Deputados do Chile aprovam taxar grandes fortunas para fortalecer combate ao Covid-19

Publicado em 28 de maio de 2020 às 15h22min

Tag(s): América Latina Crise econômica



A Câmara dos Deputados do Chile aprovou um projeto de taxação das grandes fortunas – que atinge em cheio banqueiros, especuladores e a casta empresarial – para financiar uma nova renda mínima de emergência durante a pandemia da Covid-19. A proposta é cobrar de uma única vez 2,5% da nata dos recursos de 1% que concentra 22,6% da riqueza nacional.

“Por uma grande maioria, foi aprovado na Câmara de Deputados e Deputadas um projeto de acordo que solicita ao presidente Sebastián Piñera um Imposto aos Super Ricos de 2,5% para uma Renda Familiar de Emergência. A proposta é viável, agora o presidente deve responder”, tuitou Karol Cariola, do Partido Comunista do Chile, autora da iniciativa. Enquanto isso, a enfermidade já causou oficialmente mais de 800 mortes e 80 mil contagiados, números considerados expressivos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma população de 17,9 milhões de habitantes.

Na avaliação da deputada, o resultado de 85 votos a favor, 40 abstenções e apenas 19 contra reflete a compreensão do parlamento da gravidade do momento que está mergulhado o país, que tem se traduzido em cinco mil novos casos diários do novo coronavírus.

“Com uma arrecadação de cerca de US$ 6 bilhões é possível sustentar uma Renda Básica emergencial acima da linha de pobreza (US$ 520 ou 419.851 pesos chilenos para um grupo familiar de três pessoas) por seis meses, sem fazer distinção entre trabalhadores formais e informais”, defendeu Cariola, frisando que “isso beneficiaria quase 4.000.000 (quatro milhões!) de pessoas, certamente um grande alívio para as famílias que hoje estão angustiadas e precisam da ajuda de seus compatriotas”.

“Se o Estado foi usado para enriquecer pequenos grupos privilegiados próximos de Pinochet e desenhar com eles um novo mapa de extrema riqueza no Chile, por que não vamos usar o Estado, através de um imposto, para redistribuir essa riqueza?”, questionou Cariola.

Até o momento, cerca de 500 mil chilenos perderam seus empregos ou tiveram seus salários reduzidos. Sem perspectiva, as manifestações de rua têm sido cada vez mais frequentes e massivas, mesmo na periferia da capital, Santiago, que concentra 90% dos casos e onde a população está de quarentena.

Citando a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e o economista Thomas Piketty, Cariola lembrou ainda que na Europa, até se discute “um imposto sobre a riqueza líquida de 1% dos contribuintes mais ricos da União Europeia pelo período de 10 anos”. “No Chile, estamos falando de um imposto que chegaria a menos do 1% mais rico e apenas uma vez. Não há desculpas para se opor”, ressaltou.

O Panorama Social para a América Latina de 2019 da Cepal “relata o aumento da concentração da riqueza, e em consequência a forte expansão da desigualdade que afeta os países latino-americanos”.

Fonte: Diálogos do Sul

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