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Publicado em 08 de dezembro de 2016 às 10h13min
Tag(s): Na Trilha da Democracia
Uma das mais eloquentes vozes da esquerda intelectual brasileira, o sociólogo e cientista político Emir Sader foi ovacionado por mais de três centenas de estudantes, professores, juristas, petroleiros, profissionais de outras categorias e representantes de movimentos sociais e sindicais ao iniciar palestra com um uníssono #ForaTemer, durante a realização da sexta edição do projeto Na Trilha da Democracia.
Com a assertiva de que a cumplicidade do setor jurídico brasileiro com o golpe é óbvia, Emir iniciou sua exposição imediatamente após a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (7), em manter o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado, mas não na linha sucessória da presidência da República.
“O STF que correu para salvar Renan nem sequer se reuniu para considerar se a decisão mais grave do parlamento brasileiro tinha apoio constitucional ou não”, pontuou, referindo-se ao processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff.
Ao falar sobre as razões que caracterizam o processo de impeachment como golpe, alertou os presentes sobre a tentativa de recolocar o país numa forma estreita, amoldá-lo às dimensões do mercado financeiro. “Este ano vimos terminar o mais importante período político da história brasileira, iniciado em 2003, com um golpe que pretende desfazer o Brasil literalmente, desmontando o Estado e os patrimônios mais importantes, a começar pela Petrobras”, afirmou Sader.
Para ele, o governo ilegítimo de Temer, eleito e reeleito como vice-presidente com um programa, aplica o programa neoliberal dos anos 80 e 90 derrotado sucessivamente nas quatro últimas eleições, apresentando um “diagnóstico que demoniza o Estado, os trabalhadores, as políticas sociais, os direitos das pessoas”.
“O pânico das manifestações por parte do governo golpista vem da demonstração do desafio ao medo que se quer impor ao povo. Gostariam que, com o passar do tempo, a rejeição de Temer diminuísse e os brasileiros aceitassem a situação de fato do golpe. Mas, conforme se anunciam as dimensões das medidas impopulares do governo, a rejeição a Temer aumenta, o próprio desgaste nas filas do golpismo aumenta, tramas contra a continuidade se intensificam e a unidade interna, indispensável para colocar em prática o programa antipopular, revela dissensões”, avaliou Sader.
Para o professor, o único compromisso do governo golpista e sua equipe econômica é com o ajuste. “Um dos objetivos centrais do golpe é restabelecer, segundo seus critérios, as condições para a retomada de um ciclo de investimento na economia e a retomada do seu crescimento. O poder central de Henrique Meirelles no governo golpista serve para dar garantias ao empresariado de que seus interesses serão zelados antes do que qualquer outro”.
Sader avalia que toda essa operação midiática, judicial e policial, “de caráter totalitário e manipulatório”, realizada contra o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores, visa é esconder a destruição do Brasil como país e sua redução às estreitas margens do mercado, e requer destruir a imagem de quem representa, melhor que qualquer outro, a esse país. “Nunca houve tantas suspeitas sem comprovação, convicções sem provas, campanhas diárias de tentativas de redução do maior líder da história política do país”, lembrou.
Para ele, todos estes episódios “servem para desviar a atenção dos maiores crimes que se cometem contra o Brasil, contra o patrimônio público, contra as políticas sociais, contra os direitos dos trabalhadores, contra a soberania do Brasil como país”.
Sader falou também sobre a mais recente obra lançada sob a sua responsabilidade, “O Brasil que Queremos”. O livro reúne uma série de ensaios de intelectuais e acadêmicos brasileiros de 19 autores, apontando seus pontos de vista sobre o futuro do país. Ao final da exposição, Emir Sader respondeu algumas das perguntas encaminhadas à mesa e fez uma sessão de autógrafos. Os livros comercializados no local tiveram as vendas esgotadas.