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Publicado em 10 de agosto de 2022 às 13h31min
Tag(s): Pandemia de coronavírus Políticas Públicas
Cansaço, dores, perda de memória. São algumas das marcas da covid longa que atingem milhões de brasileiros
“Eu perdi a maior parte do meu olfato, e até hoje não recuperei. Tive embolia pulmonar como sequela da covid, três meses após ter saído do hospital pela primeira vez. Mais de dois anos depois, meus médicos constataram, através de comparação de imagens de ressonância cerebral pré e pós-covid-19, que meu cérebro foi afetado. Os exames mostram que ele está similar ao de uma pessoa 20 anos mais velha do que eu. Tenho perda de memória, déficit de atenção e mudanças de humor totalmente inesperadas. Estou diferente do que era antes da covid-19. Sou mulher com deficiência e possuo patologias neurológicas, que são comorbidades. Mesmo assim, meu direito de atendimento preferencial e de acompanhante para algumas atividades hospitalares não foi respeitado.”
O relato é da Ewelin Canizares, 57 anos, integrante da Associação Vida e Justiça e do Movimento Feminista de Mulheres com Deficiência Inclusivas. Ela contraiu covid em 2020. Na ocasião, ficou uma semana internada, na ressonância pulmonar. Ewelin está no grupo de mais de 33 milhões de pessoas tidas como recuperadas da doença. É o que indica o Painel Coronavírus, do Ministério da Saúde.
Mas esse mecanismo ignora as pessoas que, do mesmo modo que Ewelin, convivem com as sequelas da doença, sejam elas leves ou mais significativas. É a covid longa. Quem foi afetado por ela, mesmo depois de várias semanas do desaparecimento do quadro agudo, sofre com a persistência de alguns sintomas. Ou inclusive com o surgimento de sintomas novos. Que nunca haviam sido constatados antes da doença, incluindo uma ampla gama de problemas de saúde contínuos que duram semanas, meses ou anos.
“As mais de 33 milhões de pessoas que foram infectadas e que são tidas como ‘recuperadas’, na verdade, não são totalmente recuperadas; várias delas passam o ciclo e logo depois aparecem as sequelas do vírus”, adverte o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Zasso Pigatto.
“É uma situação terrível que, associada a outras doenças que ficaram sem ter atendimento durante a pandemia gera muita demanda reprimida. De cirurgias, exames, consultas, medicamentos. É uma demanda que já existia antes e que é muito pior agora, tudo isso decorrente da falta de financiamento adequado para o SUS”, destaca.
Como repara o presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Vítimas da Covid-19, deputado estadual Pepe Vargas (PT), passa-se a ideia de que quem teve um quadro agudo de covid, e não foi a óbito estaria recuperado. “É inclusive o que a gente vê nos painéis de controle, sejam os do Ministério da Saúde, ou das secretarias estaduais e municipais de Saúde, seja naquele do consórcio dos veículos de imprensa diariamente divulgados à população”, expõe Vargas, que também é médico.
Ewelin segue tendo acompanhamento médico. Uma realidade não compartilhada por muitas das vítimas que convivem com as sequelas. Representantes das entidades que integram o Comitê em Defesa das Vítimas da Covid-19, dizem que o atendimento no estado praticamente inexiste. “O que existe são ações localizadas, bem-intencionadas, mas sem a estrutura necessária para atender todas as necessidades”, observa o presidente do Conselho Estadual da Saúde (CES), Cláudio Augustin.
Entre as unidades de atendimento aos portadores de sequelas no estado, há o Hospital das Clínicas, o ambulatório de reabilitação pós-covid, que funciona dentro do Centro de Saúde IAPI, o Cuidativa em Pelotas, ligado à Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o Ambulatório da Univates em Lajeado e o Ambulatório da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Referência estadual, o Hospital das Clínicas, visitado pela reportagem do Brasil de Fato RS, atende atualmente 30 consultas semanais no ambulatório de Fisiatria Pós-Covid (consultas médicas), sendo quatro de primeiras consultas (provenientes das UBS). Os casos mais frequentes são de fadiga, perda de força em membros (polineuropatia do doente crítico, lesão nervosa periférica) e dores neuropáticas.
O Serviço de Fisiatria e Reabilitação conta com médicos fisiatras (3), acupunturistas (2), cardiologista (1), fisioterapeutas (6), terapeuta ocupacional (1), fonoaudióloga (1), psicóloga (1), enfermeiras (2), técnicas de enfermagem (2), educadores físicos (2), nutricionista (1) e assistente social (1). Além disso, conforme intercorrências/gravidade do caso, os pacientes podem ser encaminhados para as equipes de Psiquiatria, Medicina Interna, Pneumologia, Medicina do Trabalho, entre outras.
A Secretaria de Saúde/RS anunciou ter destinado R$ 7 milhões para investimentos na estruturação de 10 ambulatórios pós-covid no Rio Grande do Sul, em 2021, segundo reportagem do Jornal da Universidade.
Em âmbito federal, de acordo com o Portal da Transparência, o governo investiu, em 2020, R$ 524,02 bilhões, o que equivaleria a 15,85% dos gastos públicos. Em 2021, foram R$ 102,49 bilhões (2,8%). Para 2022, há previsão de um corte de 20% do orçamento de 2021.
Francisco Funcia, vice-presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde – AbrES, acentua que, com a pandemia, foi necessário romper com a regra do teto de gastos. “Essa foi a novidade, que lamentavelmente teve que custar a vida de pessoas, para que a gente pudesse comprovar algo que estamos falando há bastante tempo: o governo federal tem recursos para investir mais na saúde. Tanto é que, na pandemia, colocou mais recurso não só para a saúde, como também para o auxílio emergencial”, argumenta. E prossegue: “E o Estado brasileiro não faliu, não quebrou. As contas públicas não destruíram a capacidade de financiamento das políticas públicas por parte do governo federal”.
Aguardando tramitação no Senado, há o projeto de lei (PL 3.579/2021) do senador Rogério Carvalho (PT-SE) que institui pensão especial a pessoas que apresentem sequelas decorrentes da infecção causada pelo vírus da covid, o Sars-CoV-2. Se aprovado, o benefício terá valor de um salário-mínimo, hoje é de R$ 1,1 mil, e será pago mensalmente, tendo caráter indenizatório.
O Relatório Europeu da Saúde 2021, divulgado em março deste ano, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que, entre 10% e 20% das pessoas que tiveram covid, sofrem de sintomas após se recuperarem da fase aguda. Afirma que a situação conhecida por “long covid” ocorre geralmente três meses a partir do início da doença. O quadro sintomático dura, pelo menos, dois meses. As queixas mais comuns incluem fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva.
Outro estudo, conduzido pela Fiocruz Minas e publicado pela revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, em maio deste ano, apontou que 50% dos contaminados apresentaram sintomas pós-infecção. Os pesquisadores acompanharam 646 pacientes, entre 18 e 91 anos, ao longo de 14 meses e contabilizaram mais de 20 sintomas recorrentes. Cansaço, tosse, dificuldade para respirar, perda de memória e transtornos mentais estão entre as reclamações mais frequentes.
“Embora a maior parte desses estudos tenha como base populações na Ásia, Europa ou América do Norte, com condições e cenários distintos do que temos no Brasil, é possível especular que uma proporção semelhante de brasileiros esteja passando por complicações pós-covid, alerta o professor do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da UFRGS, Álvaro Ramos.
Como nos últimos quatro meses houve cerca de quatro milhões de novas confirmações, “possivelmente algo entre um e dois milhões de brasileiros hoje estejam sofrendo com sintomas duradouros da covid-19, principalmente entre a população mais suscetível ou entre aqueles que desenvolveram casos mais graves”, calcula.
No Rio Grande do Sul, mais de dois milhões de pessoas foram confirmadas com coronavírus. “Se 30% dessas pessoas têm sequelas, nós estamos falando de 800 mil pessoas ou 900 mil pessoas com sequelas e isso é mais da metade da população de Porto Alegre”, avalia Augustin, ele também vítima da covid.
O presidente do CES foi hospitalizado com uma pneumonia bacteriana no dia 1º de dezembro de 2020. Ao contrair covid dentro do hospital, sua vida mudou profundamente. Desde agosto de 2021 está em casa, mas ainda acamado. Quando estava começando a caminhar, contraiu covid novamente e, desde então, sua recuperação tem acontecido bem lentamente. “Agora que eu estou começando a voltar a comer e tomar líquidos. Antes era tudo por sonda”, relata.
Augustin comenta que existe um alto índice de pessoas que morrem pós-covid, seis meses depois de saírem do hospital. “Não há nenhum acompanhamento. Não tem nenhuma política pública, seja nacional ou estadual. Temos algumas iniciativas municipais, mas que não dão conta das necessidades existentes”.
“Mesmo tendo sido internados e entubados, esses sobreviventes da covid voltam para fila para tratar as sequelas. Muitos esperam meses para obter uma consulta com um neurologista ou psiquiatra, por exemplo. Outros não conseguem fazer um exame de revisão pelo SUS pela demora absurda ou pagam como particulares por não poderem esperar”, informa a presidente da Avico Brasil, assistente social e militante de direitos humanos, Paola Falceta.
Presidenta da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19 – Vida e Justiça, a médica Rosângela Dornelles, por conta de sua experiência em relação aos pacientes da covid-19, destaca que a realidade das pessoas com sequelas não é transparente e é cruel. “Elas estão sem direcionamento, sem política pública adequada, seja na área da saúde ou na área social em relação à renda. Temos muita pobreza, principalmente porque muitas perderam o emprego, não conseguiram retornar. Muitas ficaram com sequelas neurológicas, tonturas”, conta.
Rosângela enfatiza que especificamente na área de saúde há um problema sério, que é a ausência de protocolos de atendimento para os pacientes com sequelas. “Quando se fala em recuperados, a gente não sabe o que a covid fez, o que a síndrome prolongada fez. Não temos dados oficiais transparentes dos quantitativos”, nota. “Tivemos subnotificações, não tivemos testes suficientes, não conseguimos fazer uma imunização adequada. Perdemos janelas impressionantes para o nosso plano nacional e isso criou toda uma linha de pacientes com sequelas das mais variáveis possíveis, fisicamente, mentalmente”, exemplifica.
A enfermeira Inara Ruas, vice-presidente do CES, explica que todas as vezes que surgem doenças desse tipo, como epidemias, são produzidos protocolos pelo Ministério da Saúde, o que não aconteceu durante a pandemia. A ausência de ordenamento se reflete também nos estados. “Só temos conhecimento do protocolo de Belo Horizonte, e uma outra experiência bem interessante que é do Conselho dos Fisioterapeutas”, expõe.
A falta de protocolo, apontam os especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato RS, faz parte de toda uma falta de estrutura, desinteresse, negligência por parte do poder público. Augustin comenta que o CES encaminhou, durante os dois primeiros anos da pandemia, várias recomendações ao governo estadual que foram ignoradas. “Nós levantávamos questões bastante sérias, e podíamos ter mudado a história da covid no Rio Grande do Sul. Mas não mudou e tivemos mais de dois milhões de gaúchos contaminados”, desabafa.
Para Rosângela, a Secretaria de Saúde/RS e o governador relativizaram ou desconheceram praticamente todas as resoluções e recomendações, tanto do CES quanto de outras instituições e organismos científicos, locais, nacionais e internacionais. “Até a presente data, já vigente a Recomendação nº 13 do CNS, de 26.05.22, a Secretaria de Saúde ainda não adotou nenhuma iniciativa para criação de uma Rede de Cuidados às Vítimas da Covid-19 e seus familiares”, questiona.
Na avaliação de Paola Falceta, da Avico, o governo gaúcho deixou muito a desejar na gestão da pandemia. “Finalizadas as audiências públicas da Frente Parlamentar em sete macrorregiões de saúde – Porto Alegre, Santa Maria, Lajeado, Pelotas, Santa Rosa, Passo Fundo e Caxias do Sul – ficou evidente que muitos municípios enfrentaram a pandemia com muita dificuldade”. Segundo ela, as cidades que têm tratamento multidisciplinar para as sequelas da covid são aquelas que contam com a parceria público ou privada de universidades. “Porque as que dependem exclusivamente dos municípios e do estado na gestão do SUS, esse serviço, quando existe, é muito precário e longe de atender as necessidades de saúde dos sobreviventes”, relata.
Além da debilidade proveniente dos poderes executivos, também há ausência de uma política articulada em torno da atenção integral à saúde dos sequelados da covid. “Não há uma estatística que possa mensurar quantas são as pessoas que tiveram covid e estão com sequelas. E quantas estão com sintomas da covid longa”, comenta Pepe Vargas. “A primeira questão importante a ser discutida é essa: que se passe a ter um reconhecimento da necessidade de que isso tenha uma devida notificação, uma mensuração, para que o poder público, o estado, o SUS, enfim, possa desenvolver uma política de cuidados a essas pessoas”, propõe.
No dia 22 de abril de 2022, o governo federal emitiu a Portaria nº 913, que declarou o encerramento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) em decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus (2019-nCoV).
De acordo com relato dos especialistas ouvidos pela reportagem, desde antes da pandemia o SUS vinha sendo pressionado pelo subfinanciamento e também pelo aumento dos usuários. Rosângela chama a atenção que, em 2018, 64% da população dependia do SUS, enquanto hoje são 75%. Além disso, pontua, em 2019 a despesa com saúde correspondeu a 9,6% do PIB, sendo que menos de 40% destes foram de gasto público.
Para Ramos, o SUS está sendo fundamental desde o início da pandemia para salvar vidas. “Embora o Brasil tenha sido um dos países com o maior número de óbitos em decorrência da covid – com mais de três mil óbitos por milhão de habitantes, contrastando com pouco mais de 800 óbitos por milhão na média mundial, segundo o painel Our World in Data, mantido pela Universidade de Oxford – a taxa de fatalidade aparente acumulada ficou, mesmo nos piores períodos da pandemia, abaixo de 3%. Ou seja, mesmo nos momentos mais graves da pandemia, o sistema de saúde brasileiro conseguiu preservar a vida de 97 de cada 100 pacientes diagnosticados com a doença. E o gigantesco número de óbitos observado no país se deu pelo ainda mais gigantesco número de casos confirmados, por causa da grande circulação viral”, afirma, destacando o papel do SUS também na vacinação.
“O Sistema Único de Saúde mostrou toda sua força durante a pandemia, mesmo com a falta de financiamento, após a aprovação da EC 95: de 2018 até 2022 foram mais de R$ 37 bilhões que foram retirados do SUS. Obviamente, ainda há muitos desafios, principalmente no que diz respeito às sequelas da covid-19. Muitas ainda nem são conhecidas”, aponta o presidente do CES.
Augustin defende que é preciso lutar ainda mais pelo SUS. “Tem que começar a desprivatizar, fazer um plano de carreira nacional do SUS. É urgente construir uma nova realidade, e ao construir essa nova realidade, tu começas a transformar a atual realidade”, conclui.
Pepe Vargas acredita ser necessário um orçamento adequado. “Esse orçamento implica, no caso do Rio Grande do Sul, que o estado definitivamente assuma a necessidade de aplicar os 12% da receita corrente líquida de impostos e transferências, em ações e serviços públicos de saúde”. Segundo ele, também é importante que os municípios reforcem os seus orçamentos. Já no âmbito federal, é preciso revogar a emenda 95, do teto de gastos. “Nesse momento em que a gente tem necessidade de fortalecer os orçamentos da saúde, a emenda do teto de gastos está subtraindo recursos do Ministério da Saúde, não só para as questões da covid, mas para todas as ações de saúde necessárias à população brasileira”.
A convite da Frente pela Vida, a Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES) reuniu diversos economistas para elaborar uma proposta de uma nova política de financiamento do SUS. Além de Francisco Funcia, participaram Bruno Moretti, Carlos Ocké, Rodrigo Benevides, Mariana Melo, Erica Aragão, Esther Dweck e Fernanda Cardoso de Melo. O documento foi debatido com a maior parte das entidades e movimentos da área da saúde e apresentado no Seminário Nacional da ABrES, no dia 22 de julho, em Salvador.
Funcia diz que a proposta defende a inversão da participação do gasto privado em relação ao gasto público. Ou seja, “hoje o Brasil gasta 9,6% do PIB com saúde pública e privada, no total. Vou dar números arredondados: 60% desse gasto é privado e 40% é público. Precisamos inverter isso”. Lembra que, na maioria dos países desenvolvidos, o gasto público é maior que o gasto privado. Chega até a ser 70% do total do gasto.
Para chegar a tanto, ele explica que é necessário aumentar a participação do investimento federal no conjunto dos gastos públicos. “O governo federal só gasta 42%, quando é quem tem a maior capacidade de financiamento. Então, nós temos que fazer com que gaste entre 50% e 60% do gasto público total em saúde no Brasil. E, para isso, uma das metas que colocamos é que o governo federal gaste no mínimo 3% do PIB com saúde, o que equivaleria a um gasto público total em saúde, entre União, estados e municípios, de 6% do PIB”.
Funcia reforça que os estados, proporcionalmente, aumentaram muito mais o gasto nos últimos 20 anos do que a União, assim como os municípios cresceram ainda mais que os estados. “A participação dos municípios, comparativamente aos anos 2000, é duas vezes e meia maior. Gastavam um pouco mais de 12% e gastam hoje 32% do total do gasto público.”
Além disso, destaca que é preciso discutir onde aplicar esses recursos. “Muita gente diz que, no Brasil, não falta recurso e o que falta é gestão. Não é verdade. Falta recurso. Enquanto no Brasil, o gasto público em saúde, considerando União, estados e municípios, corresponde a 3,9% do PIB, segundo a OMS, o Reino Unido gasta 7,8% do PIB. O Brasil é muito menor do que qualquer outro desses países desenvolvidos no gasto público per capita. Gastamos um pouco menos de R$ 4 per capita por dia com saúde”.
O economista reforça que, com esses R$ 4 per capita/dia, equivalentes a R$ 300 bilhões/ ano, o SUS faz “assistência médica, odontológica, vacina pra criança, vacina pra animais, consulta simples, consulta especializada, exames laboratoriais, exames pra diagnóstico por imagem, produz vacinas, produz medicamentos, que é o complexo econômico da saúde. Faz desde cirurgias simples até transplantes em 5570 municípios espalhados numa extensão territorial de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Isto é o SUS”.
Já as operadoras de planos de saúde, segundo ele, faturam um pouco menos de R$ 250 bilhões. E para fazer o quê? Só assistência médica. “Estou trazendo números para dizer o seguinte: falem o que quiserem, menos que o SUS não é eficiente, menos que o SUS não é eficaz, porque ele é, porque ele faz muita coisa com pouco recurso. Agora pode melhorar? Pode”.
Para isso, na sua avaliação, é preciso mais recursos. Para aprofundar a atenção básica, para que ela seja ordenadora da rede de cuidados, para criar uma carreira pública dos profissionais de saúde, para aprofundar e novamente retomar o programa Mais Médicos, por exemplo. “Para que a gente possa ter soberania sanitária, que vimos como foi difícil ter que ficar dependendo de importações, portanto, para retomar o desenvolvimento do nosso complexo econômico industrial da saúde. Ter mais soberania na produção de vacinas, de medicamentos, etc.”
Por fim, alerta que, quando se fala no fortalecimento da carreira da saúde, é preciso caminhar agora para um novo modelo, que não se faz de hoje para amanhã, mas com planejamento.
“Temos que prever a redução, ano após ano, da contratação das organizações sociais de saúde para prestação de serviços. E enquanto se faz esta transição planejada, você também tem que criar uma regulação das atividades dessas organizações. Isso precisa estar num planejamento, tem que ter a decisão do que vai fazer, e planejar em quanto tempo vai fazer. É isso que tem que estar presente no mesmo momento que a gente discute que precisa mais recursos”, conclui.
Fonte: Rede Brasil Atual