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ADURN-Sindicato
Publicado em 15 de abril de 2020 às 19h33min
Tag(s): Cultura
Tachados de radicais, xingados, ofendidos, atacados e por vezes até acusados de só olhar para a própria categoria que representam, pelo menos três sindicatos no Rio Grande do Norte vêm mostrando que a solidariedade, mais do que uma ação pontual, é um compromisso inerente à classe trabalhadora.
Em meio à pandemia que já matou quase 130 mil pessoas pelo mundo, mais de 1,6 mil no Brasil e 19 no Estado potiguar, o Sinsenat, o Adurn-Sindicato e o Sindicato dos Bancários decidiram investir a receita própria das entidades em ações que vêm ajudando a amenizar a situação de segmentos que já eram vulneráveis antes da pandemia ou que passaram a enfrentar uma situação de vulnerabilidade num grau inédito em meio a uma das maiores crises sanitárias da história do planeta.
Marginalizados pelo poder público e também pela sociedade, a população em situação de rua de Natal é um exemplo. O movimento PopRua lançou uma campanha de arrecadação de alimentos e material de higiene pessoal durante a crise, mas desde 2017 encontra amparo de fato no Sindicato dos servidores públicos municipais de Natal.
A coordenadora-geral do Sinsenat Soraya Godeiro conta que somente a entidade já repassou R$ 3 mil ao PopRua e, a depender das próximas semanas, pode seguir contribuindo. Segundo ela, a base dessa ação solidária está na justiça social:
– O Sinsenat entende que a luta pela melhoria das condições de vida da classe trabalhadora está além das lutas corporativistas, por salários e condições de trabalho dignas. Lutamos por justiça social e a solidariedade é fundamental para que sigamos em unidade na luta por uma sociedade igualitária. Por isso o Sinsenat é parceiro dos movimentos sociais, um deles o Movimento Nacional População de Rua/RN”, destacou.
O apoio, nesse caso, não é circunstancial. Pelo menos uma vez por semana, o Sinsenat abre as portas do Sindicato para que o movimento PopRua se reúna para debater demandas e traçar estratégias de atuação na cidade.
“Decidimos apoiar o PopRua por ser o movimento que integra as pessoas com maior vulnerabilidade social”, ressalta a sindicalista.
Vanílson Torres é coordenador do Movimento Nacional de População em Situação de Rua no Rio Grande do Norte. Para ele, a radicalidade faz parte da luta. E o apoio que o PopRua tem recebido do Sinsenat vai além do estado de pandemia:
– Não podemos ser mansos quando estamos enfrentando leões ferozes e selvagens. A radicalidade faz parte da luta. Desde 2017, o Sinsenat apoia a população em situação de rua nas questões gerais e também na cessão do espaço para nossas reuniões. Quando há atividades de mobilização em frente à Prefeitura, o Sindicato oferece feijoada e alimenta as pessoas em situação de rua, alguns que não são do movimento, mas moram no Centro também. Soraya Godeiro, junto com a diretoria, tem dado um apoio muito grande ao movimento nacional e local”, disse.
Como não há um censo oficial realizado pelo poder público para saber o contingente de pessoas moram nas ruas de Natal, Vanílson usa como base o número de 1.200 pessoas que passaram por uma triagem no PopRua em 2019, mas sabe que a quantidade é bem maior. Ele acredita, no entanto, que se não houver políticas públicas voltadas para o segmento, esse contingente deve triplicar ou até quadruplicar depois que a pandemia passar:
– A fome está rondando as casas, o empresariado não vai segurar esse prejuízo. O Governo Federal está liberando R$ 600, mas esse dinheiro não dá pra garantir sua sobrevivência. Os empresários vão demitir muita gente e as pessoas não vão pagar suas contas”, desabafa.
Se o dia-a-dia da população em situação de rua é de dificuldades e desafios, os artistas que sempre andaram na corda bamba para equilibrar as contas no final do mês com apoio do público e casas de espetáculo se viram sem nada do dia para a noite. Com a plateia cumprindo isolamento social e os espaços de cultura – públicos e privados – fechados, sobrou a internet.
E foi justamente inspirado no boom de lives mundo afora pelas redes sociais que o Adurn-Sindicato, entidade que representa os professores da UFRN, idealizou o projeto “Arte Potiguar em Casa”, voltado para artistas potiguares de vários segmentos. Garantindo um cachê simbólico de R$ 400, a ação acontece duas vezes por semana, às segundas e quartas-feiras, às 10h, com transmissão ao vivo pela página do Facebook do Adurn-Sindicato.
Já se apresentaram Pedro Mendes, Ananda Krishna, Clara Pinheiro e Rodrigo Bico. Para as próximas edições estão confirmadas a cantora Didé Rodrigues e a contadora de histórias Cláudia Borges.
A formula é simples: o artista se apresenta de casa e o público, também em casa, assiste, valoriza a prata da casa e estimula outras entidades a fazerem o mesmo. Questionado sobre a iniciativa, o coordenador-geral do Adurn-Sindicato Wellington Duarte fala em “suavizar” o cotidiano:
“O Sindicato considera importante, num cenário de indefinições e ansiedades, contribuir com a cena artística e cultural, pois entendemos a necessidade de ajudar um conjunto de pessoas a suavizar nosso pesado cotidiano de lutas. As ações do Sindicato mostram que estamos permanentemente mobilizados, uma exigência do momento“, frisa.
Os bancários escolheram os usuários do SUS como população a ser beneficiada com recursos dos trabalhadores sindicalizados. A ideia partiu da própria base da categoria e foi logo abraçada pela diretoria do Sindicato. Com a projeção de que o sistema público de saúde do país entre em colapso nas próximas semanas, iniciou-se no Brasil uma corrida por respiradores, equipamento fundamental instalado nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
O Sindicato comprou o primeiro equipamento por R$ 52 mil com recursos próprios e entregou, em 23 de março, ao Governo do Estado. A expectativa era de que, através de uma campanha incentivada pelos próprios funcionários de bancos públicos e privados do RN, fosse possível bancar novas unidades. A primeira barreira foi imposta pelo mercado capitalista: os preços dos respiradores dispararam.
– Nos disseram que não tinha pra vender mais em lugar nenhum do Brasil. Juntamos nós do Sindicato dos bancários, o Sinai e a Conlutas e decidimos comprar cinco respiradores. Um hospital privado de Natal apareceu dizendo que tinha, mas quando o equipamento veio não era respirador, mas um ventilador que custava no mercado R$ 11 mil e o cara queria vender por R$ 46 mil. Aí, claro, desistimos”, lembra o diretor de Comunicação do Seeb Marcos Tinôco.
Como os bancários continuavam doando recursos para a campanha de respiradores, o Sindicato foi até a secretaria de Estado de Saúde Pública perguntar quais eram as necessidades. A equipe da Sesap explicou que o Governo precisava dos kits com seis itens, entre eles tubo e um filtro, que compunham os respiradores de UTI. Com as doações da categoria, a entidade adquiriu 42 kits por R$ 76 mil. O material foi entregue dia 14 de abril na Escola de Governo à equipe da Sesap.
Indagado se iniciativas como a dos bancários, do Sinsenat e da Adurn fazem uma parcela da sociedade refletir e reconhecer a importância das entidades sindicais na luta em defensa da democracia e dos direitos dos trabalhadores, Tinôco acredita que não:
– Quem ofende, quem xinga, quem ataca dessa forma é aquela parcela dos 30% que votou no Bolsonaro. São bolsonaristas e nada do que a gente fizer vai mudar a cabeça reacionária, nazista, machista e misógina dessas pessoas. Para essa gente o Sindicato é o cão porque defende os trabalhadores, só por isso. Eles nos odeiam e nós somos a mosca na sopa deles. Mas vamos continuar existindo e defendendo os direitos da classe trabalhadora”, concluiu.
Fonte: Saiba Mais