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Publicado em 08 de abril de 2021 às 13h51min
Tag(s): Pandemia de coronavírus
Compra de imunizantes por empresas, além de ampliar a desigualdade, pode resultar em uma nova onda de contaminações no futuro
São Paulo – O Projeto de Lei (PL) 948/2021, aprovado pela Câmara dos Deputados, que permite a compra de vacinas contra a covid-19 pela iniciativa privada para imunização de diretores e funcionários de empresas, faz parte de uma estratégia que pode favorecer ainda mais a propagação do vírus no Brasil. É o que alerta o imunologista, PHD e pesquisador da USP Gustavo Cabral, em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual.
De acordo com o especialista, a vacinação privada, além de ampliar a desigualdade, pode conservar o país na rota de uma “nova” pandemia no futuro, tão letal como a que vivemos hoje. A decisão tomada nesta terça-feira (6) em plenário, com 317 votos favoráveis, além de flexibilizar a compra de vacinas, também altera a norma sancionada no mês passado que obrigava a doação de 100% das doses ao Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto os grupos prioritários não fossem imunizados.
O texto vai agora ao Senado e, se aprovado, a obrigação de repasse ao SUS será reduzida a 50% das doses. Em um momento de escassez global de vacinas, a compra ficará ainda a cargo do Ministério da Saúde, uma vez que as farmacêuticas vêm negociando apenas com governos. O PL, por fim, ainda permite a compra de imunizantes sem registro e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Furar fila é favorecer nova pandemia
Na prática, segundo o imunologista, o projeto é a oficialização do “fura-fila” que coloca em segundo plano grupos prioritários e o enfrentamento da pandemia. Cabral chama atenção para o “problema enorme” que o texto cria ao permitir que um novo ciclo da covid-19 possa ter início no país. “Se as pessoas que têm condições de se vacinar furarem a fila antes de vacinarmos não só o grupo prioritário, mas os dois terços (da população brasileira), o que vai acontecer é que o número de mortes pode cair. Isso é bom, só que é aparentemente”, aponta.
“Porque quando cai o número de mortes por conta de as pessoas com mais condições (financeiras) terem sido vacinadas, isso camufla (a crise sanitária). As pessoas vão imaginar que a pandemia acabou, e não acabou, acabou para a classe mais favorecida. Mas a classe mais baixa vai continuar morrendo e sendo exposta. E enquanto as pessoas não olham, esse número de mortes vai se propagando ao longo do tempo, vão surgindo novas variantes, novas cepas que podem se tornar mais letais e voltaríamos à situação que estamos agora”, pontua. “Ou nós imaginamos que o controle e a vacinação é para todos, ou vamos dar essa ‘oportunidade’ ao vírus de matar muito mais pobres, favorecendo inicialmente quem tem dinheiro e, no futuro próximo, voltando a afetar a todos novamente”, explica.
Bolsonaro é um perigo ao mundo
Em editorial divulgado nesta segunda-feira (5), o jornal britânico The Guardian classificou o presidente Jair Bolsonaro como uma “ameaça para o Brasil e o mundo”. A crítica se referia à condução do governo diante da pandemia.
Ontem, por exemplo, pela primeira vez o Brasil bateu a marca de mais de quatro mil óbitos em apenas um dia. E a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta, em boletim publicado também nesta terça, que a taxa de letalidade entre os infectados teve um salto de 3,3% para 4,2% na última semana epidemiológica. Enquanto isso, o governo federal caminha a passos lentos com a imunização em massa, favorecendo o surgimento de variantes que podem colocar em risco a eficácia das vacinas no futuro.
Confira a entrevista
Redação: Clara Assunção
Fonte: Rede Brasil Atual