Jessé Souza: “O conhecimento é a maior força produtiva do capitalismo”

Publicado em 07 de dezembro de 2018 às 19h47min

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Com o auditório do Núcleo de Pesquisas em Ciências Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte absolutamente lotado, o sociólogo Jessé Souza fez o lançamento nesta sexta-feira, 07, de seu mais novo livro, "A Classe Média no Espelho".

Para uma plateia de estudantes, docentes, servidores da UFRN e diversas outras categorias profissionais, Souza confrontou o pensamento político, social e econômico hegemônico no Brasil ao discutir alguns dos aspectos centrais desenvolvidos em sua mais recente obra, cujo o objetivo é compreender essa classe social fundamental e desvelar sua história, sua diferenciação e hierarquia interna nos últimos cem anos de história brasileira.

Ao abrir a quinta edição do Projeto Diálogos, uma realização do ADURN-Sindicato e da Cooperativa Cultural da UFRN, Jessé afirmou ser uma imbecilidade elogiar a Lava Jato, que conceituou como núcleo da mentira, que está empobrecendo e assaltando o país.

“Se você compara a merreca que a Lava-Jato diz ter recuperado para os cofres públicos com o que realmente se rouba no mercado, é ridículo. Cinco anos passando um scanner na corrupção da Petrobras e você recupera menos do que a empresa pagou de multa para os americanos. As isenções fiscais para latifundiários somam dezenas de bilhões todos os anos. Para os bancos ainda mais. Sem contar a dívida pública, Selic etc. A corrupção feita pela elite de proprietários, pelo agronegócio e pelos bancos e grandes empresas é mil vezes maior, é um milhão de vezes maior do que o roubo do aviãozinho do tráfico, que é como eu chamo o roubo do político”, ressaltou Jessé.

Ao conceituar classe social, Jessé afirmou ser a classe média a classe do privilégio. Mas qual é o privilégio da classe média? “O capitalismo tem dois grandes capitais. O dinheiro, obviamente, o capital econômico. E o conhecimento. Não tem nada no capitalismo que se faça sem conhecimento, tão importante como o dinheiro. O conhecimento é a maior força produtiva do capitalismo. A produtividade do capitalismo depende do conhecimento, da ciência, da tecnologia. Para exercer qualquer função no Estado ou no mercado você precisa ter conhecimento incorporado”, explica.

Para ele, o que explicita a gênese da desigualdade é a reprodução de privilégios, desde a família. “A reprodução de privilégios que é feita na classe alta, ou seja, na elite de proprietários, é a reprodução da sua propriedade por amizades, casamentos e relações pessoais. Na classe média você reproduz outro privilégio, que é o conhecimento valorizado, mais invisível que o dinheiro, o qual exige disciplina, capacidade de concentração e pensamento abstrato, que são pré-condições recebidas pelo indivíduo da classe média. É o que as classes populares não têm. Para ter o conhecimento valorizado você precisa também que seu pai tenha algum dinheiro para pagar um colégio bom e para você não precisar trabalhar. Entre nós, as classes populares começam a trabalhar com 12 ou 13 anos”, argumentou.

Jessé destaca que ao tornar a reprodução de privilégios invisível, a pseudociência liberal passa a ser manipuladora, pois inverte causa e efeito, e legitima privilégios injustos como se fossem “mérito individual”, podendo, inclusive, culpar as vítimas do abandono por sua própria exclusão.

O livro é resultado de uma pesquisa empírica e teórica realizada entre 2015 e 2018, combinando a análise histórica e teórica das transformações classe média com o resultado de centenas de entrevistas empíricas realizadas com pessoas de todas as frações dessa classe social fundamental. 

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