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Publicado em 08 de abril de 2022 às 08h43min
Tag(s): Universidades Públicas
No início de fevereiro deste ano, reitores-interventores nomeados pelo presidente Jair Bolsonaro criaram uma nova entidade para agir paralelamente à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
Como parte da estratégia de sufocar as instituições federais de ensino, Bolsonaro vem nomeando vários dirigentes que não foram escolhidos por suas respectivas comunidades universitárias.
Esse processo vem sendo criticado por diversos setores da sociedade e por toda a comunidade acadêmica brasileira, inclusive pela Andifes. Por isso, o governo Bolsonaro criou a Associação dos Reitores das Universidades do Brasil (Afebras), uma entidade com pinta de chapa branca, para tentar inventar uma nova narrativa sobre o ensino superior no Brasil, de acordo com a visão distorcida de mundo que eles tentam disseminar.
Até o momento integram a entidade os interventores das seguintes universidades: UFERSA, UFC, UNIVASF, UNIFEI, UFVJM e UFRA.
Chapa branca
Não é coincidência o surgimento da nova entidade fundada em princípios antidemocráticos e alinhada a um governo que não tem qualquer compromisso com a Democracia.
É uma estratégia dupla. Por um lado, promove a retaliação contra as outras universidades que são conduzidas sob gestões legítimas. Por outro, deve servir para “passar pano” para o governo a cada medida escabrosa ou a cada absurdo lançado que contra as universidades federais do país, tentando aparecer na mídia com uma narrativa “alternativa”, no desespero de criar a ideia de que uma parte das comunidades universitárias do país são favoráveis ao governo.
Por exemplo, se o governo apresentasse um projeto como o malfadado Future-se (do ex-ministro fujão Abraham Weintraub), essa nova entidade certamente se colocaria favorável.
Importante destacar que os reitores-interventores são pessoas que se dispuseram a manchar a própria biografia, passando por cima da escolha da sua própria comunidade acadêmica em consultas eleitorais. Via de regra, participaram dos processos internos, mas tiveram votações pífias e não aceitaram o resultado.
Portanto, se foram capazes de assumir posição tão humilhante em busca do poder, são igualmente capazes de dizer sim a um projeto de destruição das universidades das quais fazem parte. É um paradoxo típico do momento atual que vivemos no Brasil.
A Democracia está enraizada na estrutura e na essência das universidades públicas. A organização universitária é feita em torno de órgãos colegiados cujos membros, assim como os dirigentes, têm mandato e são escolhidos por meio do voto da comunidade acadêmica. Assim são eleitas chefias de departamento, diretorias de institutos, faculdades, campi e, sobretudo, reitores. E, sendo assim, estudantes, professores e técnicos administrativos fazem sua escolha a partir do que almejam como projeto de gestão que implicará sobre a tríade ensino, pesquisa e extensão.
A ofensiva sobre as universidades atingiu vários objetivos, entre os quais a criação de ambientes de conflito e de dificuldades. Em várias universidades que eram instituições produtivas e harmônicas, a nomeação de um reitor-interventor foi o estopim para um estado de crise permanente e de insegurança, facilitando o caminho para a destruição (que é o objetivo final do governo Bolsonaro).
Tudo isso deve servir de alerta para todas as comunidades universitárias do país que passarão por processos de escolha de dirigentes. E mostra também a necessidade de mudança na legislação, para que o preceito de autonomia universitária, exposto no artigo 207 da Constituição Federal, seja efetivamente garantido.
Fonte: APUB