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Publicado em 26 de novembro de 2021 às 09h54min
Tag(s): Ciência e Tecnologia
Por mais que a ciência e a tecnologia estejam presentes em todos os momentos de nossa vida, durante a pandemia sua importância se tornou incontestável.
Do entendimento sobre o novo Coronavírus (principalmente formas de contágio, disseminação e impactos na saúde) às formas de prevenção (como isolamento social, máscaras, testagem em massa) e, posteriormente, à criação de vacinas, a pesquisa científica mostrou-se definidora para a preservação de vidas. Muitas vidas.
Enquanto os países mais ricos e desenvolvidos entenderam essa lição muito bem, e aumentam constantemente seus investimentos em ciência e pesquisa, o Brasil, ‘desgovernado’ por Jair Bolsonaro, toma a direção contrária, com sucateamento e cortes que, em certa medida, fazem parte da estratégia de negacionismo do presidente para tirar o foco dos crimes cometidos por seu governo, especialmente contra a saúde da população.
Os ataques à ciência, tratada como inimiga por Bolsonaro, fazem parte não só da estratégia de manutenção da base extremista mobilizada, via redes sociais e distribuição de muitas fake news, mas também do projeto político do grupo atualmente no poder, que busca rapinar os recursos do Estado e destruir ao máximo as políticas públicas, destinando cada vez mais dinheiro para setores aliados no Congresso ou para os bolsos de membros das ‘elites’ ricas do país e do exterior.
Números do desmonte
Desde o início de sua gestão Bolsonaro trabalha para sucatear as políticas públicas de educação, pesquisa, ciência e tecnologia.
Em 2013, ainda no governo de Dilma Rousseff, o Executivo destinou R$ 15,4 bilhões para a ciência. Já em 2019, primeiro ano de Bolsonaro no poder, o valor foi de apenas R$ 6,7 bilhões.
O orçamento total do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) teve redução de 29%.
Para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a verba em 2021 foi R$ 1,21 bilhão, valor que representa praticamente a metade do que era investido no ano 2000. O maior orçamento destinado à pesquisa nesse período foi feito em 2013, R$ 3,14 bilhões, ou seja, o atual é equivalente a pouco mais de um terço.
O número de pesquisadores apoiados pelo CNPq também caiu. Entre 2011 e 2020, as bolsas de mestrado tiveram uma redução de 32% (de 17.328 para 11.824), as de doutorado caíram 20% (de 13.386 para 10.738), e o valor desses auxílios não sofre reajuste desde 2013.
Mas a situação vai piorar ainda mais porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu para o Congresso retirar 92% do orçamento destinado à ciência, tecnologia e inovação, e destiná-los para seus aliados. Assim, os recursos, que seriam aplicados para o desenvolvimento do país, agora serão usados por políticos da base governista para fins eleitoreiros.
Ciência agoniza, e o país também
Tendo em vista que cerca de 99% da pesquisa produzida no país é feita em universidades públicas e institutos federais, os ataques à ciência se articulam também com o sucateamento e o corte de verbas para a educação e para as universidades, outra marca do governo Bolsonaro.
Os cortes afetam não só a produção científica, fundamental para o desenvolvimento do país e de sua economia e para garantir mais bem-estar à sua população, mas também o apoio à inovação empresarial e outras formas de fomento no âmbito privado.
Isso significa que os cortes na ciência brasileira prejudicam todo o conjunto da sociedade.
O Inovacred, programa de crédito da Finep (empresa estatal vinculada ao MCTI) para micro, pequenas e médias empresas inovadoras, concedia cerca de R$ 400 milhões ao ano: em 2020, esse volume caiu pela metade.
Desvantagem e fuga de cérebros
Ao desvalorizar a ciência e seus pesquisadores, o Brasil está desvalorizando a si mesmo internacionalmente, ficando ainda mais em desvantagem frente a outros países.
Com o Brasil sendo ainda um país de economia baseada na baixa industrialização (reduzida ainda mais nos últimos anos), que depende da exportação de commodities (produtos de origem primária, como grãos) para manter seu equilíbrio comercial, precisará exportar cada vez mais caso não queria ver a diferença de riqueza para as nações que têm mais tecnologia aumentar ainda mais.
Os investimentos globais com ciência aumentaram 19% em 2020. Estados Unidos e China (não por coincidência, as duas maiores potências) foram responsáveis por 63% dessa ampliação.
Os quatro países que mais investem proporcionalmente em ciência – Coreia do Sul, Alemanha, Japão e Estados Unidos – têm grandes resultados não só na inovação, mas também no bem-estar social.
O desenvolvimento de tecnologias avançadas permite que a população desses países tenha mais acesso a serviços e produtos.
A diferença tecnológica e econômica entre os países leva também à chamada “fuga de cérebros”: sem apoio e recursos para desenvolver suas pesquisas no Brasil, muitos dos nossos melhores pesquisadores vão trabalhar no exterior, aprofundando o ciclo da desigualdade e da dependência brasileira.
Em 2020, os Estados Unidos tiveram alta de 36% nos vistos concedidos a “profissionais excepcionais” brasileiros, um tipo de visto requisitado por profissionais de áreas que lidam com pesquisas avançadas. Portugal, Canadá e Inglaterra são os outros destinos que mais atraem os pesquisadores e cientistas brasileiros.
Enquanto se utilizam da bandeira nacional e de outros símbolos do Brasil como forma de expressar um falso patriotismo, Bolsonaro e seus apoiadores extremistas fingem ignorar que seu governo não se preocupa com o desenvolvimento do país. Nosso país vem regredindo em sua inserção no contexto global, e o aumento das desigualdades no acesso à ciência e às novas tecnologias só vai piorar esse quadro.
Fonte: APUB