpre com a importante tarefa de elucidar fatos ligados às atividades das forças oficiais de repressão, no sentido de evitar o esquecimento de uma época marcada por lutas e repressões políticas”, possibilitando-nos a visão do que essa estrutura significou na intimidação e ameaça permanente para a comunidade acadêmica.

A violência cometida contra a autonomia das instituições de ensino e contra o direito à liberdade de pensamento e expressão de cada um de seus membros foi o objeto de pesquisa durante quase três anos e que resultou na elaboração de um relatório com 489 páginas.

Segundo o presidente da Comissão, o professor Carlos Roberto de Miranda Gomes, o trabalho da Comissão da Verdade da UFRN, reflete um clamor nacional, sem qualquer espírito revanchista, mas de absoluta justiça, para ter consequência e representar efetivamente uma página virada na história.

O resultado do trabalho em contar a história respeitando a verdade foi ressaltado pela reitora da UFRN, Angela Maria Paiva, como uma comprovação do que pode o Estado de Direito na busca da Verdade. “Esta publicação apresenta o resultado de um esforço coletivo que irá somar-se ao da Comissão criada pela Presidente Dilma Rousseff através da Lei Federal nº 15.528, com a finalidade de projetar luz sobre fatos que permaneciam obscuros na história do país.”

Para a reitora, a iniciativa do Governo Federal está em conformidade com as políticas institucionais da UFRN. “A recuperação da memória histórica está em consonância com os nossos compromissos com a justiça social, a democracia e a cidadania”, afirmou Angela Paiva.

O trabalho exaustivo e detalhado da Comissão, que em quase três anos de funcionamento, colheu 51 depoimentos em 27 sessões ordinárias e três audiências públicas, e reuniu e analisou extensa documentação, confirmou perseguições e 36 prisões de professores e alunos  da Universidade Federal do Rio Grande do Norte vítimas da ditadura militar.

A comprovação decorreu da apuração dos fatos que se encontram detalhadamente descritos nas 489 páginas que compõem o relatório final, configurando a prática sistemática de perseguições e detenções ilegais por agentes do Estado dentro da UFRN.

Para evitar a repetição de tais atos e promover o aprofundamento do Estado democrático de direito, o documento final da comissão encaminhou seis propostas a serem adotadas pela reitora da UFRN. Entre elas, duas foram prontamente atendidas e realizadas durante a solenidade, a aposição de placa simbólica no local onde funcionou a extinta Assessoria Especial de Segurança e Informações da UFRN, com alusão à sua função repressiva, e uma homenagem aos integrantes da comunidade universitária da UFRN vítimas de violação de direitos humanos.

ADURN Sindicato
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