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ADURN-Sindicato
Publicado em 18 de junho de 2021 às 17h18min
Tag(s): Entrevista Posse
Nesta quinta-feira (17), o ADURN-Sindicato realizou a solenidade de posse da nova gestão que ficará à frente da entidade pelos próximos 3 anos. Para tanto, o Jornal da Educação conversou com o presidente eleito do ADURN, Oswaldo Negrão, sobre sua trajetória e as perspectivas da diretoria.
Na entrevista, o professor falou sobre o desafio de unir ainda mais a comunidade acadêmica. Para ele, o fundamental é “ter em vista que nós fazemos um trabalho que representa todo o coletivo da universidade”. O docente, assim como no discurso de posse, promoveu a defesa dos serviços públicos. “Oferecer o SUS de qualidade, oferecer a vacina, oferecer a universidade ou o ensino fundamental, é um dever do Estado e é um direito do cidadão, e essas questões precisam ser cada vez mais esclarecidas”.
Negrão ressaltou ainda o apoio do ADURN-Sindicato aos atos pelo Fora Bolsonaro que estão previstos para acontecer neste sábado. “Não tem como nós dizermos que são legítimas as posturas que o Governo Federal vem tomando diante da pandemia”, observou, destacando a “falta de planejamento, a falta de execução de ações, a demora na compra de vacinas e de insumos e agora a guerra à máscara que o presidente vem retomando”.
Sobre o retorno às aulas presenciais, o novo presidente afirmou que a decisão “não pode ser uma política isolada do conhecimento científico”. “Nós precisamos acreditar na ciência e nos especialistas que vão orientar o melhor momento para essa retomada”, disse.
A seguir, confira a entrevista completa:
Professor, inicialmente, fale um pouco sobre quem é o professor Oswaldo.
Então, eu sou professor aqui na UFRN desde 2009. Entrei no período do Reuni, aquele momento de grande crescimento e da chegada de novos cursos, inclusive aqui na UFRN. E aí teve um concurso para a minha área de formação, da Saúde Coletiva e com a vinda desse novo curso, teve um concurso bastante amplo. Na época eu morava em Recife, mas eu vim fazer o mestrado antes, de 1998 a 2000. E aí conheci o Nordeste, me encantei pela região, e em 2001 apareceu uma excelente oportunidade de emprego em Recife. Aí, eu fui pra Recife, passei oito anos e meio em Recife e depois, com o concurso, acabei vindo aqui pra UFRN, onde estou desde 2009.
E como se deu o seu interesse pelo movimento sindical?
A primeira vez que eu estive em algum tipo de movimento assim foi justamente nesse período em Recife, porque a Prefeitura fez um grande concurso para efetivação do Programa de Saúde da Família, que é uma forma de organização da atenção primária, e foram contratados mais de 1500 novos trabalhadores. E aí, nós acabamos nos organizando e criamos uma associação dos trabalhadores. Foi um princípio de um sindicato, não chegou a ser efetivado exatamente como um sindicato, mas nós começamos a estabelecer pautas, organizar o grupo de trabalhadores para reivindicar reajustes salariais. É, de certa forma, uma luta sindical. Essa foi a minha primeira experiência.
Como é que o senhor está enxergando a responsabilidade de estar à frente de uma entidade tão importante quanto o ADURN-Sindicato?
Sem dúvida, é um desafio enorme. Eu sempre tive essa perspectiva de contribuir com o coletivo, desde que eu fui convidado pela então presidente, professora Ângela, para compor um coletivo que ia participar do processo eleitoral. Mas eu estava terminando o meu doutorado, e cheguei de uma forma tímida no movimento sindical. Com o passar do tempo, aí sim, eu comecei compreender a dinâmica da representatividade, que eu acho que o fundamental é sempre a gente ter em vista que nós fazemos um trabalho que representa todo o coletivo da universidade. Então, o desafio maior é justamente ter no papel de cada um dos professores da UFRN, esse compromisso e essa responsabilidade de que eles se sintam, de fato, representados pela nossa gestão.
Qual será a sua prioridade à frente do ADURN-Sindicato?
Nós temos uma pauta que é nacional, imediata e necessária, que é justamente a proposta de Reforma Administrativa que está tramitando no Congresso Nacional nesse momento. É um ataque aos trabalhadores dos municípios, do Estado e da União, porque ela desconstrói, descaracteriza a organização do Estado brasileiro nesse sentido mais amplo. Então, é o carro chefe, é o principal desafio que a gente tem de imediato.
O ADURN ao longo dos anos vem estabelecendo parcerias importantes com a classe artística, apoiando eventos culturais, lançamentos de livros, o projeto Na Trilha da Democracia. Será dada continuidade a essas ações, professor?
Certamente. Eu acho que é uma das características que trouxe novos membros para o próprio sindicato, deu protagonismo para o ADURN-Sindicato dentro da comunidade cultural, e para a sociedade como um todo, para fora do próprio universo de professores da universidade. Então, a ideia é justamente nós expandirmos. Eu acho que a cultura está intrinsecamente relacionada com o fazer a educação e com o processo de conhecimento. Então a arte é a melhor forma de expressão que nós temos dentro do processo civilizatório da humanidade.
Professor, ao longo dos últimos anos, o ADURN-Sindicato vem priorizando a comunicação com os docentes, e o programa Jornal da Educação é um exemplo de algumas dessas ações. O senhor pretende intensificar esse diálogo através da comunicação com os docentes da UFRN?
Certamente. Nós precisamos demonstrar, esclarecer e divulgar para nossa comunidade as ações que são feitas para o sindicato no sindicato, mas também a gente necessita de um processo formativo. Então, eu acredito que nós temos outras ferramentas que ainda não foram utilizadas, por exemplo, como podcast, como possibilidades do bom uso que já vem sendo feito, como a divulgação das mídias sociais. Mas também estimular essa divulgação através de programas, através da mídia alternativa, que também é muito importante e necessária para que a gente tenha essa pluralidade da divulgação de informações e do conhecimento também.
Por ser um sindicato que representa os docentes da Universidade Federal, normalmente o ADURN-Sindicato é cobrado a se posicionar nas questões políticas do Estado, do país. O senhor pretende seguir essa mesma linha?
Necessariamente, quando nós falamos em políticas de Estado, às vezes as pessoas confundem política de estado com políticas partidárias, né? Eu acho que essa é uma questão que é primordial e fundamental. Nós falamos de educação pública, universal, gratuita, de qualidade, inclusiva e socialmente referenciada. Eu sempre busco o arcabouço jurídico e legal que subsidia essa minha fala, ou seja, eu sou constitucionalista. Nós precisamos respeitar a Constituição Federal, e na Constituição Federal esses direitos dos cidadãos estão estabelecidos. Então, o que nós precisamos fazer é lançar mais luz e mais informação para a comunidade, para que ela perceba que não é uma benesse que as diferentes gestões oferecem para a população, e sim um direito. Oferecer o SUS de qualidade, oferecer a vacina, oferecer a universidade ou o ensino fundamental, é um dever do Estado e é um direito do cidadão, e essas questões precisam ser cada vez mais esclarecidas.
Professor, como é que vai ser a sua relação, a relação da sua gestão, o seu diálogo, o diálogo da sua gestão, com a Universidade Federal?
Então, na minha percepção a comunidade acadêmica se constitui pelo conjunto dos professores, pela Reitoria, pelos estudantes e pelo conjunto dos técnico-administrativos, e todos os sindicatos que representam essas entidades. É absolutamente necessário e fundamental que nós busquemos essa articulação, esse trabalho em conjunto. Mais do que nunca é absolutamente necessário e fundamental. Por duas questões primordiais: a Emenda Constitucional 95, que vem garroteando. Ela é como um torniquete que vai retirando ano a ano os investimentos. Basta a gente ver que desde 2017 para cá a UFRN vem sofrendo constantes cortes e ao mesmo tempo, em paralelo, a própria Reforma Administrativa que está no Parlamento. Então é fundamental que a Reitoria trabalhe de forma proativa, em defesa da busca de mais recursos e os sindicatos dos técnico-administrativos e dos professores também precisam trabalhar juntamente com a representação estudantil nesse sentido da defesa da instituição, porque quem está ameaçada são as instituições públicas, tanto as universidades, quanto os IFs. Lembrando que a Reforma Administrativa também pega os professores da educação básica, do ensino fundamental, do ensino médio dos municípios e dos estados. Então, essa luta é uma luta que precisa ser feita pela sociedade, porque o que está como proposta, se a gente olhar e observar o que Paulo Guedes fala, ele fala justamente que quer a uberização das relações. Ou seja, ele quer dar o voucher para que os as pessoas tenham acesso a determinados serviços, mas não à política de educação, à política de saúde, que é muito maior do que um determinado serviço.
Queria que o senhor falasse agora sobre a relação do ADURN-Sindicato com o PROIFES-Federação.
Hoje nós temos uma excelente representação do ADURN-Sindicato dentro do PROIFES-Federação, porque nós temos no meu ponto de vista dois cargos que são absolutamente estratégicos. O vice-presidente do PROIFES-Federação é o professor Wellington, nosso querido ex-presidente, e a professora Gilka, que é a nossa ex-vice-presidente também, querida aqui do ADURN, e ela faz um trabalho também de excelência exatamente na diretoria de comunicação do PROIFES-Federação. Então, eu acho que hoje o ADURN-Sindicato tem essa visibilidade nacional e tem esse reconhecimento, inclusive do PROIFES-Federação, justamente por esse trabalho que nós temos desenvolvido no decorrer do tempo, e pela ação atuante que nós temos que ter, tanto dentro aqui da comunidade acadêmica, mas também lá em Brasília. Porque muitos dessas nossas demandas são disputadas lá dentro do Parlamento. Então, nós precisamos estar em contato direto com deputados, com os senadores, com ministros, em busca da defesa e da preservação da própria constituição do Estado, do direito das pessoas, da saúde e da educação, e também materialmente falando que são os recursos necessários para garantia do funcionamento, da eficácia, do Sistema Único de Saúde e também dos serviços de educação.
Professor Oswaldo, queria que o senhor falasse agora sobre as mobilizações que estão acontecendo hoje e que vão acontecer amanhã, sábado, em que o ADURN-Sindicato já se posicionou apoiando esses eventos.
É absolutamente necessário e fundamental a organização social e esses movimentos em prol da defesa do Estado democrático de direito e das condições básicas e elementares para o enfrentamento da pandemia. Não tem como nós dizermos que são legítimas as posturas que o Governo Federal vem tomando diante da pandemia. A falta de planejamento, a falta de execução de ações, a demora na compra de vacinas e de insumos e agora a guerra à máscara que o presidente vem retomando. Então, diante disso tudo e de várias outras, todas elas colaboram para esse quadro crítico e caótico que nós temos de quase 500 mil mortos no país. Não é à toa. São justamente por todas essas dificuldades que o Governo Federal vem demonstrando para o enfrentamento da pandemia, que nós temos essa crise sanitária que tem depois os desdobramentos na crise econômica e social. Que repercute em milhões de pessoas, de brasileiras e brasileiros com insegurança alimentar, desempregadas, e, por isso, nós precisamos nos organizar. E aquelas pessoas que forem, a gente precisa sempre lembrar da necessidade do uso de máscaras, do uso do álcool em gel, da manutenção do distanciamento social, e a luta é necessária e precisa acontecer. Por isso que nós apoiamos.
Queria que o senhor falasse agora sobre o retorno às aulas presenciais. Qual a posição do ADURN com relação a esse assunto?
Então, é o assunto que merece muita atenção e cuidado. Nós precisamos ter sempre o respaldo científico para essa tomada de decisão, ou seja, nós precisamos ouvir. A gente tem um Comitê Científico, e esse Comitê Científico é que precisa ter a prerrogativa dessa tomada de decisão. Não pode ser uma política isolada do conhecimento científico. Então, nós precisamos primeiro desse respaldo do Comitê para autorizar esse retorno. Segunda questão, que é financeira e material: como você sabe, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, hoje, considerando a Lei Orçamentária 2021, não tem recurso suficiente para aquisição de EPIs e de insumos para a retomada. Se nós decidíssemos, através de uma portaria, que todos voltariam para o ensino presencial no próximo semestre, não existe esse recurso materialmente falando. Então, nós precisamos sim ir no Parlamento buscar mais recursos e aí, nesse sentido, de forma articulada com a Reitoria e com os demais sindicatos e com a representação estudantil, a busca desses recursos pra que a gente tenha insumos e que daí sim [com] a segurança da comunidade acadêmica sendo garantida, nós podemos falar num retorno. E esse retorno precisa ser paulatino. Não tem como a gente dizer de um dia para o outro que a gente vai retomar as atividades presenciais. Isso seria uma irresponsabilidade enorme, basta ver os países que mesmo com altas taxas de cobertura vacinal estão apresentando o recrudescimento da pandemia. Imagine que nós, aqui, que temos um platô, que ainda não conseguimos baixar do número de 2 mil mortes por dia. Então, a situação é muito complexa e para desafios complexos não existe soluções mágicas nem fáceis. Nós precisamos acreditar na ciência e nos especialistas que vão orientar o melhor momento para essa retomada.
Professor, já estamos chegando aqui no finalzinho da nossa entrevista. Ontem foi a posse da nova diretoria. Então, deixo o espaço aqui para o senhor falar aos docentes da UFRN logo no início da sua gestão.
Primeiro, eu queria agradecer a todos os colegas, professoras e professores que participaram do pleito. É fundamental que a gente tenha tido uma votação expressiva. É fundamental ter essa clareza de que sozinho a gente não consegue desenvolver um bom trabalho. Esse é um trabalho coletivo que eu estou representando nesse momento. Na segunda questão, nós precisamos pensar em estratégias. Eu convido todas as professoras, professores, estudantes, técnico-administrativos, a comunidade acadêmica, a pensar em estratégias conjuntas para a defesa da universidade, e para que a gente amplie cada vez mais essa participação dos professores nas ações que são desenvolvidas pelo sindicato. Mas também que eles pautem questões que considerem relevantes, e que a gente possa acolher. Nesse sentido, ampliar o espaço de comunicação é sempre fundamental.