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Publicado em 03 de março de 2021 às 12h30min
Tag(s): Pandemia de coronavírus
Pacientes que já se recuperaram da doença respiratória devem continuar em alerta, explica o médico Ronaldo Hallal
O Brasil registra mais de 9,5 milhões de pacientes recuperados da covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde. Embora muitos afirmem não se preocupar mais com o vírus por já terem contraído a doença, a recuperação não é garantia de proteção definitiva. É o que explica o médico infectologista Ronaldo Hallal.
"Não há uma garantia completa de imunidade. Especialmente com as novas variantes que estão circulando no mundo", diz o consultor da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI).
O infectologista cita o exemplo de Manaus, capital do Amazonas. Estudos publicados ano passado afirmavam que cerca de 60% da população manauara havia sido infectada, levantando a possibilidade da imunidade de rebanho.
Meses depois, com o relaxamento das medidas de prevenção e com o surgimento de uma nova variante no estado, o sistema de saúde local entrou em colapso e pacientes chegaram a morrer por falta de oxigênio.
"É preciso manter os cuidados até que tenhamos uma situação de controle, o que não há perspectiva de ocorrer", afirma o médico. O mesmo vale para aquelas pessoas que já foram vacinadas, seja com a primeira ou com as duas doses dos imunizantes.
Em entrevista ao programa Bem Viver, da rádio Brasil de Fato, o infectologista falou sobre os cuidados que os pacientes recuperados da covid-19 devem tomar em nível individual e coletivo.
Confira a entrevista na íntegra
Brasil de Fato - Quais são as orientações para os pacientes que se recuperaram da covid-19?
Ronaldo Hallal - O primeiro ponto é que a pandemia não terminou. Embora mensagens de governantes e alguns grupos sociais atuem como se não houvesse mais pandemia, é importante frisar que o vírus ainda circula em taxas muitos altas no país inteiro, em alguns locais mais do que em outros.
Temos ainda mais de mil mortes diárias. Uma taxa de transmissão bastante alta, o que estabelece o cenário de manutenção de patamares bem elevados, tanto no que diz respeito à mortalidade quanto de infecção da população.
Levará um tempo para que tenhamos uma alta cobertura vacinal. É possível que seja preciso de 60 a 70% da população imune para que tenhamos um impacto maior para desacelerar a expansão da pandemia.
Além dos casos de reinfecção, temos o aparecimento de variantes, e não se sabe ainda quais as características em relação a gravidade e como se dá a reinfecção da pessoa que já foi exposta ao vírus no passado. Por isso é importante que a população mantenha as práticas de prevenção e uso de máscaras.
Muitas vezes observamos nas ruas e em locais fechados as pessoas sem máscaras. É preciso se habituar com essa nova realidade do uso de máscaras, com as medidas de distanciamento social, de higienização das mãos.
"Não há uma garantia completa de imunidade. Especialmente com a questão das novas variantes que estão circulando no mundo"
Acredito que os governos deveriam se preocupar em fazer avançar o isolamento social, que retrocedeu nos últimos tempos. Pela necessidade de renda e, para alguns grupos, pela estafa de um período de grande isolamento domiciliar em 2020, há uma circulação muito grande de pessoas. Com isso, o vírus também circula.
Não tenho dúvida que seria preciso o país, os estados e municípios estabelecerem estratégias sincrônicas de redução da transmissão do vírus para então adotar novas medidas como, por exemplo, o retorno às atividades escolares.
Não é possível conviver com tamanha transmissão e tamanha mortalidade. Até porque a doença traz sequelas, um impacto sanitário, social e econômico bastante relevante.
Há um imaginário coletivo que acredita que pelo fato de uma pessoa já ter sido contaminada, está automaticamente imune ao vírus. O que diz a ciência sobre isso?
Não há uma garantia completa de imunidade. Especialmente com a questão das novas variantes que estão circulando no mundo. No Brasil, temos a variante inicialmente detectada em Manaus.
E nós não temos garantia que ocorrerá a imunidade. O caso de Manaus é um caso exemplar. Estudos realizados em 2020 mostraram que cerca de 60% da população já havia sido exposta, já tinha anticorpos contra o vírus. Alguns meses depois, agora em janeiro, tivemos uma situação de colapso no sistema de saúde.
A teoria da imunidade coletiva, popularmente conhecida como imunidade de rebanho, que já havia sido demonstrada na Suécia que não conseguia conter a expansão da pandemia, chegou a ser apresentada no Brasil. De maneira surpreendente, até, por alguns políticos.
Essa teoria só expôs a população ao sofrimento pela doença, ao risco de morte. É preciso manter os cuidados até que tenhamos uma situação de controle, o que não há perspectiva de ocorrer.
Os pacientes que já se recuperaram devem fazer algum tipo de acompanhamento após a infecção para monitorar possíveis sequelas?
Na verdade, o seguimento é necessário para as pessoas que tiveram manifestações mais importantes. Estudos mostram que cerca de 70% das pessoas que precisaram internar devido a covid-19 permaneceram com fadiga 2, 3 meses depois de curadas.
Permaneceram também com falta de ar e com comprometimento pulmonar durante um período longo. Além dos aspectos psicológicos, como depressão, pânico e outras situações do ponto de vista emocional.
O acompanhamento pós-covid é indicado para aqueles que tiveram manifestações mais graves e para aqueles que permanecem com algum tipo de sequela ou sintoma mais prolongado.
Apesar da doença ter evoluído de forma benigna na maioria das pessoas, não podemos desconsiderar que muitos jovens, e essa talvez seja uma característica do Brasil, se expõem à doença e também manifestam sua forma grave.
"Não temos perspectiva, nesse momento, de voltar aos hábitos que antecederam a pandemia"
Uma vez resolvido, e sem a permanência de sintomas, não se faz necessário um acompanhamento específico. Até porque milhões de pessoas foram infectadas e se projeta que, dada a subnotificação, tenhamos um número de 8 a 12 vezes maior em relação aos que foram notificados.
Qual a sequela mais comum entre as pessoas que já foram infectadas, para além da fadiga?
Alterações do olfato, do paladar. Alguns pacientes apresentam neuropatias como dor ou sensação de formigamento nas extremidades do corpo. Algumas pessoas podem desenvolver, na fase aguda da doença, que é sistêmica, alteração de coagulação, embolia pulmonar e todas as consequências disso.
Em outros casos, não os mais frequentes, pode ocorrer insuficiência cardíaca em decorrência do comprometimento do miocárdio. A pessoa pode sofrer com inchaço de pernas e falta de ar quando deita, especialmente.
Temos previsão de quando poderemos, de fato, relaxar em relação à pandemia e as preocupações com a contaminação?
Não há perspectiva de relaxamento das medidas de prevenção. Infelizmente, o governo federal não tomou as medidas de negociação para a cobertura vacinal oportuna do país.
Por essa razão, não temos uma previsão a curto prazo de se atingir coberturas vacinais mais expressivas. Não temos perspectiva, nesse momento, de voltar aos hábitos que antecederam a pandemia.
Essa perspectiva não está definida porque não há um planejamento claro e isso depende de vários outros fatores, como a disponibilidade de vacinas no mundo para abastecer todos os países.
Também depende dos países definirem isso como prioridade. O Brasil não fez isso até esse momento. Ao que parece, devido a pressões sociais, internacionais e eleitorais, [o governo] agora está tomando uma atitude mais ágil, mas perdemos muito nesse caminho.
Várias vacinas registradas se utilizam de metodologias novas, como é o caso dos imunizantes de RNA mensageiro, mas o governo não incorporou nenhuma delas.
Temos duas vacinas e a produção vai ser insuficiente para atingir a cobertura ideal em curto prazo. Algumas projeções sugerem que somente em 2022 teríamos alto nível de cobertura de vacinação populacional.
Não sabemos se as vacinas que estão e estarão disponíveis vão ser eficazes em relação às variantes. Especialmente a de Manaus. Ainda é incerto nosso futuro, muito por conta das lacunas e da incapacidade do governo federal de planejar e implantar as ações de prevenção e controle da pandemia.
Ainda que tenhamos alta cobertura [vacinal], isso não significa que possamos interromper as medidas de prevenção. É bem possível que o coronavírus tenha vindo pra ficar.
[É possível que], mesmo depois de uma imunização mais ampla, tenhamos um contexto de doença endêmica, a exemplo de outras doenças que não são mais epidemias, mas continuam circulando na sociedade.
Esse pequena parcela do população que já está sendo vacinada também deve continuar com os protocolos de prevenção?
Sim. A Coronavac, por exemplo, é muito eficiente para impactar a mortalidade: 100% de proteção contra morte, 78% de proteção contra as formas graves e moderadas, mas ela não evita as formas leves. E isso pode acarretar em transmissão, principalmente para as populações com mais riscos de desenvolver a doença grave.
Portanto, tanto para cuidar da saúde daquele que foi imunizado, como para cuidar da saúde das outras pessoas, é necessário que elas sigam utilizando os protocolos de prevenção.
Além das vacinas não possibilitarem isso, também seria uma atitude completamente egoísta de não olhar para o outro. Essa pandemia mostra que é preciso olhar para o coletivo. O comportamento individual tem uma repercussão coletiva e é preciso ter essa noção em relação à vacinação.
Edição: Poliana Dallabrida
Fonte: Brasil de Fato