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Publicado em 19 de abril de 2021 às 11h50min
Tag(s): Cooperativa Cultural Encontros e Conversas
“Joga pedra na Geni! / Ela é feita pra apanhar! / Ela é boa de cuspir! / Ela dá pra qualquer um! / Maldita Geni!”. A canção “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque, chegou ao público em 1978. Passados mais de 40 anos, a comunidade trans e travesti ainda é vítima de preconceito. É para mostrar a força e a luta dessas mulheres que estreia, nesta sexta-feira (23), às 19h30, o curta-metragem “Sob as luzes dessa avenida”. O lançamento é mais uma parceria entre o Sindicato e a Cooperativa Cultural Universitária, e será transmitido através do nosso canal no Youtube.
O curta é dirigido por Doc Câmara e conta com a atriz Geisla Blanco no papel de uma transsexual que precisa se prostituir. “Vendo — ou melhor — alugo meu corpo porque preciso. Eu até estudei. Fiz o segundo grau completo, mas, ninguém quer dar oportunidade a uma travesti”, afirma a personagem em determinado momento da produção audiovisual.
Para Geisla, que assim como sua personagem também é trans, participar do curta-metragem teve uma grande importância: “de certa forma, pude expressar o meu trabalho e a resistência, a representatividade de mulheres trans na sociedade”.
Além de atuar, Blanco ajudou a construir o roteiro do monólogo. “Quando fui convidada a participar do projeto, José [Correia Torres Neto, roteirista] e Doc [diretor] foram super gentis e abertos a ‘interferências’ e sugestões. Então fui bem sincera; dei minha opinião e comentei que o texto necessitava de algumas mudanças em relação a determinados termos”, lembra. Assim, surgiu a ideia de a atriz participar mais ativamente da construção do roteiro, garantindo que o resultado não trouxesse algo caricato ou ofensivo. Geisla enfatiza que buscou “apenas aprimorar a ideia do autor, e não modificá-la”.
A atriz declara, ainda, que as gravações foram uma experiência bastante positiva. “Doc trouxe um olhar legal para cena e me deixou muito à vontade durante o trabalho”, afirma. Sendo a prostituição umas das únicas alternativas de sobrevivência para diversas mulheres, a história da personagem a tocou: “estou lutando diariamente para fugir da realidade imposta pela cisnormatividade, da subalternização dos nossos corpos, das nossas histórias e nossa existência”. Apesar de a sua vida ter tomado um rumo diferente do da prostituição, Geisla afirma ter “grande empatia pela história da personagem. Afinal, é uma mulher trans que assim como eu vive uma realidade dura e está tentando sobreviver a todo esse sistema.”
Agora, a atriz aguarda ansiosa para ver o resultado do seu trabalho disponível ao público: “minhas expectativas são as melhores; espero que quem assista reflita sobre o tema e repense seus privilégios dentro da sociedade”. Segundo ela, é necessário que a comunidade trans passe a ser valorizada pelo que é, que “passem a nos ver com outros olhos, sem preconceito”, conclui.
“Sob as luzes dessa avenida” é o segundo de três curtas realizados pela Editora Caravela Selo Cultural e que compõem o projeto “Monólogos”. Os materiais serão lançados semanalmente durante este mês de abril por meio do projeto de Extensão “Encontros e Conversas”, desenvolvido pela Cooperativa Cultural em parceria com o ADURN-Sindicato. O último lançamento será do curta-metragem “Máquina de Costura”, que vai ao ar no dia 30 de abril. Além dos monólogos, o “Encontros e Conversas” lançará, no dia 29 deste mês, a revista “Natal daqui a 50 anos”, adaptação para os quadrinhos da clássica obra de Manoel Dantas.
Ficha técnica
Sob as luzes dessa avenida - 16’31”
Concepção: José Correia Torres Neto
Roteiro: José Correia Torres Neto e Geisla Blanco
Direção: Doc Câmara
Atriz: Geisla Blanco
Realização: Caravela Selo Cultural
Patrocínio: Lei Aldir Blanc
Apoios: ADURN-Sindicato, Cooperativa Cultural Universitária, Jornal Saiba Mais, Espaço A3, Bicho Esquisito, Cintia da Hora