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Publicado em 09 de julho de 2021 às 09h34min
Tag(s): Cortes na Educação Orçamento
Lays Ramos Cezar tem 15 anos e pretende estudar medicina. Ela cursa o ensino médio no bairro de São Miguel Paulista, zona leste da capital de São Paulo. Desde o ano passado, está em um programa de Iniciação Científica (IC) do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com bolsa de estudos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). É o que permite a ela dedicar-se à IC sobre modelagem 3D da barreira hematoencefálica para estudos da doença de Alzheimer.
Embora acompanhe de longe o cenário de cortes orçamentários e de bolsas de estudos na área da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), a estudante está ciente do que isso representa para seu futuro. “Como o curso de medicina é muito caro, eu tentaria uma bolsa de estudos para uma universidade federal, mas também em universidades particulares. Eu penso às vezes também em talvez conseguir uma bolsa no exterior”, afirmou.
Ramos Cezar é a mais jovem de oito pesquisadores entrevistados pelo Jornal da Ciência sobre como veem a situação atual da CT&I brasileira e como encaram seu futuro em um cenário de corte nos investimentos na pesquisa científica pelo governo.
Os depoimentos fazem parte da celebração do Dia Nacional da Ciência e Dia Nacional do Pesquisador que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) preparou para este 8 de julho. A intenção foi ouvir o que jovens estudantes e investigadores de várias partes do Brasil e de todas as grandes áreas da ciência (humanas, exatas, biológicas, da terra) têm a dizer. E o resultado das entrevistas não é muito auspicioso.
Insegurança e instabilidade
A paulistana Jessica Smelstein, de 22 anos, está na graduação em Farmácia e Bioquímica nas Faculdades Oswaldo Cruz. Assim como Ramos Cezar, Smelstein cursa a iniciação científica da Unifesp com bolsa da Fapesp, pesquisando a doença de Alzheimer. Entre seus planos de carreira está a Neurociência. Ela acha que o cenário para a pesquisa no Brasil é muito difícil. “Felizmente não me sustento ainda, meus pais me ajudam, pois a bolsa com certeza não me manteria. O processo de conseguir a bolsa, as provas, é muito difícil. Imagino que mestrado e doutorado sejam ainda mais difíceis”. Quando a bolsa que tem hoje chegar ao fim, ela pretende procurar um estágio e pode tentar sair do País para estudar.
Marco Tullio Rodrigues Alves, de 27 anos, graduado em Farmácia, cursa o Mestrado em Farmacologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Ele pesquisa a sintetização de nanopartículas e seu acúmulo no organismo.
O plano de Alves é ser professor e pesquisador nesse campo. Ele recebeu bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) depois de aprovado em primeiro lugar no início do mestrado, em março de 2020. Mas ao ver vários colegas com pedidos de bolsa rejeitados, o que foi justificado pelos cortes orçamentários do CNPq, ficou inseguro sobre o futuro de seus estudos e a concretização de seus planos.
“Não sei se quando eu fizer minha seleção para o doutorado haverá bolsa. É uma pulga atrás da minha orelha, não me oferece estabilidade nenhuma em relação ao meu futuro porque, como eu disse, tenho interesse em ser professor e pesquisador, mas para isso preciso do doutorado.”
Doutorando em Sustentabilidade pela USP, o pernambucano Emanuel Galdino, de 33 anos, está tentando uma bolsa de estudos para completar o doutorado, já que a que ele tem agora, para um projeto paralelo de divulgação científica na Unifesp, vence em dezembro. “Se não conseguir uma bolsa, vou ter que procurar outro emprego para me manter, prejudicando minha pesquisa”, afirmou.
Lucas Buosi, de 26 anos, graduado em Ciências Sociais, cursa o doutorado em Sociologia na Universidade de Brasília (UnB) para pesquisar o desenvolvimento tecnológico e as dimensões sociológicas e éticas da interface cérebro-computador. Este ano ele conseguiu uma bolsa do CNPq que poderá mantê-lo até o fim do doutorado, em 2024. Porém, o valor é tão baixo que não permite custear atividades igualmente relevantes do programa, como participação em congressos e cursos de idiomas. “A bolsa de estudos no Brasil é um instrumento extremamente importante, mas desvalorizado” afirmou. Ele não sabe se existe a possibilidade de reajuste do valor que recebe hoje, nem se haverá um número maior de bolsas daqui em diante.
Desestímulo para os jovens
Juliana Aoki, 39 anos, é pós-doutoranda em Biologia Molecular no Instituto de Biociências da USP. Ela está no terceiro pós-doc, pesquisando as leishmanioses, um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania. É uma doença considerada negligenciada, que não atrai o interesse da indústria farmacêutica. Por esse motivo, ela tem pouca esperança de conseguir um emprego na iniciativa privada. Seus esforços agora são para obter uma vaga como professora na academia. “A única saída é dar aula ou continuar fazendo pesquisa”, afirma.
Aoki vê um cenário atual pouco animador. “É triste, porque a gente vê cada vez mais cortes, é um desestímulo para os jovens”, afirmou. Ela conta que tem colegas do mesmo nível de especialização que estão deixando o Brasil porque não veem perspectiva aqui. “Acaba que o País forma todo esse pessoal, investe, mas a pessoa é absorvida pelo exterior, porque no Brasil não tem perspectiva.”
A rondoniense Isabô Ângelo, de 27 anos, cursa o mestrado em Saúde Pública na unidade pernambucana da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-PE), no Recife. Ela pesquisa epidemiologia, é bolsista do CNPq e tem planos de fazer o doutorado, mas não sabe se conseguirá devido à instabilidade do cenário para bolsas de estudos. “É muito complicado, porque a bolsa de estudos geralmente é a única via de recursos por estarmos dedicados a uma pesquisa que compromete boa parte do nosso tempo, e ao mesmo tempo não se observa muitos investimentos na pesquisa científica e na educação no Brasil.”
Vitor Cano, 31 anos, graduado, com mestrado e doutorado em Gestão Ambiental pela USP, está desde o ano passado cursando um pós-doutorado.
Cano desenvolveu um sistema bioelétroquímico que já está até patenteado. É uma célula combustível que utiliza microrganismos para converter água residuária (esgoto, chorume, vinhaça) em energia elétrica. A tese desenvolvida em torno desse sistema foi divulgada em importantes revistas cientificas e destacada pelo Jornal da USP, além de ter sido selecionada pela Universidade para o prêmio de Melhor Tese da Capes.
Hoje ele desenvolve sua pesquisa com bolsa da Fapesp, mas nem por isso acha que sua vida está resolvida. Ao contrário, para ele, os cortes de bolsas que atingem colegas e as notícias de que mais restrições devem chegar nos próximos anos são bastante “desanimadores”.
“É um clima geral de desânimo, de preocupação, quem está começando agora não sabe o que vai acontecer nos próximos anos, se vai se manter ou não na carreira. Quem está finalizando mestrado e doutorado tem uma preocupação enorme do ponto de vista de que não abrem concurso para professores. Essa situação cria um clima de bastante desânimo, preocupação, medo e insegurança”, declarou.
Cenário preocupante
“Os depoimentos mostraram – e este deve ser o quadro geral do Brasil – que a maior parte dos estudantes ligados às áreas de ciências, em todos os níveis, da Iniciação Científica Junior, no Ensino Médio, até a pós-graduação, estão muito temerosos diante do quadro da ciência brasileira, porque oferece poucas oportunidades, com redução do número de bolsas e poucas possibilidades de emprego pós formatura e qualificação profissional”, analisou Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC.
Moreira ressaltou que o cenário é preocupante, pois os cortes orçamentários para a área estão levando à evasão de cérebros para o exterior. “Isso já está acontecendo e pode se acelerar ainda mais com o fim da pandemia e uma maior abertura dos países. Enquanto Europa, EUA e China, por exemplo, estão aumentando muito mais os investimentos em Ciência e Tecnologia (CT&I), o Brasil está reduzindo”, ponderou o presidente da SBPC.
Para celebrar o 8 de julho, a SBPC promove nesta manhã um encontro virtual com dezenas de parlamentares e representantes das entidades mais significativas da CT&I no País, que vão expor e debater os grandes desafios do setor. O desestímulo e evasão dos jovens é um dos mais sérios, diz Moreira, porque o Brasil é um dos países com menor índice de pesquisadores per capita do mundo e à medida que eles envelhecem e não há reposição, entrava o avanço da ciência.
Mas há outros problemas: a falta de recursos para manutenção dos laboratórios nas universidades, as ameaças à liberdade de pesquisa e acadêmica, uma burocracia excessiva, além da pandemia de covid-19 com um governo negacionista da ciência. “Esse negacionismo mata e temos observado pelas discussões no Congresso Nacional que existem por trás interesses econômicos e financeiros particulares”, disse Moreira.
Ciência depende dos jovens
Outra preocupação, diz Moreira, são os que desistem da ciência, um número impossível de medir. “São, meninos e meninas que iriam para as áreas de CT&I e que não vão porque não veem perspectivas e vão buscar outras alternativas profissionais”.
O presidente da SBPC diz que isso é muito preocupante porque o futuro da ciência brasileira depende desses jovens. Segundo ele, com um dos mais baixos índices de pesquisadores por milhão de habitantes do mundo, o Brasil fica cada vez mais para trás se comparado com países desenvolvidos, como Alemanha, EUA, França, Portugal, mas também comparado com aqueles em desenvolvimento, como China, Coreia do Sul, Israel e Argentina. “Precisamos valorizar a formação dos pesquisadores porque eles são a base da ciência”, declarou.
Fonte: Janes Rocha – Jornal da Ciência