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Publicado em 03 de fevereiro de 2022 às 09h35min
Tag(s): Combate à fome Educação
Por causa da criminosa gestão da pandemia por parte do governo de Jair Bolsonaro, que não cuidou da vida das pessoas nem preservou a economia, e também por conta das escolhas econômicas fracassadas de sua gestão, o Brasil voltou a conviver com a fome em larga escala.
Estima-se que 19,3 milhões de brasileiros não têm a garantia de que conseguirão ter ao menos uma refeição a cada 24h em 2021, critério para definir a “insegurança alimentar grave”, ou seja, a fome.
Ainda há 116,8 milhões de brasileiros caracterizados como sob “insegurança alimentar”, um estágio não tão agudo quanto à fome, mas no qual não há garantia de condições plenas de alimentação.
Com desemprego recorde, altos índices de inflação e custo de vida crescendo, a dificuldade de se alimentar cria novos obstáculos para que muitos estudantes consigam permanecer em suas escolas e universidades.
Metade dos estudantes de universidades federais é de baixa renda
Alguns estudos iniciais sobre o tema indicam que a piora nos índices econômicos e sociais, os cortes orçamentários nas universidades e a pandemia agravaram as condições de sobrevivência dos estudantes universitários.
Entre as dificuldades recentes enfrentadas estão o fechamento ou o encarecimento de restaurantes universitários e os cortes de verbas em políticas de assistência e permanência voltadas para estudantes de baixa renda.
Em 2021, o governo de Jair Bolsonaro reduziu 18,16% do orçamento discricionário das 69 universidades federais do país, o que representou um corte de cerca de R$ 1 bilhão.
Apenas em políticas de assistência estudantil, que garantem a permanência de alunos de baixa renda nas universidades, foram cortados R$ 177 milhões – o que atingiu cerca de 50% dos matriculados nas universidades federais que pertencem a esse estrato social.
Os cortes atingiram também o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), criado em 2010 e responsável por repassar verbas a instituições federais de ensino superior para garantir assistência aos universitários na moradia, alimentação, transporte e inclusão digital.
Segundo cálculo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o PNAES requer ao menos R$ 1,5 bilhão para atender sua demanda com qualidade.
No entanto, em 2021 o programa teve o seu menor orçamento nos últimos cinco anos, com seu valor executado diminuindo 15,78% e caindo de R$ 1 bilhão, em 2020, para R$ 874 milhões em 2021. Isso sem levar em conta a inflação, que foi a mais alta dos últimos anos (acima de 10% na virada de 2021 para 2022).
Fome entre universitários
Publicado em um periódico da Unicamp, o artigo “(In)segurança alimentar e nutricional de residentes em moradia estudantil durante a pandemia do covid-19” mostrou que 84,5% dos estudantes moradores do Conjunto Residencial da USP (CRUSP) entrevistados viviam em algum nível de insegurança alimentar
Nesse caso, a insegurança alimentar foi definida por ao menos uma resposta afirmativa a perguntas como:
– “nos últimos 3 meses, a comida acabou antes que você tivesse dinheiro para comprar mais?”
– “ficou sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada?”
– “sentiu fome, mas não comeu porque não podia comprar comida suficiente?”.
A nutricionista Natália Caldas Martins também constatou, em sua dissertação de mestrado realizada na Universidade de Fortaleza (Unifor), que 84,3% de 428 universitários da rede pública da Bahia e do Ceará entrevistados apresentaram algum grau de insegurança alimentar na pandemia, com 35,7% apresentando grau leve, 23,6% moderado e 25% grave.
Dados da fome no Brasil
O Brasil havia deixado o Mapa da Fome, elaborado pela ONU, em 2014. A condição para um país constar desse levantamento é o índice de subalimentação igualar ou superar 5% de sua população. Venezuela, México, Índia, Afeganistão e praticamente todas as nações africanas apareceram no mapa de 2019.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2001 e 2017 o programa Bolsa Família reduziu a pobreza em 15% e a extrema pobreza em 25%, e ajudou a contribuir com o cenário de conquista até aquele momento.
Um ano antes, em 2013, o Brasil havia atingido o maior índice de segurança alimentar em sua história, com 77,1% da população classificada neste índice.
A situação mudou, sobretudo após o golpe parlamentar de 2016, que derrubou o governo da presidente Dilma Rousseff. Foi ano em que o índice de segurança alimentar caiu para 63,3%, e contribuiu para que o Brasil retornasse ao Mapa em sua próxima publicação. Já sob o governo Bolsonaro, a crise permanente tem levado cada vez mais brasileiros à miséria. Isso precisa parar.
Fonte: APUB