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Publicado em 19 de março de 2021 às 12h49min
Tag(s): Educação Pandemia de coronavírus
A pedagoga e pesquisadora equatoriana Rosa María Torres vê uma contradição na agenda da volta às aulas durante a pandemia. Se por um lado a escola é reconhecida de maneira unânime como espaço de convivência, diversidade e combate às desigualdades, agora, mais do que nunca, precisa oferecer condições mínimas de segurança sanitária para a retomada.
“A vacinação de professores contra a Covid-19 em muitos países é uma condição para a reabertura de escolas. No entanto, a taxa de vacinação varia muito em todo o mundo e na América Latina. Pode levar muito tempo para que todos os professores sejam vacinados. Isso contradiz a urgência de retornar à sala de aula”, adverte.
Rosa María, que já foi ministra da educação e cultura no Equador, participou esta semana do seminário internacional Arte, Palavra e Leitura, realizado pelo Itaú Social e Sesc São Paulo, com curadoria da Comunidade Educativa CEDAC e do Instituto Emília. A pesquisadora participou da mesa “O valor da escola pública para além da pandemia”.
Em conversa com CartaCapital, a especialista falou sobre os problemas educacionais já existentes na educação, agravados pela pandemia, e que perduram para além da crise sanitária, essencialmente nos países da América Latina.
“A América Latina se concentrou nas últimas décadas na questão da qualidade da educação e negligenciou a questão da desigualdade, as grandes lacunas entre a educação urbana e rural, indígena e não indígena, pública e privada. Temos uma enorme dívida de inclusão e equidade em todos os nossos países”.
Confira a seguir.
CartaCapital: O Brasil vive o pior momento da pandemia, mas ainda oscilam as decisões de fechar ou não as escolas, sobretudo porque os profissionais de educação ainda não foram vacinados. Como a senhora vê esse debate?
Rosa María Torres: A vacinação de professores contra Covid-19 tem sido em muitos países mais uma condição para a reabertura de escolas. A Unesco e o Unicef têm defendido a inclusão de professores entre os grupos prioritários a serem vacinados. Isso foi aceito em muitos países. No entanto, a taxa de vacinação varia muito em todo o mundo e na América Latina. Tem países que estão começando a vacinação e andam muito devagar. Pode levar muito tempo para que todos os professores sejam vacinados. Isso contradiz a urgência de retornar à sala de aula.
CC: Como o Equador lidou com as escolas ao longo da pandemia? Acha que a política de condução com as escolas foi acertada?
RM: Acredito que o Equador tem lidado muito bem com a questão escolar em meio à pandemia, levando em consideração a complexidade do assunto e as condições objetivas e subjetivas para enfrentá-lo. O Ministério da Educação tem atuado no desenvolvimento de planos e opções em coordenação com organizações internacionais como Unicef, Unesco e OEI, entre outras. Fez um progresso significativo ao longo deste ano e mostrou grande flexibilidade na adaptação às condições em mudança e às lições aprendidas com a própria pandemia e com a experiência de outros países.
CC: Um relatório recente do Unicef mostra que a América Latina e o Caribe lideram a perda de ano escolar, por terem mantido por mais tempo as escolas fechadas. Ao mesmo tempo, é preciso considerar que a reabrí-las envolve vacinação, protocolos sanitários, investimento e intervenção. Como resolver essa equação?
RM: A situação se tornou muito problemática na América Latina, a região que há mais tempo mantém os alunos fora da sala de aula. Uma série de obstáculos impediu a reabertura de escolas, incluindo obstáculos políticos e sindicais dentro de cada país. Esta região é atravessada por um grande conflito político, econômico e social que antecede a pandemia e foi agravado por ela.
CC: No Brasil, especialistas apontam que o Ministério da Educação foi completamente ausente nas condução das estratégias educacionais, deixando as decisões a cargo dos estados e municípios. Qual o papel de um ministério da educação frente a uma pandemia?
RM: Um ministério da educação deve, obviamente, assumir um papel de liderança em uma situação tão crítica como esta, de uma perspectiva macro e nacional, em diálogo e consulta com governos locais e organizações da sociedade civil. Vários são os países da América Latina que vêm avançando nessa linha, em um processo de tentativa e erro contínuo. Estamos em uma situação sem precedentes e extremamente complexa; estamos todos aprendendo ou deveríamos estar aprendendo.
CC: O Brasil chegou a pautar a o fim da vinculação mínima para saúde e educação em nome de um ‘ajuste fiscal’ na chamada PEC do Auxílio Emergencial, o que depois foi revertido no Senado. No Equador, estudantes também manifestaram o ano passado em Quito contra um corte no orçamento do ensino público superior. Como a senhora vê as medidas como justificativa para enfrentar a crise do coronavírus?
RM: A pandemia encontrou países em diferentes situações econômicas. No Equador, a situação econômica já era muito crítica antes da pandemia e tinha raízes no governo anterior. O corte no orçamento educacional ocorreu dentro desse quadro.
O Equador tem uma relação complicada com o orçamento da educação: historicamente, a preocupação está voltada para o quanto, sem dar atenção à qualidade do gasto. Os protestos ocorrem por descumprimento de valores ou redução orçamentária, nunca ou raramente por uso indevido de recursos, não só por motivo de corrupção, mas também por prioridades equivocadas. Acredito, de maneira geral, que na América Latina há uma precária priorização de gastos e um mau uso de recursos na área educacional, em todos os níveis.
CC: O que a pandemia desnudou acerca dessas instituições e qual lição de casa fica para países como Brasil, Equador e demais da América Latina?
RM: Em nível global, a pandemia expôs os grandes problemas da educação e os agravou. A América Latina se concentrou nas últimas décadas na questão da qualidade da educação e negligenciou a questão da desigualdade, as grandes lacunas entre a educação urbana e rural, indígena e não indígena, pública e privada. Temos uma enorme dívida de inclusão e equidade em todos os nossos países. Não há qualidade possível, desde que essas situações não sejam revertidas. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 fala de educação inclusiva, equitativa e de qualidade e de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. A América Latina está muito longe do ODS4.
CC: Quais serão os impactos da pandemia e do fechamento das escolas essencialmente para as crianças em fase de alfabetização? Que tipo de demanda isso trará aos países no futuro?
RM: O impacto da pandemia é especialmente grande entre crianças pequenas, na primeira infância e nos primeiros anos de escolaridade. Aprender a ler e escrever nas condições exigidas pela pandemia é um desafio muito complexo que os pais tiveram de enfrentar plenamente, especialmente para os setores mais vulneráveis e esquecidos de nossas sociedades.
CC: Falando sobre eleições no Equador, a senhora é crítica ao governo do ex-presidente Rafael Correa, que é apontado como uma gestão que permitiu investimentos históricos na educação. Nas eleições, seu ex-ministro Andres Arauz aparece com alguma vantagem. Como a senhora vê esse cenário e quais são suas críticas ao ex-presidente?
RM: O Equador enfrenta uma polarização muito forte entre o ‘correísmo’ e o ‘anticorreísmo’ [referindo-se ao ex-presidente Rafael Correa (2007 e 2017]. Isso não corresponde a uma distinção entre esquerda e direita. Um importante setor da esquerda equatoriana é muito crítico em relação a Correa e se retirou do correísmo nos primeiros anos de governo. O movimento indígena travou um forte confronto com Correa e também se retirou. A chamada “década ganha” é considerada por muitos como uma década perdida.
Tenho criticado especialmente a política educacional do ‘correísmo’ e sua “revolução educacional”, bem como o autoritarismo, o machismo e o racismo de Rafael Correa, todos amplamente reconhecidos. [Andres] Aráuz foi escolhido por Correa para dar continuidade a sua década de governo. Antes de eleger, com o mesmo propósito, Lenin Moreno, que foi seu vice-presidente por seis anos. Ele espera que um jovem como Araúz ganhe e desta vez cumpra sua expectativa de retorno e continuidade.
CC: Enquanto ministra da educação, a senhora teve apoio do Movimento de unidade plurinacional Pachakutik. Nessas eleições, a senhora apoiará o líder indígena Yaku Perez? O que uma liderança indígena poderia trazer de novo à política do Equador, sobretudo à educação?
RM: Fui nomeada ministra da Educação pelo movimento Pachakutik em 2003. Na atual eleição, Yaku Pérez esteve muito perto de participar da votação, com um voto histórico para Pachakutik. Foi deixado de fora da briga, infelizmente. Teria sido uma opção muito interessante para o Equador, uma esquerda diferente, com um forte conteúdo ambientalista. A proposta educacional de Yaku, embora embrionária e inacabada, foi a proposta mais interessante e promissora entre as apresentadas pelos candidatos nessas eleições. A proposta de Aráuz é basicamente mais uma “revolução educacional” correista.
Fonte: Carta Capital