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Publicado em 04 de julho de 2022 às 16h58min
Tag(s): Cultura e Educação Lei de Cotas
Neste domingo (3), celebramos o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial. Mas, apesar da criação de leis afirmativas em combate a discriminação – como a Lei nº 1.390, que trata sobre penalidades às práticas de atos resultantes do preconceito de raça ou de cor –, assim como a elaboração das cotas raciais como forma de instrumento de equidade para o ingresso no ensino superior, a luta contra o preconceito ainda é necessária.
O racismo está inserido nas grandes estruturas sociais, sendo reproduzido diariamente. A falta de representatividade em cargos de privilégio, em produções audiovisuais, o preconceito com aspectos culturais e fenotípicos de origem não-brancas, são ações que, ainda que nem sempre influenciem diretamente na vida das populações minoritárias, contribuem para a manutenção desse sistema.
As mazelas da discriminação atingem, inclusive, as crianças. De acordo com uma cartilha produzida pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), baseado em um estudo realizado pela Universidade de Harvard (https://ncpi.org.br/wp-content/uploads/2021/11/Racism-Infographic_2020_pt.pdf), o preconceito sofrido durante a infância tem potencial para elevar o nível de estresse das crianças por longos períodos, gerando desgaste no cérebro ainda em desenvolvimento, também impactando na aprendizagem, no comportamento e na saúde. Problemas de sociabilização e impacto na autoestima entram nesse pacote, pois, apesar de a autoestima ser um valor autoatribuído, ela também é construída pelo olhar do outro. Ao ser discriminada, a criança pode, inconscientemente, subentender ser desvantajoso fazer parte de determinado grupo étnico ou racial.
De acordo com a psicóloga Sandra Duarte Antão, “A criança pode ter sentimentos ambivalentes, sentindo-se triste, irritada ou ansiosa, podendo gerar comportamentos como isolamento social, evitação ou ainda agressividade por não se sentir pertencente àquele contexto”.
A escola, como importante instituição social que permite troca de ideias e valores entre os indivíduos, os auxiliando no desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais, assume o papel indispensável no combate à discriminação. Conforme a pedagoga Carollini Graciani, é crucial que, ainda no ensino infantil, sejam trabalhadas questões de autoestima e respeito às diferenças. A professora destaca também a relevância da participação da família nesse processo, já que as crianças tendem a reproduzir o que veem e o que ouvem.
As abordagens contra a discriminação racial vão sendo modificadas de acordo com o público ao qual são dirigidas. Segundo Graciani, trabalhar questões históricas e os seus reflexos, é, atualmente, uma forma eficaz de conscientização aos alunos que já estão nos ensinos fundamental e médio. Para ela, a intervenção imediata em casos de discriminação é indiscutível: “E nesta idade, quando um professor presenciar um aluno desrespeitando outro, é necessária uma intervenção pedagógica naquele momento, não pode deixar para resolver depois. É preciso parar a aula e explicar o que é o racismo, como ele se construiu, mostrar, com exemplos atuais, que o negro pode chegar aonde ele quiser, que ele pode e deve ocupar o espaço que ele desejar. Assim trabalhamos a questão do respeito ao próximo e, ao mesmo tempo, a autoestima daquele que sofreu o preconceito, e é ela que o ajudará a se defender de atos discriminatórios futuros. E mais uma vez, trabalhar junto à família para que este aluno tenha uma postura de respeito com o próximo”, completa.
Fonte: Sindiedutec