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Publicado em 02 de junho de 2022 às 18h06min
Tag(s): Universidades Federais
A combinação dos impactos da pandemia com os desmontes promovidos pelo Governo Federal na educação brasileira está gerando uma elitização acelerada das nossas universidades públicas.
Após inúmeras conquistas obtidas no passado, as instituições públicas de ensino superior vêm sofrendo com cortes constantes de recursos e ausência de políticas públicas que colocam em xeque importantes avanços sociais.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), inúmeras medidas, como a Lei de Cotas, fizeram com que a presença de pessoas oriundas das camadas de menor renda na universidade pública aumentasse seis vezes em duas décadas.
Interessante observar que, a partir de 2016, já na gestão de Michel Temer, esses números estagnaram.
Coincidência?
Um caminho repleto de obstáculos
Uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), publicada em 2019, mostrou que mais de 70% dos estudantes das universidades federais são de baixa renda.
Para grande parte desses alunos, o ingresso em uma universidade pública é apenas o primeiro passo de uma etapa da vida que continuará sendo repleta de desafios.
Com grades horárias complexas, que muitas vezes impedem esse estudante de ter um emprego em paralelo à graduação, cabe ao Governo Federal propiciar condições que favoreçam a permanência desses acadêmicos nas instituições.
É assim que funciona na maioria dos países considerados mais desenvolvidos.
Na prática, infelizmente, o que se vê é exatamente o contrário. O governo de Jair Bolsonaro vem reduzindo a rede de apoio básica que deveria permitir a democratização real da universidade pública.
Medidas como a interiorização dos cursos e a mobilidade permitida pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) pedem cuidados específicos. Por isso, com o suporte do MEC, as instituições federais ofereciam um auxílio complementar de moradia e até de alimentação.
Só que com as reduções absurdas de verbas do MEC, vários desses benefícios deixaram de fazer parte da realidade das universidades públicas. Cada vez mais sucateadas, nossas instituições também estão ficando sem condições de acolher os estudantes de baixa renda, sobretudo aqueles que deixam suas cidades em busca da chance de construir uma carreira e buscar um futuro melhor (para si e para o país).
Crise econômica é outro problema
Além dos desmontes promovidos pelo Governo Federal, a crise e a recessão econômica, que ganharam força a partir de 2015, também se tornaram entraves para a permanência dos estudantes de baixa renda nas universidades públicas. Soma-se a esse quadro o desemprego, queda de rendimentos e a perda do poder aquisitivo das famílias, fruto do desastre econômico causado pelas escolhas dos governos Temer e Bolsonaro.
O retrocesso acende um sinal de alerta nas universidades públicas. Se havia um desejo pela diminuição das desigualdades e de se garantir a democratização no acesso, o quadro que se desenha representa um risco para o futuro da educação em nosso país,
Ganhos obtidos com ações como o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), criado em 2003 e que, até 2010, permitiu a inauguração de 14 novas instituições e de mais de 100 novos campi, praticamente dobrando o número de estudantes em universidades federais, não podem ser esquecidas e enterradas.
Afinal, mais do que permitir a democratização do ensino superior no Brasil, é necessário levar oportunidades para além dos grandes centros e capitais, e garantir a permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade.
A formação de qualidade e a facilidade de acesso é um direito de todos. O Brasil deveria avançar nessa questão. Mas o que vemos é nosso país caminhando para trás.
O Brasil precisa seguir outro rumo.
Fonte: APUB