Após forte repressão da guarda municipal, estudantes voltam às ruas de Natal para dizer que “não irão recuar”

Publicado em 06 de dezembro de 2021 às 11h16min

Tag(s): Protesto dos estudantes UFRN



Com o espírito de que não há tempo para ter medo, estudantes voltaram às ruas da capital potiguar nesta sexta-feira, 3 de dezembro, numa jornada de luta pela garantia do direito à gratuidade do ônibus circular no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Uma conquista histórica retirada pela gestão do prefeito Álvaro Dias para cobrir os prejuízos alegados pelo setor que opera o transporte público em Natal com a perda de passageiros durante a pandemia do novo coronavírus.

Em marcha pelas principais vias do Centro de Natal, a defesa do direito à cidade, pelo passe livre e contra a política repressiva aos movimentos organizados de luta mobilizou estudantes, professores, sindicatos, movimentos sociais e trabalhadores de vários segmentos e vertentes. A manifestação teve início às 14h30, com concentração na Praça Cívica, em frente à escola estadual professor Anísio Teixeira, e seguiu até o prédio da prefeitura de Natal.

Amanda Moura, coordenadora geral do DCE da UFRN. Foto: Jana Sá

Nós não estamos aqui apenas para reivindicar com urgência a gratuidade do circular da UFRN, mas para denunciar, também, em frente à prefeitura, toda essa política fascista, de agressão, de violência que eles aplicam contra nosso povo todos os dias. A gente não vai aceitar e nós vamos lutar para mudar essa realidade. Não aceitaremos a tarifa no circular como também sermos reprimidos dessa forma”, destacou a coordenadora geral do DCE, Amanda Moura, que integra o Movimento Correnteza.

Mais de uma dezena de agentes faziam a guarda da porta de acesso ao prédio do poder executivo do município, onde fica localizado o gabinete do prefeito. Ali, estudantes denunciaram a forte repressão policial sofrida em ato realizado no dia anterior, na sede da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU), e solicitaram uma resposta do prefeito Álvaro Dias às demandas do movimento.

A prefeitura não é a casa do povo? Não era para podermos entrar? Mas nos recebem assim (com a presença de guarda armada) porque têm medo dos estudantes, da nossa indignação e sabem que não aceitaremos essas agressões, que vamos avançar. Nós não vamos recuar, isso é só uma chama que se acendeu e não vai apagar”, afirmou a estudante Ana Beatriz Sá, representante do Centro Acadêmico de Psicologia da UFRN e coordenadora de mulheres do DCE, na chegada do movimento à prefeitura.

 

Ana Beatriz Sá, representante do centro Acadêmico da UFRN e coordenadora de Mulheres do DCE. Foto: Jana Sá

As mobilizações estudantis tiveram início logo depois que a STTU anunciou que o retorno da linha 588 se daria com a cobrança permanente de tarifa no valor de R$ 3,20 à comunidade acadêmica da UFRN, que envolve estudantes, servidores próprios e terceirizados, e professores.

Repressão policial

Na quinta (02), os estudantes foram à sede da STTU tentar conversar com a gestora da pasta, Daliana Bandeira. O diálogo não aconteceu e os estudantes sofreram forte repressão da guarda municipal. A polícia militar também foi acionada para que a manifestação chamada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRN, que ocorria desde às 10h da manhã de forma pacífica, fosse encerrada.

Já passava das 14h, quando o movimento foi surpreendido pelo uso de spray de pimenta contra os participantes e disparos de armas de fogo para o alto pelos agentes que faziam a guarda do prédio. A equipe do Saiba Mais, que cobria a mobilização, e o vereador de Natal Robério Paulino (PSOL), que buscava conseguir garantir o diálogo, foram atingidos pelo gás pimenta. O agente inflamatório causou de imediato a irritação nos olhos e muito mal-estar em todos os participavam do ato. A extensão dos efeitos durou horas.

Vereador de Natal Robério Paulino (PSOL). Foto: Jana Sá

Fiquei indignado, estava com vocês ontem na STTU. Indignado com a repressão, totalmente desnecessária, desproporcional. Condenar aqui o prefeito Álvaro Dias. O código de segurança de Natal deve ser totalmente revisto. Aquilo que aconteceu ontem é uma situação inaceitável”, avaliou o vereador Robério Paulino.

O vereador Pedro Gorki (PCdoB) também fez uma fala na concentração do ato. “A catraca é um obstáculo para que o país cumpra seu destino de ser uma nação desenvolvida, uma cidade para todos e para todas”.

Diálogo com a UFRN

Além dos atos de rua, várias outras ações e reuniões têm sido realizadas pela gestão do DCE UFRN. Na manhã desta sexta (3), teve panfletagem na parada do Circular. A coordenação também se reuniu com o vice-reitor da UFRN, o professor Henio Ferreira, e a chefe de gabinete da Reitoria, Magda Pinheiro, para cobrar um posicionamento da Universidade e solicitar uma reunião conjunta: DCE, UFRN, STTU e a Comissão de Mobilidade Urbana.

Isso porque, o movimento estudantil, que compõe a Comissão de Mobilidade Urbana, em nenhum momento foi chamado a participar das diversas reuniões realizadas desde 2020 e que resultaram no retorno do Circular suspenso desde o início da pandemia, em março de 2019, mas com cobrança de tarifa.

O ônibus circular integra o sistema de transporte público de Natal. Como a UFRN não tem competência legal para operar no serviço, representantes da reitoria da universidade afirmam que desde 2020 se reuniram com os órgãos legalmente responsáveis pelo serviço – Prefeitura do Natal e Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn) -, bem como com órgãos do Poder Judiciário para garantir a retomada e que são favoráveis à gratuidade.

Próximos passos

Uma reunião entre o DCE, prefeitura de Natal, reitoria da UFRN e Câmara Municipal de Natal deve acontecer na próxima terça-feira, 7 de dezembro. Além disso, uma Assembleia deverá ser chamada para definir a realização de novas ações.

Fonte: Saiba Mais

ADURN Sindicato
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