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Publicado em 07 de julho de 2022 às 16h54min
Tag(s): PEC
Ah, mas a inflação corroeu rapidamente parte significativa do poder de compra desse auxílio. É verdade. Mas terá sido este o único fator responsável pela não adesão a Bolsonaro por parte das milhões de famílias que recebem o Auxilio Brasil?
O ódio devotado pelo atual presidente da República à parcela mais desassistida e necessitada da população, revelado sobejamente ao logo de seu mandato, não teria ficado evidente para esse segmento? Penso que sim.
No entanto, o escopo de “bondades” oportunistas, ilegais e velhacas da PEC do Desespero, ou PEC Kamikase, que viola a um só tempo a lei eleitoral e de responsabilidade fiscal, além de afrontar a Constituição, é bem maior.
Ele contempla não só o aumento de 50% no valor do Auxílio Brasil, que passaria de R$ 400 para R$ 600, mas também aumenta consideravelmente o valor e o número de pessoas a se beneficiarem do vale-gás. A emenda constitucional cria ainda um auxílio-caminhoneiro de R$ 1 mil, entre outros benefícios, perfazendo um total de R$ 41 bilhões, explodindo as contas públicas e jogando uma bomba de efeito retardado no colo do próximo governo.
Então, a pergunta de um milhão de dólares é: assim que chegarem na ponta, as medidas da PEC do Desespero terão o condão de melhorar a performance de Bolsonaro nas pesquisas a ponto de torná-lo mais competitivo?
Avalio que pode haver algum reflexo positivo para a candidatura à reeleição do capitão fascista, mas é pouco provável que possa causar um tsunami capaz de mudar os rumos da eleição.
Mas tudo depende do conteúdo e da dinâmica da campanha de Lula. Em sua propaganda de rádio e TV, e também nas redes sociais, a campanha tem que deixar claro o caráter picareta e de estelionato eleitoral da PEC, cuja validade expira em dezembro.
Cabe esclarecer aos eleitores que a oposição votou a favor porque não podia morder a isca lançada por Bolsonaro e pelo Centrão, votando contra auxílios à população, o que seria certamente explorado contra Lula.
Escrevo este artigo no intervalo entre a votação da emenda no Senado, onde já foi aprovada, e na Câmara dos Deputados, na qual todos os artifícios antirregimentais vêm sendo usados para aprová-la a toque de caixa, sobre pau e pedra. Repito que é compreensível o voto a favor dos senadores de oposição pelos motivos expostos acima, mas podiam pelo menos enfrentar e denunciar a aberração da decretação do estado de emergência.
A exposição sistemática de tudo que o governo fez para piorar as condições de vida do povo, da carestia à volta ao mapa da fome, da falta de aumento real do salário mínimo ao desemprego e à precarização, da perda do poder de compra dos salários ao endividamento das famílias deve seguir como eixo principal da campanha de Lula.
Contudo, é preciso também tocar nos brios das pessoas, dizendo com todas as letras que por trás das “benesses” bolsonaristas está a escrachada tentativa de comprar votos.
Moral da história: o real efeito da última cartada de Bolsonaro está diretamente ligado à nossa capacidade de denunciá-la ao eleitorado.
Fonte: Brasil 247