“Candidato, perguntei qual o propósito. Lembre da pergunta: qual seu propósito ao xingar um ministro de canalha e ameaçar não permitir que as eleições fossem realizadas”, insistiu o jornalista. Bolsonaro disse então que se sente perseguido por um “certo ministro” do Supremo, numa referência a Alexandre de Moraes. Contudo, disse que já teria “se acertado com ele”.
Compromisso?
Perguntado pelo apresentador do Jornal Nacional sobre suas ameaças golpistas e ataques ao sistema eleitoral brasileiro, Bolsonaro voltou a dizer que as eleições “serão respeitadas desde que sejam transparentes”.
Bonner lembrou que as urnas eletrônicas são auditáveis e a segurança do processo eleitoral é garantido por diferentes instituições e especialistas. “Motivo de orgulho”, disse o jornalista. Provocado a firmar um compromisso público de respeitar o resultado das eleições, Bolsonaro voltou a dizer que “eleições ‘limpas’ devem e serão respeitadas. Limpas e transparentes, tem que ser respeitadas (…) Mas tudo bem. Vamos botar um ponto final nisso. Está resolvido, vamos para outra pergunta, outro assunto. Vamos respeitar o resultado das urnas”.
O presidente ainda foi questionado sobre não falar diretamente aos seguidores e apoiadores que defendem abertamente um golpe, minimizando a gravidade de manifestações antidemocráticas . “Quando alguns falam em fechar o Congresso, faz parte da liberdade de expressão (…) Uma faixinha pedindo AI-5 não leva a lugar nenhum.”
Antes do debate, o assunto já ganhou as redes sociais. No Twitter, a expressão “Mentiroso no JN” e a hashtag #BolsonaronoJN figuraram imediatamente entre os assuntos mais comentados do país. Muitos internautas também aproveitaram para chamar os brasileiros para protestar com panelaços durante a entrevista. As manifestações foram percebidas em diferentes cidades do país.
Pandemia e Bolsonaro
Ao responder à jornalista Renata Vasconcelos sobre sua conduta durante a pandemia de covid-19, Bolsonaro repetiu voltou a defender o chamado “tratamento precoce”, composto por medicamentos comprovadamente ineficazes, como a cloroquina, dentre outros. E afirmou que o Brasil começou a vacinar antes do que outros países, ignorando que o seu governo deixou de responder dezenas de memorandos da farmacêutica Pfizer, para que o governo brasileiro iniciasse as negociações para a compra dos imunizantes.
Perguntado se sentia arrependido por ter imitado pessoas sentindo falta de ar por estarem com covid, ele não desviou de dar uma resposta definitiva. O mesmo sobre o porquê de ter dito, entre outras coisas, que a vacinação poderia fazer as pessoas “virarem jacaré”. “Não é brincadeira isso. Faz parte da literatura portuguesa. Brincadeira é, num momento difícil no Brasil, a imprensa desautorizar os médicos pela sua liberdade de clinicar. Esse foi o grande problema”, distorceu.
Também negou responsabilidades pelo colapso do fornecimento de oxigênio hospitalar em Manaus, no início de 2021, quando pacientes morreram asfixiados dentro dos hospitais. Ele alegou que o governo federal enviou o insumo em 48 horas, quando a CPI da Covid identificou que a capital do Amazonas sofreu por nove dias com a falta de oxigênio. Os primeiros carregamentos que chegaram em socorro à população foram enviados pelo governo da Venezuela.
Bolsonaro também afirmou que o governo criou imediatamente o auxílio emergencial no início da pandemia. Mas a proposta do governo, naquele momento, era que o benefício fosse de apenas R$ 200. O valor só foi alterado para R$ 600 por decisão do Congresso Nacional. “Fizemos a nossa parte, tratamos com muita seriedade essa questão”, disse o presidente, sobre a trágica condução durante a pandemia.