Para Renato Janine, prioridade é recompor o orçamento da pesquisa

Publicado em 29 de julho de 2021 às 09h09min

Tag(s): Ciência Orçamento



Novo presidente da SBPC destacou que Brasil vive inédita “fuga de cérebros” por causa dos cortes nas bolsas de mestrado e doutorado

"Há cortes de verbas em praticamente todas as áreas", denuncia novo presidente da SBPC (Rovena Rosa / Agência Brasil)
 

São Paulo – O filósofo, professor e ex-ministro Renato Janine Ribeiro, que assumiu na última sexta-feira (23) a presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), afirmou que a prioridade da sua gestão será lutar para recompor o orçamento das áreas de pesquisa científica no Brasil. Ele alertou que os sucessivos cortes de verbas destinadas a instituições de fomento – como CNPq, Capes e Finep –, que vêm ocorrendo desde 2016, estão produzindo uma inédita “fuga de cérebros” no país.

“A prioridade da comunidade acadêmica, que tem na SBPC uma das suas principais organizações representativas, é manter e recompor os orçamentos”, disse Janine, em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (28).

De acordo com Janine, as bolsas de mestrado e doutorado estão sendo constantemente reduzidas. Além disso, seus valores não foram reajustados nos últimos anos. Um bolsista do mestrado, por exemplo, recebe R$ 1.100 por mês, em média.

“O resultado é que os talentos estão migrando. Tem gente que está deixando o Brasil, numa proporção que não havia antes. O brasileiro não faz brain drain (fuga de cérebros). Não tínhamos essa evasão, se comparado com a Índia ou a Argentina, por exemplo. O brasileiro dificilmente deixa o país. Isso ocorria numa proporção bem menor”, ressaltou Janine.

Apagão do Lattes e do Tupã

O apagão da plataforma Lattes e outros serviços do CNPq também é resultado do sucateamento vivido pela pesquisa no Brasil, segundo Janine. De acordo com o órgão, a pane deveu-se à queima de uma placa de um dos servidores. “Esperamos que não tenha afetado a base de dados. Há um corte de verbas, promovido basicamente pelo ministério da Economia, em todas as áreas.”

Janine também citou o caso do supercomputador Tupã, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Por falta de verbas para arcar com o consumo energético – cerca de R$ 5 milhões ao ano –, o órgão chegou a cogitar desligá-lo. Com capacidade de executar cerca de 30 mil cálculos por segundo, o Tupã desempenha função crucial na meteorologia. A falta de uma previsão do tempo acurada pode causar perdas incalculáveis para setores como o agronegócio e o turismo, pontuou o presidente da SBPC.

Inclusão e pesquisa

De acordo com Janine, apenas 30% dos brasileiros têm condições básicas de saúde, educação e moradia para desenvolverem suas potencialidades. O compromisso de qualquer governo, segundo ele, deveria ser elevar paulatinamente esses números. “Se, com 30%, chegamos a ser a sétima economia do mundo, o 11º país em produção científica qualificada, imagina se a gente subir a produção para 60% ou 90%.”

Ele citou, ainda, que são crescentes os desafios vividos pela humanidade. Portanto, investimentos cada vez maiores em pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico serão demandados. Além do aquecimento global, o presidente da SBPC destacou as interações entre florestas e ambientes urbanos, abrindo brechas para o surgimento de novas doenças, como a pandemia do novo coronavírus.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira

Fonte: Rede Brasil Atual

ADURN Sindicato
84 3211 9236 [email protected]