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Publicado em 09 de agosto de 2021 às 09h55min
Tag(s): Paulo Freire
Em 2 de junho de 1963, a edição do jornal americano New York Times tinha 404 páginas. Na página 18, ocupando apenas uma coluna, o nome da cidade potiguar de Angicos era escrito pela primeira – e talvez única – vez no jornal. A chamada da reportagem era “BRASIL REALIZA UM MOVIMENTO DE ALFABETIZAÇÃO”, e apresentava ao mundo o pensamento do professor pernambucano Paulo Freire, que havia implantado no RN o projeto ’40 horas de Angicos’.
No próximo mês de setembro, será comemorado o centenário do nascimento de Paulo Freire. Ele é o patrono da educação brasileira, um dos mais respeitados educadores em todo o mundo e conseguiu desenvolver um pensamento tão transformador sobre educação que até hoje suas palavras e métodos de alfabetização apavoram governantes e políticos com inclinações fascistas. Não à toa, é um dos principais nomes combatidos pelo governo de extrema direita de Jair Bolsonaro.
E para celebrar o centenário, a AGÊNCIA SAIBA MAIS começa hoje uma série de reportagens e artigos especiais que serão publicadas até setembro, mostrando quem foi Paulo Freire, a importância dele para a educação brasileira e mundial, e mostrando a importância do RN nessa história toda.
A reportagem do New York Times descreveu o projeto “40 Horas de Angicos”, que tinha o apoio financeiro dos EUA (que tentava combater a disseminação do comunismo pelo mundo. Eram os tempos da Guerra Fria). Com os primeiros resultados do projeto e conclusão da primeira turma alfabetizada, o investimento estava sendo ampliado a partir daquele período. O projeto de Paulo Freire tinha o ousado objetivo de alfabetizar adultos de forma rápida e barata.
Depois da reportagem do New York Times, as atenções da imprensa internacional se voltaram para a experiência implantada na pequena Angicos – distante 194 km de Natal. Na época, a cidade tinha pouco mais de 9 mil habitantes, dos quais 75% moravam na zona rural. Antes de iniciar o projeto, um levantamento da equipe de Paulo Freire mostrou que 75% da população adulta do município era analfabeta.
No livro livro ‘40 Horas de Esperança”, Calazans Fernandes e Antônia Terra apontam que a pequena Angicos recebeu correspondentes de jornais como: Time Magazine, Herald Tribune, Sunday Times, United e Associated Press e Le Monde. Começa, então, a disseminação do nome Paulo Freire.
Angicos não tinha FELICIDADE mas falava em ESPERANÇA
O primeiro passo do projeto ”40 horas de Angicos” era o de catalogar as palavras usadas pelo grupo de alunos. Eram a partir dessa palavras que se trabalharia as aulas de alfabetização. A primeira turma recebeu o diploma de alfabetização em 2 de abril de 1963.
Os educadores catalogaram em Angicos 380 palavras que eram costumeiramente usadas pelos moradores da cidade. Naquela época, FELICIDADE não estava relacionada. No vocabulário relacionada à comunicação dos 300 alunos da primeira turma da experiência, DEUS, PROMESSA, ESMOLA, CHUVA, BELOTA, TRISTE, ALVOROÇO, MEDO, CORAGEM, CONFORMAÇÃO e INVERNO. E essa bolha ortográfica e fonética ainda pode demonstrar, quase 70 anos depois, as características culturais e sociais que envolviam o interior do Rio Grande do Norte.
Vários estudos foram realizados ao longo das últimas décadas sobre a experiência em Angicos. Em um desses, em 2002 , a educadora Nilcéa Lemos Pelandré analisou os “efeitos a longo prazo do método de alfabetização”. Para o trabalho, ela entrevistou alunos da primeira turma do projeto e apontou que os participantes aprenderam a escrever palavras isoladas e frases simples e curtas.Mas, segundo a pesquisadora, a aprendizagem mais significativa identificada nos alunos foi a elevação da autoestima e a consciência de não se sentirem mais excluídos do mundo letrado.
O advogado potiguar Marcos Guerra, que participou diretamente da equipe do projeto de Angicos disse, em entrevista concedida quando o projeto completou 50 anos que “o cunho político do projeto”era forte. “Ou a educação é feita no sentido libertador ou domesticador. E o cunho político é inerente à educação. A educação não é neutra”.
No livro de Calazans – que foi secretário de Educação do RN – ele pontua que ESPERANÇA estava entre as palavras usadas pelos estudantes de Angicos. E essa esperança havia sido renovada após as aulas, como bem descreveu o aluno Antônio Silva, à época com 51 anos. Ele foi o orador da turma na solenidade de conclusão do curso.
Projeto ‘engordava cascaveis’, diziam militares
Na solenidade de diplomação da primeira turma, Angicos recebeu as maiores autoridades do Brasil: o presidente da República, João Goulart, o então governador do RN Aluízio Alves, ministros de Estado, governadores do Nordeste, monitores do projeto, os 300 alunos e suas famílias.
Fardado, lá estava, também, o general Castelo Branco, que um ano após aquela solenidade, assumiu a presidência da República com o golpe militar de 1964. O general não fez pronunciamento público no encontro, mas disse a Calazans Fernandes a famosa e conhecida frase de que o projeto estava “engordando cascaveis”. Um ano após a solenidade de formatura, um dos atos de Castelo Branco foi o de desarticular o grupo do educador Paulo Freire, que foi preso e exilado. O advogado Marcos Guerra, coordenador do projeto de Angicos, também foi preso e exilado.
Projeto foi difundido para outras cidades e estados
Com o sucesso de Angicos, o projeto foi expandido para outras cidades do RN (Natal-Quintas, Mossoró, Caicó e Macau) e de outros Estados do país: Ubatuba (SP), Osasco (SP), Rio de Janeiro, Brasília, Aracaju (SE) e Porto Alegre (RS).
A experiência serviu de exemplo para o um projeto nacional de alfabetização e em janeiro de 1964, um decreto federal reconhecia o “Sistema Paulo Freire para alfabetização em tempo rápido”. A ideia era a criação de 60 mil grupos, para alfabetizar, em 1964, 1,8 milhão de pessoas. E Paulo Freire foi designa pelo MEC para a Comissão Especial do Programa.
Mas não saiu do papel. Em 14 de abril de 1964, apenas 13 dias após o Golpe de Estado, o Decreto nº 53.886, de 14 de abril de 1964, extingue o Programa Nacional. Dois meses depois, em 16 de junho, Paulo Freire foi preso, acusado de “subversivo e ignorante”. No RN, o advogado Marcos Guerra também foi preso e exilado.
Angicos traria Kennedy ao RN
Em outubro de 1963, após a repercussão na imprensa mundial, um grupo da Embaixada norte-americana visita o então governador Aluízio Alves. A ideia, segundo o livro de Calazans, era preparar a visita do presidente John Kennedy. Essa agenda estava planejada para dezembro daquele ano. Kennedy foi assassinado, em Dallas, um mês após a reunião.
O projeto de Angicos foi possível a partir de convênio celebrado, em dezembro de 1962, entre o MEC, a Sudene , o Estado do RN e a Usaid (United States Agency for International Development), dentro dos propósitos da Aliança para a Progresso, celebrada entre os Estados Unidos e países da América Latina com o objetivo de impedir a disseminação do comunismo no continente.
Veja aqui o PDF da reportagem do NYT que mostrou Paulo Freire ao mundo!
Fonte: Saiba Mais