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Publicado em 03 de abril de 2018 às 10h09min
Tag(s): Ciência e Tecnologia
“Precisamos ter uma formação mais condizente com a necessidade que a escola tem. Muitas vezes, as universidades não valorizam tanto a licenciatura como deveriam, que é onde se forma o professor da educação básica”. Para o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, um dos desafios para melhorar a ciência no Brasil é focar na educação básica e, para isso, é necessário um protagonismo das universidades neste processo. A crítica foi um dos pontos abordados pelo professor carioca no Ciclo de Debates Universidade do Futuro, realizado na última terça-feira, dia 27, no Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (ILEA) da UFRGS, em parceria com a Adufrgs-Sindical.
Abordando a “A Crise da Ciência Brasileira”, Ildeu apontou os desafios que a comunidade científica tem pela frente para reverter o delicado quadro de enxugamento de recursos destinados à área. Ele foi contundente em afirmar que os cientistas brasileiros precisam fazer um trabalho de resistência quase que cotidiano para garantir os recursos para C&T. “Se a gente não fizer, ninguém vai fazer por nós”, enfatizou. Como medida emergencial, o presidente da SBPC conclamou que é preciso pressionar o governo e o Congresso para que os R$ 500 milhões que foram contingenciados, em fevereiro, sejam repostos imediatamente no orçamento deste ano. “Esses R$ 500 milhões significam três editais universais do CNPq, que é um edital fundamental para alimentar os jovens pesquisadores de todas as áreas”, afirmou.
Não é novidade que o orçamento destinado à C&T vem regredindo, ano após ano, desde 2015. O cenário para 2018 é ainda mais catastrófico. O recurso previsto para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) apontava apenas R$ 2,7 bilhões. Após pressão das entidades científicas, esse valor aumentou para R$ 4,6 bilhões. Porém, desse montante, houve um contingenciamento de R$ 500 milhões, passando para R$ 4,1 bilhões. Ildeu criticou duramente o atual governo pelas políticas de contingenciamento adotadas na área de Ciência e Tecnologia. Segundo ele, em nenhuma das 50 páginas do documento Ponte para o Futuro, colocado como referência econômica para o governo Temer, a palavra ciência é citada. “Uma ponte para o futuro sem ciência? Seria mais adequado utilizar: uma pinguela para o passado”, ironizou. Atualmente, apenas 1.1% do PIB brasileiro é investido na área de C&T. Para comparar, a Alemanha investe seis vezes mais que o Brasil. “Com esse percentual é muito difícil o país competir em escala internacional, ainda mais hoje que a ciência e a tecnologia permeiam todas as relações econômicas”, disse.
Revogação da Emenda Constitucional é vital para a sobrevivência da C&T
Moreira disse ainda que o congelamento por 20 anos dos gastos na área da Ciência e Tecnologia, com a aprovação da Emenda Constitucional 95, é um desastre para o país. E voltou a comparar a situação brasileira com a de outros países: “A China, por exemplo, criou um superministério da Ciência e da Tecnologia na última semana, enquanto nós fundimos o nosso com o ministério das Comunicações. Isso é um indicativo de como o mundo está olhando. Nós estamos olhando para trás”, lamentou.
Na sua apresentação, o presidente da SBPC citou exemplos de como os investimentos em pesquisas dão retorno para o país. Os estudos das universidades públicas e da Embrapa que potencializaram a produção de soja, gerando riqueza de R$ 15 bilhões/ano, foi mencionado pelo professor carioca. Em outro exemplo, Ildeu lembrou que o Pré-Sal só foi descoberto graças ao investimento científico nas pesquisas da Petrobras. Hoje, essa exploração é responsável por 47% da produção de petróleo, gerando um incremento de R$ 60 bilhões de reais/ano na economia.
Na palestra, o professor Ildeu de Castro Moreira também destacou a evolução do programa de Pós-Graduação no Brasil. Entre 2013 e 2016, o país avançou de 3.337 para 4.175 programas. Mesmo assim, ele alerta para a deficiência nos números da região norte do país, onde apenas cinco cursos apresentam padrão de excelência. Em toda a Amazônia, por exemplo, só existe um curso de doutorado com boa qualificação em Botânica. “Seria fundamental ter mais opções para desenvolver uma região imensa que tem uma das maiores biodiversidades do mundo”. De acordo com o Ildeu, a Capes deveria induzir a criação de cursos que fossem de interesse do país. “Esse é o tipo de coisa que devemos pensar na pós-graduação brasileira, para que ela possa responder as demandas da sociedade brasileira. Não pode ficar apenas no sentido de cumprir aquilo que a academia está cobrando. É preciso ter políticas orientadoras nacionais que definam áreas que deveriam ser incentivadas”, afirmou.
Fonte: Assessoria de Comunicação - ADUFRGS-Sindical