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Publicado em 16 de novembro de 2017 às 15h08min
Tag(s): UFRN
O fato de uma instituição privada realizar um evento no campus da UFRN e convocar a Polícia Militar para garantir a segurança do público sem o consentimento da administração da universidade foi o que mais chocou a reitora Ângela Paiva no episódio envolvendo a exibição do documentário “Jardim das Aflições”, de Josias Teófilo, sobre a vida e o pensamento do filósofo Olavo de Carvalho. O evento ocorreu terça-feira, no auditório do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN, convocado pelo Instituto Filipe Camarão, entidade de extrema-direta fundada em 2017. A PM foi enviada ao local após solicitação da Corregedoria da Polícia Federal e nenhuma das duas instituições comunicou o fato à Reitoria. A exibição do filme ocorreu sem qualquer incidente.
Em entrevista à agência Saiba Mais na manhã desta quinta-feira (16), no gabinete da Reitoria, Ângela Paiva classificou como “gravíssimo” o fato, que mereceu uma nota pública assinada em conjunto pela reitora e mais 28 diretores de Centro destacando que a autonomia universitária foi ferida no episódio.
Questionada se pediria uma a resposta pública da Polícia Federal sobre a polêmica, a reitora afirmou que iria se reunir ainda nesta quinta-feira com o superintendente da PF e representantes do Ministério Público Federal, e esperava chegar a um entendimento.
Durante a entrevista, Ângela Paiva ressaltou diversas vezes que a universidade tem constante diálogo com a Polícia Federal e Militar.
– O que nos choca nesse evento é ter uma pessoa ou entidade externa a UFRN ter chamado a polícia para um evento dentro da UFRN. Esse é o nosso estranhamento. Temos dialogado sempre com a Polícia Militar porque precisamos do complemento dela em casos de assalto, furto, de algum crime. Até porque há locais onde não podemos atuar como o anel viária, a via costeiro, os campi do interior… mas há um diálogo. Da forma como ocorreu, sem o nosso consentimento, não houve diálogo.
Ainda de acordo com a reitora, a UFRN não mantém nenhuma relação oficial com o Instituto Filipe Camarão. Mas admite que, mesmo sem aparecer publicamente nos documentos da universidade, o Instituto está por trás dos eventos organizados a partir de projetos de extensão aprovados por professores da UFRN, como foi o caso da exibição de “Jardim das Aflições”, sob a responsabilidade do professor do curso de Geografia Eduardo Silvestre.
– Sabemos da participação do Instituto Filipe Camarão, que não aparece nos nossos projetos. Mas não somos uma ilha, nos relacionamentos e uma universidade é uma parte da sociedade. Portanto, toda pluralidade e diversidade de pensamento que existe na sociedade, existe aqui também. O que é muito estranho e indesejável é que não tenhamos nenhum conhecimento prévio sobre a presença da Polícia Militar.
Os projetos de extensão são elaborados pelos professores de cada Departamento e, em seguida, submetidos às regras de editais públicos cuja avaliação é feita por uma comissão. O curioso é que no caso dos projetos de extensão envolvendo tanto a exibição de “Jardim das Aflições”, como o debate com a psicóloga Marisa Lobo, defensora da “Cura Gay” e da “Escola Sem Partido”, marcada para 7 de dezembro, o Instituto não é mencionado nos projetos, embora tanto o evento de terça-feira passada como o de dezembro venham sendo convocados pela entidade presidida por Jaufram Siqueira, ex-candidato a vereador em 2016 pelo PMN e que ganhou notoriedade nacional ao sugerir queimar feministas caso fosse eleito.
– Consultei a pro-reitoria de extensão e não havia nenhuma menção nos projetos de parceria, complementação, apoio ou organização desses eventos junto com o Instituto Filipe Camarão. Os professores submeteram seus projetos e foram aprovados pelos avaliadores, inclusive avaliadores adoc, que olham os critérios do edital e aprovam com base no mérito acadêmico aquilo que foi proposto.
Marisa Lobo receberá R$ 3 mil da UFRN
Marcado para 7 de dezembro, o debate com a psicóloga Maria Lobo, parceira do Movimento Brasil Livre (MBL) e defensora da “cura gay” e do movimento “Escola sem Partido” é o próximo evento promovido na UFRN em parceria com Instituto Filipe Camarão. A psicóloga vem como palestrante do I Ciclo sobre Estudos sobre o Corpo humano – filosofia e sociedade para falar sobre “Corpo Humano e a Identidade de Gênero”. O evento, coordenado pelo professor Breno Abreu, foi aprovado como projeto de extensão e pagará R$ 3 mil à Marisa Lobo.
De acordo com a reitora Ângela Paiva, o presidente do Instituto Filipe Camarão Jaufram Siqueira acionou novamente a Polícia Federal para garantir a segurança do evento. Dessa vez, porém, a mandatária da UFRN foi avisada com antecedência.
Embora a palestra de Marisa Lobo esteja marcado para o auditório das Aves, no Centro de Biociências da UFRN, a reitora afirma que a confirmação do local ainda depende do diagnóstico que a guarda patrimonial da UFRN está elaborando sobre os possíveis riscos do local.
– Recebi via Ouvidoria um pedido do professor para garantir a segurança. Eu e o direto do Centro de Biomédicas, junto com a segurança patrimonial, estamos avaliando. O diagnóstico ainda não chegou a mim, mas vamos avaliar. Mas tudo indica que se houver uma grande multidão em que ultrapasse 100 pessoas, vamos recomendar que o professor pense outro local, dentro ou fora da universidade, desde que o evento possa receber as pessoas com tranquilidade.
A reitora Ângela Paiva também falou sobre o arquivamento pelo Ministério Público Federal da acusação de doutrinação ideológica movida pelo pai de um aluno contra o Núcleo de Educação da Infância, mantido pela UFRN. A ação foi embasado pelo deputado federal Rogério Marinho (PSDB). O procurador da República Victor Manoel Martins não identificou crime algum e, após solicitar algumas recomendações à escola, arquivou o processo. Segundo Ângela Paiva, não houve mais registros de ações semelhantes embasadas dos preceitos e preconceitos do movimento Escola sem Partido:
– Esse assunto foi completamente resolvido e o processo arquivado. (O Escola sem Partido) é um projeto que preocupa porque negar ideologia é negar o pensamento. Professor pensa e aluno pensa. É um projeto sem futuro e portanto sem condições de ter apoio das universidades.
Fonte: Saiba Mais