Campanha ‘Eu Voto em Negra’ quer ampliar participação das mulheres negras nos espaços de poder

Publicado em 11 de julho de 2022 às 16h18min

Tag(s): Movimentos Negros



Campanha integra 'Julho das Pretas', mês em que organizações sociais preparam mobilizações pelos direito das mulheres negras 

Foto: Agência Brasil

 

Apesar de as mulheres negras representarem 27,8% da população brasileira, elas ocupam apenas 2,36% do parlamento brasileiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para ampliar a participação de mulheres negras nos espaços de poder e decisão, organizações sociais lançaram a campanha “Eu Voto em Negra”, que prevê divulgar e incentivar candidaturas desse perfil, como contou a coordenadora de Relações Institucionais da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Piedade Marques, em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco.

“Nós temos a grande dificuldade de eleger deputadas estaduais e federais. Esse é o nosso grande desafio”, diz Piedade, que é consultora da campanha.. “Somos nós, mulheres negras, que mesmo com formação consolidada recebemos os menores salários. Se olharmos para a realidade [da maioria] das mulheres negras, elas são as menos visibilizadas e as últimas a serem pensada, mesmo sendo as que mais dependem das políticas públicas.”

A campanha faz parte do “Julho das Pretas”, mês em que movimentos populares e organizações sociais preparam uma agenda de mobilizações em defesa do direito das mulheres negras. Neste ano, a pauta ganha ainda mais importância devido às eleições, quando se ampliam os debates sobre o espaço das mulheres negras na política. As ações culminam no Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho.

Como e por que a campanha foi criada. Quem a constrói?

A campanha é uma ação de um projeto maior, iniciado em 2018, por três organizações de Recife: a Casa da Mulher do Nordeste, o Centro Das Mulheres do Cabo e o MMTR (Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais). A Rede de Mulheres Negras de Pernambuco entrou para dar assessoria e depois nos tornamos parcerias. É um projeto grande, com várias ações de formação e de comunicação para as candidatas. A “Eu Voto em Negra” para mim é o meu grande xodó, porque a campanha por si só tem uma vida grande.

Na prática, como as mulheres envolvidas na política podem participar da campanha?

A gente precisa pensar nas mulheres negras que vão disputar [as eleições]. Temos pensado e construído processos formativos a partir da compreensão de como funcionam as questões práticas da campanha. Por exemplo, pensamos o que cada função função exige. O que é ser vereadora? Como funciona? Quais são os limites? Quais são as possibilidades?

O racismo é algo estruturante na sociedade capitalista em que vivemos, então combatê-lo exige medidas estruturantes também. O que isso tem a ver com a eleição e com eleger mulheres negras?

Toda sociedade brasileira passa pelo problema do racismo. Ele não é um problema só meu ou só seu. Ele é de cada pessoa, porque se há desigualdade, significa que alguém está se dando bem e outro está se dando mal. Alguns corpos, algumas falas, alguns pertencimentos são considerados como valiosos e outros não. Isso faz com que a invisibilidade seja naturalizada e a violência neutralizada.

Hoje a gente diz que a questão racial, de gênero e de classe são estruturantes. Somos nós, mulheres negras, que mesmo com formação consolidada recebemos menos que todo mundo. Se olharmos para a realidade [da maioria] das mulheres negras, elas são as menos visibilizadas e as últimas a serem pensada, mesmo sendo as que mais dependem das políticas públicas.

Quais as perspectivas da campanha para este ano?

Nós temos a grande dificuldade de eleger deputadas estaduais e federais. Esse é o nosso grande desafio. Eu sou do grupo das otimistas e acho que é possível estarmos nesse momento construindo uma relação diferente para processos eleitorais. Além de nos fortalecer, [a campanha] pensa processos de disputas eleitorais, trazendo os corpos, a presença, a dinâmica diária das pessoas, e chamando a atenção para a importância de ter essas mulheres nesses lugares.

De que forma o eleitor pode somar à campanha e apoiar a iniciativa?

O “Eu Voto em Negra” é uma ação do Nordeste, mas existem no Brasil outras iniciativas que junto conosco, nos seus territórios, estão também realizando ações e indicando [candidatas]. Se conseguirmos chegar nas casas, no trabalho, na vida das pessoas e tocá-las com nossos argumentos, com certeza essa pessoa vai encontrar uma candidata para votar onde estiver.

Saiba mais

A campanha Eu Voto Em Negra faz parte do Projeto Mulheres Negras e Democracia, que atua na região Nordeste do Brasil. A partir da Rede Mulheres e Democracia, articulada pelas organizações Casa da Mulher do Nordeste (CMN); Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR/NE), em parceria com a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Rede de Mulheres Negras do Nordeste. O projeto conta com apoio do Fundo de Mujeres del Sur, e fortalece Mulheres Negras, Rurais e Populares, com perspectiva feminista decolonial, para enfrentar os contextos de crise democrática no Brasil e na América Latina.

Fonte: Brasil de Fato

ADURN Sindicato
84 3211 9236 [email protected]