The Lancet destaca trabalho realizado por pesquisadores potiguares

Publicado em 15 de março de 2022 às 09h48min

Tag(s): UFRN



Foto: LAIS/UFRN

Uma releitura da obra A Herança, do pintor norueguês Edvard Munch, é o tema da capa da revista científica The Lancet, um dos principais periódicos científicos da área de saúde, no mundo.  A releitura é de autoria do ilustrador digital brasileiro, Beto Lima, e foi elaborada para acompanhar o artigo Use of Interrupted Time Series Analysis in Understanding the Course of the Congenital Syphilis Epidemic in Brazil, que traz os resultados obtidos pelo Projeto Sífilis Não, desenvolvido no Brasil.

O artigo é de autoria de um grupo de pesquisadores brasileiros do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) em parceria com pesquisadores estrangeiros da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América, da Universidade de Athabasca, no Canadá, e a da Universidade de Coimbra, em Portugal. 

A obra original retrata uma mulher da aristocracia. Em seu colo, seu filho, nascido morto em decorrência da sífilis congênita, o que remete à dor do título do quadro. Através de uma solicitação dos autores do artigo (com título em português Uso da Análise de Séries Temporais Interrompidas na Compreensão do Curso da Epidemia de Sífilis Congênita no Brasil), Beto Lima traz a mulher brasileira, em uma unidade básica de saúde, aguardando atendimento para fazer o acompanhamento do filho, nascido saudável, depois de ter realizado o tratamento de sífilis materna.

Para o ilustrador, a releitura traz o sentimento contrário da obra original. “Enquanto a obra de Munch retrata a dor da morte, com cores escuras e pouca iluminação, a nossa versão procura trazer esperança, com a cor azul, maior iluminação e com as borboletas na estampa da roupa, remetendo à transformação que o tratamento da sífilis traz a vida das pessoas”, lembrou o artista potiguar.  

O diretor-executivo do LAIS, professor Ricardo Valentim, reforçou, também, a importância da releitura feita pelo artista potiguar, em consonância com o Projeto Sífilis Não. “A figura retrata, também, a intervenção do Projeto Sífilis Não – com a sua marca – e a redução do número de casos. A releitura também traz o slogan do projeto Sífilis Não – teste, trate, cure – três elementos fundamentais para a redução da sífilis congênita no Brasil, eliminando a transmissão vertical”.

Sobre o artigo

artigo publicado na The Lancet é baseado na tese do professor Rafael Pinto, doutorando do Programa de Pós-graduação em Sistemas e Computação da UFRN, sob a orientação dos professores PhD. Lyrene Silva e PhD. Ricardo Valentim, ambos da UFRN. Esse trabalho apresenta achados científicos importantes no âmbito do enfrentamento à sífilis no Brasil, ao mesmo tempo em que discute resultados baseados na utilização de métodos computacionais, com robustos modelos estatísticos de regressão linear para medir a efetividade de políticas públicas de saúde. A regressão linear é uma forma matemática que os cientistas utilizam para observar e demonstrar tendências, ou seja, se os casos estão subindo ou reduzindo.

Os cientistas conseguiram demonstrar no artigo publicado na The Lancet a efetividade das ações de intervenção do Projeto Sífilis Não no território brasileiro. Os resultados apontam que, caso o conjunto de ações do projeto não tivessem sido implementadas, o Brasil poderia ter vivenciado um aumento de 28,79% dos casos de sífilis congênita nos municípios brasileiros, que foram definidos como prioritários pelo Ministério da Saúde, até o final de 2019.

De acordo com os pesquisadores, os resultados são animadores, pois conseguiram demonstrar que os métodos computacionais aplicados contribuíram para avaliar a efetividade de políticas públicas de saúde.  “Isso é muito inovador e impactante, pois permite a utilização de novas metodologias de avaliação e monitoramento das políticas públicas de saúde, o que fortalece a gestão pública e fortalece o controle social”, disse o Professor Ricardo Valentim.

Outro achado científico importante, discutido no artigo pelos autores, também com base nos algoritmos computacionais elaborados por eles, é que o Brasil, depois de mais de uma década, conseguiu mudar a tendência das notificações dos casos de sífilis. O país mantinha, até 2018, aumento de casos, ano após ano. No entanto, a partir de 2019, foi verificado redução dos casos dessa doença adquirida, em gestantes e congênitas. Apesar de ainda ser necessário superar vários desafios, por exemplo, o de eliminar a transmissão vertical da sífilis congênita no país, os cientistas consideram esse um dado importante, pois não é fácil, e nem trivial, mudar uma trajetória negativa de notificação de casos depois de mais de 10 anos de aumentos sucessivos.

Os métodos computacionais aplicados correlacionaram essa mudança positiva de tendência às intervenções do Projeto Sífilis Não, os casos passaram a reduzir no Brasil depois deste projeto. “Esse fenômeno já não era registrado no Brasil há muito tempo, mais de uma década com registros de aumento de casos não é fácil de superar”, ressaltou Rafael Pinto, um dos autores do artigo.

Fonte: UFRN

ADURN Sindicato
84 3211 9236 [email protected]