Livro organizado por professoras da UFRN entra pra lista dos 225 mais importantes do mundo sobre racismo

Publicado em 08 de julho de 2022 às 13h52min

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Com quase 800 páginas, o livro “Griots: Literaturas e Direitos Humanos”, organizado pelas professoras Tânia Lima, Izabel Nascimento, Rosilda Bezerra, Derivaldo dos Santos e Amarino Queiroz, entrou para a lista das 225 obras mais importantes sobre o racismo no Brasil e no mundo.

Os professores que participaram da organização do livro fazem parte do quadro da Universidade Federal do rio Grande do Norte (UFRN), com exceção da professora Rosilda Bezerra, que era da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), mas morreu vítima da covid-19 antes da chegada da vacina.

A seleção dos livros que integra a lista dos mais relevantes é organizada pelo Congresso Internacional de Literaturas e Culturas Africanas (Griots), que começou em 2009 organizado pela UFRN e, atualmente, conta com a parceria de várias universidades, como a estadual do Piauí (UESPI), a federal do Ceará (UFC), da Bahia (UFBA), do Espirito Santo (UFES), do Rio de Janeiro (UFRJ), Paraíba (UFPB) e Campina Grande (UFCG), a Unilab da Bahia e do Ceará, além das contribuições internacionais com colaboradores de Burkina Faso, Moçambique e Cabo Verde.

A coletânea foi escrita pelos participantes do primeiro evento do Griots, professores, mestres, doutores e seus orientando de graduação e pós graduação. Apesar do reconhecimento e dos resultados apresentados, o trabalho vem enfrentando dificuldades desde 2016.

O livro em questão é de 2009, até agora já publicamos outras coletâneas, sempre fruto dos trabalhos efetivamente apresentados durante o evento. Em 2019 fizemos a 5ª edição e publicamos mais 3 livros com textos dos pesquisadores presentes. Também congressos e livros publicados em 2011, 2013, 2015 e 2017. Mas, todas as pesquisas foram afetadas depois de 2016, com o golpe. Cada dia perdemos alguma coisa. Quando o governo deixa de oferecer bolsas a pesquisadores, porque bolsa é o salário do pesquisador, isso não acontece e quem tinha condições de seguir na vida acadêmica, migra para outras profissões”, lamenta a professora Izabel Nascimento.

O Congresso Internacional de Literaturas e Culturas Africanas é resultado do investimento de políticas públicas de combate ao racismo. O primeiro evento, realizado em 2009, teve cerca de 300 pesquisadores. Atualmente, já são mais de 1.500 que vêm de todo o Brasil, África e Europa.

Já faz dois eventos que temos apoio da Capes e CNPQ. Da verba da Capes ainda temos dois livros que serão lançados no próximo ano, um deles é da escritora Paulina Chiziane, que ganhou o prêmio Camões de Literatura em 2021 e esteve no último Griots. Agora nós não sabemos como vai ser porque estamos vivendo um período muito difícil no campo de publicação e de esmagamento de todas as políticas voltadas para as minorias”, critica a professora Tânia Lima.

Os artigos publicados na coletânea são de autores de diferentes países que trazem algo em comum, a proposta de repensar o discurso da descolonização em torno da luta contra todo tipo de violência, preconceito e racismo.

A UFRN é ímpar nesse tema de pesquisa. Temos outros programas no Brasil, até programas de nível 7 (nível máximo do CNPQ) que não têm a quantidade de disciplinas, língua e cultura africanas, como temos na UFRN. O entorno da Universidade sempre foi convidativo para a cultura africana, do intercâmbio de alunos africanos aos eventos, congressos, encontros e ensino de línguas africanas. O reconhecimento é muito bem-vindo dentro do meio acadêmico. Isso faz com que tenhamos respaldo para conseguir mais divulgação e alunos interessados em pesquisar esses temas. Este reconhecimento faz o nome da universidade crescer e colabora com a internacionalização, que é um dos principais objetivos da universidade”, comemora a professora Izabel.

“Esse reconhecimento não é referente apenas a esse último livro, mas como um todo, da publicação de 2009 aos dias atuais. É um mapeamento de dez livros”, acrescenta a professora Tânia.

E para os que dizem que Natal é uma cidade de poucas pessoas negras, as professoras explicam o equívoco dessa avaliação.

“Poucos negros onde? Vejo pouquíssimos negros em cargos de chefia e direção, em locais de mando e comando. Existem negros trabalhando nos hospitais de Natal? Existe na limpeza e cozinha, já como médicos…. Existem negros nas universidades? Existem sim, mas como terceirizados e administrativos? Existem negros na política? Sim, mas como auxiliares, cabo eleitoral, etc. Enfim, existem muitos negros em Natal, mas não em locais em que são vistos, por isso parece que não há muitos. O problema não é a quantidade, é a visibilidade. A existência de poucos negros em Natal é mito, é fake”, argumenta Izabel Nascimento.

Quando você atravessa a ponte percebe essa presença imensa não apenas de negros, mas também de indígenas. O Departamento de História tem mais de 60 quilombos mapeados no sertão do Rio Grande do Norte. Acredito que falta, às vezes, um olhar da população local para a importância de todo esse movimento e cultura afrodescendente no estado e no Brasil. As políticas públicas voltadas para racismo regrediram ao século XIX, onde temos uma leitura de um sistema voltado para a exploração. É preciso resgatar a luta contínua. A inclusão só é possível a partir da educação, se não pensarmos uma política séria, de qualidade para as escolas e não alicerçarmos de vez as cotas, nunca sairemos do canto no Brasil atual”, conclui a professora Tânia Lima.

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