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Publicado em 05 de novembro de 2021 às 09h39min
Tag(s): Lei de Cotas
O sistema de cotas raciais, implantado a partir de 2004 nas universidades públicas, foi um marco na democratização no acesso ao ensino superior público no país.
Desde lá, o ingresso da população negra nas universidades e institutos tem sido uma revolução silenciosa: de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2011, do total de 8 milhões de matrículas, apenas 11% foram feitas por alunos pretos ou pardos. Já em 2016, o percentual de negros matriculados passou para 30%. E em 2018, o número de estudantes pretos e pardos era 50,3%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Se antes das políticas afirmativas apenas 2,2% dos estudantes negros concluíam uma graduação, o número passou para 9,3% em 2017. Apesar da melhora, o índice continua apontando a desigualdade presente na sociedade brasileira: pessoas brancas têm mais que o dobro de chances (22%) de conquistarem o diploma universitário.
Permanência de estudantes negras na universidade é um desafio
Apenas a vaga no ensino superior não é suficiente para garantir que um estudante tenha condições de permanecer cursando uma graduação. Afinal, o ambiente universitário é exigente, os horários das aulas por vezes podem inviabilizar um trabalho remunerado e os custos mensais com materiais de estudo, transporte, moradia e alimentação são altos.
Mesmo quem recebe auxílios estudantis lida com a insegurança, uma vez que as ajudas financeiras, geralmente, não cobrem todas as despesas.
Esse cenário impacta principalmente as mulheres negras – que sofrem com a violência de gênero e de raça – fazendo com que a realidade dura acabe matando seus sonhos, prejudicando profundamente sua autoestima e sua saúde mental.
De acordo com uma pesquisa conduzida antes da pandemia de Covid-19 pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) sobre a permanência dos estudantes nas universidades, mulheres negras eram as que mais apresentavam dificuldades no cenário acadêmico.
A hostilidade e a elitização presentes no ensino superior do Brasil carregam as marcas do nosso passado. As principais queixas das universitárias eram relacionadas a problemas emocionais (24%) e a carga excessiva de trabalhos estudantis (23%). Além disso, as estudantes também relataram encontrar dificuldades na linguagem acadêmica dos textos.
Neste sentido, a exclusão social em razão de raça se efetiva a partir da falta de acesso e oportunidades dentro dos espaços tradicionais. Sem amparo adequado, as estudantes se sentem inferiorizadas.
A burocratização do acesso aos auxílios estudantis
Os auxílios estudantis (transporte, alimentação, moradia, permanência etc.) são direitos de todos os estudantes. No entanto, a burocratização envolvida na solicitação deles, com uma quantidade exorbitante de documentos – que nem sempre é possível providenciar no prazo estipulado no edital (ou até mesmo, saber onde conseguir) – impede que algumas estudantes consigam acessá-los.
Muitas vezes, receber os auxílios não é uma solução: na pesquisa, estudantes relataram as condições precárias dos locais de moradia, a má alimentação oferecida por determinadas instituições e o atraso nas bolsas de estudo.
Restrição de acesso é projeto
A situação tem se mostrado cada vez mais difícil com a guerra contra a educação promovida pela gestão de Jair Bolsonaro. Neste ano, o presidente realizou um corte de R$ 1 bilhão no orçamento das universidades e dos institutos, restringindo políticas de assistência estudantil e projetos de extensão, essenciais para a permanência dos estudantes nos espaços universitários.
As instituições federais de ensino superior estão no limite, buscando atender ao máximo as demandas dos estudantes. No entanto, sem investimento, fica cada vez mais difícil estruturar uma rede de apoio e atenção efetiva, e oferecer condições adequadas de permanência.
O governo de Jair Bolsonaro é feito por brancos e para brancos. Não é à toa que alguns de seus membros já caíram depois de serem flagrados utilizando a estética nazista, e apoiadores utilizam referências nazistas ou supremacistas para espalhar a ideologia do governo, como aquele grupo que ficou acampado em Brasília e se enfileirava usando tochas à noite.
Só faltava o capuz branco…
Fonte: APUB