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Publicado em 19 de novembro de 2021 às 09h37min
Com provas previstas para os dias 21 e 28 de novembro, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 será o mais branco e elitista desde 2009, tendo também a menor proporção de candidatos de baixa renda e o menor número total de inscritos dos últimos anos.
O esvaziamento do exame, principal porta de entrada dos estudantes para o ensino universitário, é resultado direto do projeto excludente do governo de Jair Bolsonaro para a Educação.
Não por coincidência, seu ministro da Educação, Milton Ribeiro, já declarou que a universidade deveria ser “para poucos”. Pior: para poucos e brancos.
O Governo Federal trabalha efetivamente para que isso aconteça, revertendo anos de avanço na diversidade e inclusão.
Menos inscrições, menos candidatos pobres
A edição de 2021 do Enem recebeu o menor número de inscrições dos últimos 14 anos: o exame já chegou a ter 8,7 milhões de inscritos, mas neste ano foram apenas 3,1 milhões.
O principal motivo para essa queda tão acentuada é a escolha de Bolsonaro por retirar a isenção da taxa de inscrição para os estudantes que se ausentaram da prova em 2020. Só que no ano passado o exame foi realizado durante o auge da pandemia no país, quando o governo brasileiro ainda se negava a comprar as vacinas disponíveis.
A retirada das isenções na inscrição, aliada à grave crise econômica que o país atravessa, refletiu diretamente na queda de participação de estudantes pobres e de negros.
O governo simplesmente resolveu punir aqueles estudantes que, apesar dos prejuízos, optaram por preservar a sua própria vida e a de seus familiares. Vindo de uma gestão comandada por um presidente que chamou de “mimimi” o lamento pelas mortes de centenas de milhares de brasileiros, não é algo surpreendente.
O número de inscritos com isenção da taxa por questões socioeconômicas caiu 77% em relação à última prova: apenas 26,5% dos inscritos tiveram situação de vulnerabilidade financeira aprovada. Em 2017, antes do governo Bolsonaro, esse índice era de 48.2%.
A isenção do valor da inscrição, que é de R$ 85, atinge os que estudaram em escolas públicas e quem tem renda familiar inferior a 1,5 salário-mínimo. Na edição de 2020, esse grupo representava 63% de todos os inscritos.
Ao todo, só 822,8 mil conseguiram a gratuidade por vulnerabilidade financeira. É o menor número de beneficiados desde que esses dados começaram a ser medidos.
E menos negros também
As medidas excludentes de Bolsonaro também têm seu aspecto racial. Segundo dados do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior), 11,7% dos inscritos para o Enem 2021 são pretos. É a menor proporção desde 2009, quando representaram 6,3% do total de inscritos.
Se o exame chegou a ter 1,1 milhão de inscritos pretos em 2016, neste ano foram apenas 362,3 mil.
Já os estudantes que se declaram pardos foram 42,2% entre o total de inscritos, o que representa o menor percentual desde 2012. Neste ano serão cerca de 1,3 milhão de estudantes pardos realizando a prova. Uma queda abrupta, já esse número chegou a ser de mais de 4 milhões.
De brancos para brancos
No Enem de 2009, 23% do total de inscritos se declarava branco, número que praticamente dobrou em 2021, chegando a 41,5%.
Mesmo que num ritmo lento, a participação dos estudantes negros ou de baixa renda vinha aumentando gradualmente a cada ano na última década, avanço agora revertido por Bolsonaro.
Vale lembrar também que, além de atuar como forma de seleção para as universidades públicas do país, o Enem também serve como critério de acesso a bolsas do ProUni (Programa Universidade para Todos) e do Fies (Financiamento Estudantil) para instituições privadas de ensino superior.
É óbvio que o governo Bolsonaro tem ciência de tudo isso e faz escolhas como essas sabendo que as medidas irão impactar a população mais pobre.
Vindo de um governo formado por homens brancos que trabalham para agradar homens brancos e ricos, comandado por um presidente com histórico de relacionamentos com neonazistas, não é de se estranhar.
Fonte: APUB