Vítimas da ditadura rompem silêncio e denunciam golpe de 1964 defendido pelo governo Bolsonaro

Publicado em 31 de março de 2020 às 10h42min

Tag(s): DItadura Militar



Por Jana Sá para Agência Saiba Mais

Vítimas da ditadura militar e familiares de mortos e desaparecidos não aceitam que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) comemore o golpe de 1964 e realizam mais de 24 horas de ações pela internet. Impossibilitado de marchar nas ruas devido às medidas de distanciamento recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o movimento Vozes do Silêncio programou uma vigília nas redes para esta terça-feira (31) e quarta, 1º de abril.

Para evitar aglomerações e a disseminação da Covid 19, o grupo realizará um “twittaço”, a partir das 14h, e pede que sejam colocados símbolos de resistência e memória nas janelas. A manifestação é estimulada pelas declarações do presidente e seus ministros favoráveis a celebrações ao golpe.

O Ministério da Defesa, por exemplo, afirmou em nota, divulgada nesta segunda-feira (30), que 1964 foi “um marco na democracia”, ainda que o regime instaurado naquele ano tenha significado cassações de opositores políticos, exílio, prisões, tortura, censura e desaparecimentos forçados, muitos não esclarecidos até hoje.

A nota é assinada pelos ministros da Defesa e das Forças Armadas – que nunca reconheceram sua responsabilidade institucional pelo golpe, contrariando uma das recomendações da Comissão Nacional da Verdade, em seu relatório final.

Vozes do Silêncio

Surgido como resposta às milhares de vozes que ecoaram nas Caminhadas do Silêncio realizadas em 2019 em todo o país, o movimento faz a luta por memória, verdade e justiça para que não se repitam as violações de direitos humanos cometidas durante o período ditatorial.

O golpe militar que depôs o então presidente João Goulart ocorreu em 31 de março de 1964. Após o ato, iniciou-se uma ditadura que durou 21 anos. No período, não houve eleição direta para presidente. O Congresso Nacional chegou a ser fechado, mandatos foram cassados e houve censura à imprensa.

Relatório da Comissão da Verdade aponta que, em duas décadas, pelo menos 377 pessoas foram responsáveis, diretas ou indiretas, pela prática de assassinatos de 434 opositores ao regime. Entre 30 e 50 mil pessoas foram presas e torturadas. Uma média de 536 sindicatos sofreram intervenções. Sem contabilizar os assassinatos políticos, ainda não esclarecidos, cometidos após o período de abertura democrática no país.

Rio Grande do Norte

Um desses casos é do potiguar Glênio Sá. Um dos sobreviventes à Guerrilha do Araguaia, Glênio morreu em 26 de julho de 1990, num suposto acidente automobilístico quando voltava para casa depois de uma agenda de campanha ao Senado pelo PCdoB. Documentos oficiais de órgãos militares e da Abin atestam que ele foi perseguido pelos militares pelo menos 10 anos depois da promulgação da Lei de Anistia. No livro “Memórias de uma guerra suja”, o ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra, afirma que os militares forjaram um acidente automobilístico no interior do Nordeste, no início dos anos 1990, no qual morreu um político que lutou contra o antigo regime. A família luta até hoje para tirar a limpo essa história.

Entre os mortos e desaparecidos durante a ditadura já reconhecidos pelo Estado brasileiro, é sempre importante lembrar que o sangue do Rio Grande do Norte também foi derramado pelas vias da tortura e dos assassinatos de militantes como Luiz Ignácio Maranhão Filho, Virgílio Gomes da Silva, Emmanuel Bezerra dos Santos, Anatália de Souza Alves Melo, Hiram de Lima Pereira, entre outros, todos com seus respectivos nomes cravados na memória de um período de terror da história brasileira que o governo atual insiste em menosprezar.

Programação

Das 18h às 20h, haverá um “web-seminário”, com transmissão pelas páginas do movimento Vozes do Silêncio e da TV GGN, entre outras, com moderação do jornalista Luis Nassif e da procuradora da República Eugênia Gonzaga, ex-presidenta da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, destituída no ano passado por Bolsonaro. Depois, das 20h30 às 21h, está programado um “barulhaço” nas janelas, seguido de novo “twittaço” contra a ditadura.

A programação segue com entrevistas e show, das 21h30 às 22h. A partir desse horário, será exibido o filme O Dia que Durou 21 anos, dirigido por Camilo Tavares, que mostra a participação norte-americana nas origens do golpe.

Mais informações sobre as atividades podem ser nas redes e também pelo site https://vozesdosilencio.com.

ADURN Sindicato
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