Em março, Brasil viverá pior momento da Covid, dizem médicos e secretários

Publicado em 03 de março de 2021 às 12h06min

Tag(s): Pandemia de coronavírus



O Brasil registra média de mortes por Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, acima de mil há 40 dias e o mês de fevereiro, apesar de ter só 28 dias, foi o 2º pior de toda a pandemia no país. Tem pacientes a espera de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em várias cidades - só em Santa Catarina, 220 pacientes estão na fila de espera - e o governo de Minas Gerais está transferindo pacientes para São Paulo por causa do colpaso na saúde do estado. Até agora, mais de 255.720 pessoas perderam a vida para a Covid-19 no Brasil e 10,5 milhões foram contaminadas desde o início da pandemia. 

E março pode ser ainda mais grave. A piora da pandemia no Brasil, com a explosão de casos, mortes e falta de leitos, vacinas e até medicamentos básicos vai transformar março ‘no mês mais triste das nossas vidas’, afirmou à BBC News Brasil a pneumologista Margareth Dalcolmo, professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Mais uma vez a médica alertou que o país precisa tomar medidas mais drásticas, com o fechamento de muitos serviços, para diminuir a circulação de pessoas e reduzir a transmissão viral, disse Margareth, que criticou as medidas de controle sanitário controversas e ineficientes e afirmou que a solução é a vacina.

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis, já havia feito o mesmo alerta. Em entrevista a CNN Brasil, ele disse que o mês de março pode ser não apenas o pior momento da pandemia, mas também o pior momento da história do Brasil e também recomendou lockdown.

Na mesma linha, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defende a adoção imediata do lockdown nas regiões com ocupação de leitos acima de 85%, medida rejeitada pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL).

Os secretários justificam o pedido afirmando, por meio de uma carta assinada pelos secretários das 27 unidades da federação, que o país vive “o pior momento da crise sanitária” provocada pelo vírus e pedem mais rigor nas medidas restritivas para evitar o colapso no sistema de saúde.

"O atual cenário da crise sanitária vivida pelo país agrava o estado de emergência nacional e exige medidas adequadas para sua superação. Assim, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde manifesta-se pela adoção imediata de medidas para evitar o iminente colapso nacional das redes pública e privada de saúde", diz trecho do texto divulgado pelos secretários, que reúne 27 gestores da área.

Entre as medidas recomendadas pelo Conass estão toque de recolher nacional, a suspensão das aulas presenciais e até mesmo um lockdown para frear o aumento de casos e mortes em todo o país.

No texto da carta, que é direcionado à "população brasileira", os secretários de Saúde fazem um alerta ao agravamento da pandemia de Covid-19 e falam ainda da ausência de coordenação nacional como um dos fatores para a queda na adesão a medidas de isolamento e pedem que haja um "pacto pela vida".

"Infelizmente, a baixa cobertura vacinal e a lentidão na oferta de vacinas ainda não permitem que esse quadro possa ser revertido em curto prazo", apontam os gestores no documento.

Outras medidas propostas pelo Conselho são a restrição à circulação mais rígida nas regiões com ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos; proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional; suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país; toque de recolher nacional a partir das 20h até às 6h da manhã e durante os finais de semana; fechamento das praias e bares.

Tudo lotado

A situação dramática já é registrada em vários estados do Brasil, o que evidencia uma sobrecarga nos hospitais devido ao agravamento da pandemia do novo coronavírus. Em mais da metade dos estados, a ocupação de leitos está entre 80% a 100%.

Desde o começo da pandemia, o Brasil repete uma sequência de erros da 1ª onda da doença. Nunca foi decretado, por exemplo, um lockdown, que é o bloqueio total de uma cidade ou região, imposta pelo estado ou pela Justiça, como aconteceu em países como Alemanha e Reino Unido.

Além disso, o Brasil nunca teve testes em massa, rastreamento de pessoas infectadas, que é essencial para identificar e isolar o máximo de pessoas contaminadas e saber quem pode ter entrado em contato com elas para que se possa quebrar a cadeia de transmissão. Esses sucessivos erros levaram o país a fracassar no combate à Covid-19, enquanto o mundo vive um recuo da doença.

Nesta segunda-feira (1), vários ex-ministros da saúde também recomendaram também lockdown no Brasil. Eles reconheceram o papel importante do SUS, condenaram as atitudes de Bolsonaro diante da pandemia e cobraram uma campanha nacional de vacinação.

Leitos acima de 80%

Em vários municípios brasileiros, leitos de enfermaria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estão lotados de pacientes com Covid-19. Não há mais vagas e os doentes não param de chegar.

De acordo com dados das secretarias estaduais de saúde, 17 estados têm ocupação em hospitais acima de 80%, um nível considerado crítico.

No estado de São Paulo, as novas internações por Covid-19 aumentaram 18,3% no na última semana em relação à semana anterior. A velocidade do aumento verificado nos últimos dias preocupa autoridades sanitárias, que temem colapso no sistema de saúde do estado.

Entre os dias 14 e 20 de fevereiro, em média foram 1.541 pacientes internados por dia no estado. Já na semana entre 21 de fevereiro e o último domingo (28), o valor saltou para 1.823 por dia.

Mais pacientes com quadros graves da doença estão sendo internados. A taxa geral de ocupação de leitos de UTI no estado subiu para 73,2% nesta segunda-feira, e para 74,3% na Grande São Paulo.

A situação se repete também no Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Santa Catarina fecham a lista. Todos registram filas à espera de um leito em UTI e estão com ocupação de leitos acima de 85%.

Fonte: CUT Brasil

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