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Publicado em 29 de abril de 2022 às 08h33min
Tag(s): Fórum Social Mundial
A insegurança alimentar e nutricional afeta 55% da população brasileira, segundo dados de 2021. Falta de investimentos sociais durante pandemia agravou a situação
São Paulo – Foi lançada nessa quinta-feira (28), no âmbito do Fórum Social das Resistências a Frente Nacional contra a Fome. Trata-se de um espaço de articulação popular para ações de enfrentamento à insegurança alimentar e nutricional que afeta cada vez mais uma grande parcela da população brasileira. Em janeiro de 2021, 55% da população brasileira encontrava-se em insegurança alimentar, ou seja, um em cada dois brasileiros.
Além disso, cerca de 19 milhões de brasileiros encontravam-se em situação de insegurança alimentar grave. Isto é, não estavam se alimentando regularmente nem uma vez por dia, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar – Rede Penssan.
A fome no Brasil havia sido reduzida no país de 2004 a 2013, resultado de um conjunto de medidas dos governos Lula e Dilma. O Brasil chegou a sair do Mapa da Fome da ONU em 2014, mas já a partir do ano seguinte, com ataques às políticas sociais do governo, começaram os retrocessos.
Veio então a pandemia da covid-19, que agravou a situação de insegurança alimentar e nutricional das populações vulneráveis que vivem no campo, na cidade, nas florestas e também ribeirinhos em todo o mundo. Segundo o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHANA), Michael Fakhry, em 2021 o número de pessoas sem acesso à alimentação adequada passou de 320 milhões para 2,4 bilhões de pessoas. Isso significa que uma em cada três pessoas no mundo estava em situação de insegurança alimentar no período mais crítico da pandemia.
“A situação se potencializou com a crescente omissão do papel do Estado na promoção de políticas públicas de bem estar social, aliança entre governo e interesses corporativos em detrimento dos interesses da vida e o enfraquecimento da democracia. Isso levou organizações, movimentos e coletivos a refletirem sobre a necessidade de uma plataforma, um mecanismo que ajudasse as diversas ações de enfrentamento à fome no país a se encontrarem e convergirem contra a fome”, diz trecho da nota divulgada pela Frente.
A contradição da fome em um país continental que usa a maior parte de suas terras produtivas para plantar e colher commodities e se vende como “celeiro do mundo” já era apontado por Josué de Castro na década de 1940, em seu livro Geografia da Fome. Uma fome, aliás, que ultrapassa os limites da seca do Nordeste e torna-se comum até entre pequenos produtores rurais.
“A Fome é um projeto político e econômico que exclui, desnutre e mata populações. Se a fome é uma forma organizada de exploração, temos que nos organizar para outro projeto de sociedade e de país. Um projeto para todos, com uma economia que tenha como centro a dignidade humana e a organização e produção popular. Eis o desafio para o surgimento da Frente Nacional Contra a Fome”, comenta Fábio Paes, da Ação Social Franciscana (Sefras) .
“Um país riquíssimo como o nosso, com acesso ao atual nível tecnológico mundial, convivendo com a fome de milhões de pessoas é uma ofensa é uma indignação que dão sentido à criação da Frente Nacional contra a fome”, disse Eliane Martins, da Periferia Viva.