O Brasil está com fome e não vai esperar 2022, afirma manifestação em Natal contra Bolsonaro

Publicado em 04 de outubro de 2021 às 11h38min

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O Brasil está com fome e “a fome não vai esperar o resultado das urnas em 2022”. A afirmação do artista Franco Fonseca é tão forte quanto a imagem da arte de sua autoria, “um cartaz em 4D, com cheiro, cor, textura e sabor”, que marcou a manifestação em Natal contra as políticas e ações do presidente Jair Bolsonaro em mais de mil dias de governo.

“Estamos cansados de tanto abuso governamental e autoritário na América do Sul”, afirmou o colombiano Eduardo Armand, artesão de rua que há três anos vive na capital potiguar. Fatigado pela falta de oportunidade, ele reforça a importância da luta nas ruas para “trocar os mandatários que agem somente para oprimir e escravizar o povo. Já não podemos seguir vivendo dessa forma. Há muita gente nas ruas e profissionais que têm capacidade de apresentar projetos magníficos, mas estão bloqueando os espaços”, denuncia.

Diversas vezes ironizadas por Bolsonaro, as quase 600 mil vidas perdidas para Pandemia no Brasil foram lembradas com dor e indignação pelos manifestantes. “Não estamos todos, faltam os mortos”, estampava os cartazes em uma das principais avenidas de Natal.

Convocado unitariamente pelas Centrais Sindicais (CSP-Conlutas, CTB, CUT, Pública e Intersindical), Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e por movimentos sociais, sindicais e estudantis, “o ato foi representativo, com várias cores políticas, vários movimentos sociais”, avaliou o terceiro deputado federal mais votado do Estado, Fernando Mineiro, que apesar de diplomado ainda não foi empossado em razão de uma liminar no TSE.

A ideia de ampliação das forças políticas e sociais contra o presidente Jair Bolsonaro foi reforçada neste sábado, no sexto movimento convocado pela esquerda no país desde a retomada nas ruas em 29 de maio. “Estamos nas ruas em unidade com vários partidos, com as centrais sindicais, com os movimentos sindicais, juventude, negros, mulheres, LGBT, quilombolas para cada vez mais fortalecer a luta pela retirada de Bolsonaro e seu vice Mourão”, afirmou o presidente estadual do PSTU, Dário Barbosa.

Cresce a percepção de que não há outro caminho para derrubar um governo autoritário e alcançar conquistas sociais se não ocupando as ruas. “Esse é um espaço fundamental. Essas manifestações de hoje não podem parar. Ela precisa ser ampliada para que a gente possa de fato derrotar Bolsonaro e criar uma força política capaz de reconstruir nosso país”, ressalta Divanilton Pereira, presidente estadual do PCdoB, um partido quase centenário que conseguiu uma vitória essa semana no Congresso com a derrubada do veto de Bolsonaro à Federação dos Partidos, para que partidos históricos continuem sua vida institucional.

“Temos confiado na disposição de luta do povo brasileiro que desde maio tem ocupado as ruas na retomada das mobilizações, feito o enfrentamento ao fascismo nas ruas, porque as condições de vida do povo têm piorado muito rapidamente. A saída não pode ser outra senão do povo organizado para a construção de uma sociedade que sirva aos interesses da classe trabalhadora”, afirmou Alex Feitoza, membro da Unidade Popular.

Os atos contra Bolsonaro ocorrem em todas as capitais e movimento ganha amplitude. No RN, sete cidades realizaram protestos: Natal, Mossoró, Parnamirim, Macaíba, Acari, Currais Novos e Baraúna. “A partir desse dia 2 vamos dar um salto de mobilização”, avalia o presidente estadual do PT, Júnior Souto.

Movimentos sociais, sindicais e estudantis

Para os movimentos populares, como o de luta por moradia, não é possível esperar as eleições de 2022. “A luta não pode parar nem um minuto. O caminho na verdade é aumentar, radicalizar as lutas nos próximos momentos, não as enfraquecer”, colocou Matheus Araújo, coordenador MLB no Rio Grande do Norte.

Questões que envolvem o planejamento das cidades também se somaram aos “gritos” pelo impeachment do presidente da República. “Por fora Bolsonaro e Mourão, por um Salve Natal temos participado de todos os espaços de pressão manifestando nossa contrariedade à essa minuta (de revisão do Plano Diretor que chegou na última semana na Câmara de Vereadores de Natal), anti-povo, que traz retrocessos ambientais, sociais e político do planejamento urbano da cidade”, afirmou a arquiteta e urbanista Sarah de Andrade, membro do grupo Salve Natal.

Isso porque, a avaliação é de que a luta é contra o fascismo e “derrotar Bolsonaro é uma questão de sobrevivência”. Essa é a opinião do delegado de polícia, Fernando Alves, que integra o grupo de Policiais Anti-fascistas. Sempre presente aos atos em favor da democracia, ele lembrou que “aqui no Rio Grande do Norte o processo movido contra o grupo de Policiais Anti-fascistas, acusando de ser um grupo paramilitar, uma milícia, foi arquivado pela Justiça. Ou seja, tudo que foi arquitetado pelo bolsonarismo se mostrou mais uma vez uma iniciativa fracassada”.

Os movimentos estudantis, protagonistas na realização dos Tsunamis da educação, que levaram milhares às ruas contra os cortes de recursos e bloqueio de verbas para as Instituições Federais de Ensino, “denunciaram o quanto o governo Bolsonaro é extremamente prejudicial para a Educação Pública”, aponta Michael Castro, coordenador geral do DCE.

Privatizações

Entre as pautas presentes nas ruas em todo o país, a desnacionalização de setores estratégicos para o desenvolvimento do país e da afirmação da soberania. Trabalhadores dos Correios, da Caixa, do Banco do Brasil e da Petrobras reforçaram a importância da luta contra a agenda econômica do governo Bolsonaro.

No caso da Petrobras, dirigentes sindicais denunciam como consequência, a atual política de preços, em vigor desde 2016, que penaliza o consumidor com o aumento dos preços da gasolina e diesel. “A volta do povo à ruas é também para interromper essa agenda ultraliberal que ameaça o abastecimento. A gente podia ter uma gasolina de R$ 3,20, se fosse considerado o preço do custo e do refino brasileiro, e isso não acontece porque Bolsonaro dá continuidade à política de Temer ao preço de paridade de importação”, afirma Fátima Viana, dirigente do Sindipetro-RN e da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Serviços Públicos

Servidores de diversas categorias lembraram a importância de fortalecer a pressão popular contra à PEC 32, da reforma Administrativa, que provoca um desmonte nos serviços públicos e gratuitos, como saúde, educação, entre outros.

“A defesa do serviço público passou a ser uma pauta importante, no cenário de devastação que o país enfrenta, com o desemprego, a fome, a miséria e a pandemia, sem que o governo apresente soluções para a imensa crise que vivemos”, avalia a servidora pública Ângela Lobo, presidenta estadual da Central Pública.

Parlamentares

Na avenida Senador Salgado Filho foi forte a presença dos parlamentares da esquerda potiguar. Estiveram presentes o senador Jean Paul Prates (PT), a deputada federal Natália Bonavides (PT), os deputados estaduais Francisco do PT e Isolda Dantas (PT), as vereadoras de Natal Brisa Bracchi (PT) e Divaneide Basílio (PT), e os vereadores Pedro Gorki (PCdoB) e Robério Paulino (Psol).

Para o vereador do Psol, o professor Robério Paulino, “é uma obrigação de um mandato popular está nas ruas, junto à luta do povo por direitos, pela vida”.

Uma luta que volta a crescer nos espaços públicos das ruas desde os protestos realizados em 29 de maio que, naquele momento tinha graus variados de envolvimento dos partidos políticos de esquerda e sindicatos pela discussão das consequências das ações em meio à pandemia. O cenário agora é outro, o movimento ganha amplitude e a avaliação é de que “somente o povo nas ruas é capaz de tirar Bolsonaro”, afirma a deputada Isolda Dantas.

“Nosso mandato está aqui nas ruas se somando ao povo brasileiro que no dia de hoje sai às ruas para protestar contra a fome, as 600 mil mortes, contra a inflação, contra a política de desmonte do Estado brasileiro, dos serviços públicos”, enfatizou o deputado Francisco do PT.

Com o desafio de travar a luta também no Congresso Nacional, o senador Jean Paul Prates diz que todo o trabalho que tem realizado e os movimentos populares que crescem é “para acabar com essa agonia, causada por um governo que mente e mata. Nós assinalamos quase 4 mil mentiras repetidas por Bolsonaro em mil dias de governo”.

“Estamos diante de um projeto político de morte que precisa ser derrotado nas ruas, na Câmara e em todos os espaços nessa disputa de sociedade que está sendo feito”, ressaltou a deputada federal Natália Bonavides.

Fonte: Saiba Mais

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