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Publicado em 28 de setembro de 2022 às 15h03min
Tag(s): Ciência e Tecnologia Educação
Helena Nader é destaque internacional nas ciências biológicas e defensora eminente da ciência brasileira. A professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) carrega um currículo extenso não apenas no laboratório, mas também na administração e avanço das instituições de pesquisa.
Em conversa com O POVO, ela analisa o atual cenário da educação e da ciência no Brasil. “O estado democrático de direito não é só ter o direito de ir e vir. É ter o direito de usufruir de tudo que a ciência pode me dar.”
A biomédica reconhece estar sofrendo “bullying machista” após assumir a presidência da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Ela é a primeira mulher a ocupar o cargo na instituição que tem 106 anos de história. Nessa semana, ela foi ainda reeleita copresidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências, que comandará ao lado de Karen Strier (EUA). Será a primeira vez que a instituição terá presidência de duas mulheres.
Para Helena, o País precisa percorrer um longo caminho para combater desigualdades. “A gente precisa enfrentar isso e ensinar, porque isso você ensina às crianças que depois vão se tornar pais e mães e aí vão ensinar aos seus filhos que o respeito ao outro é fundamental.”, afirma.
O POVO - A senhora afirma que educação e ciência são primordiais para qualquer nação que queira se dizer soberana. Como estão essas questões no Brasil?
Helena Nader - O Brasil não gosta, mas precisa olhar para a sua história. A gente tem uma história muito bonita do povo brasileiro, ensina que o Brasil foi descoberto, que a independência foi declarada às margens do (rio) Ipiranga, que houve a abolição da escravatura, que somos um povo que recebe todo mundo de braços abertos. Mas muitas vezes não ensina sobre os povos indígenas e ribeirinhos, sobre as lutas populares por independência, sobre as condições a que os negros foram relegados ou sobre como somos um povo que discrimina.
Para o Brasil ser independente, ele precisa olhar pra trás, ver a sua história e dizer “eu errei e quero corrigir isso”. Vai levar tempo, mas é possível. Eu achava que a gente tinha andado mais para frente do que de verdade andou. Fui surpreendida pelo atraso.
OP - Um dos pontos marcantes é o cenário demográfico que encontramos nas universidades. Como a senhora percebe o caminho percorrido em todo esse tempo que atua na educação superior?
Helena - Vejo com muita alegria as ações afirmativas que fizeram a inclusão de raça e de classe social. Olhar para trás é ver uma universidade que hoje reflete mais o País. Mas, na pós-graduação, essas pessoas ainda não chegaram e tem muita gente que diz que não são necessárias ações afirmativas na pós.
Eu era uma dessas pessoas. Porém, a gente vê que, se o problema da capacitação está sendo resolvido, continua o problema da renda. Tanto que existe uma evasão na graduação porque não basta incluir, precisa haver política de permanência na universidade.
OP - E olhando para o fator da renda, fazer pesquisa no Brasil é cada vez mais um desafio.
Helena - Um desafio enorme. Nos últimos oito anos, pelo menos, há uma redução crescente no número de bolsistas pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O valor das bolsas está sem reajuste há quase 10 anos e já perdeu muito do seu poder de compra.
OP - Junto a isso, as universidades públicas vêm perdendo verbas e estudantes enquanto as instituições particulares vivem um aumento de matrículas.
Helena - É o encolhimento da educação. É a privatização da educação e inclusive da pós-graduação. Nada contra o privado, o público não dá conta sozinho. Mas tem que ser um privado que olha para a qualidade e não para bolsa de valores, não para ganhar rendimentos. Educação não é isso, em nenhum lugar do mundo.
OP - A senhora tem um percurso que também é internacional. O que há de semelhança e de diferença em relação à ciência no Brasil?
Helena - O que move o indivíduo no país X, Y ou Z é igualzinho a nós. No entanto, nos países do G20 os investimentos são contínuos, enquanto no Brasil é solavanco, mesmo continuando a ser a nona economia do mundo. É uma estrada cheia de buracos: hoje você tem, depois acabou o financiamento e de repente volta.
Ciência tem que ter previsibilidade e os nossos políticos deveriam ver que ciência e educação são investimentos de longo prazo. Leva uma geração e tem que ser uma opção de política de Estado, não de governo.
OP - Com a proximidade das eleições, esse é um ponto importante.
Helena - Claro. Parte da culpa é nossa também, enquanto cidadão. Você, quando vota, está dizendo para o candidato ou candidata “Olha, estou passando pra você uma autorização para você falar em meu nome”. Eles estão lá falando em nosso nome e não chegaram lá sozinhos. Chegaram pelo voto, mas a gente não exige. A gente esquece.
O partido nosso precisa ser educação, ciência, saúde, meio ambiente, respeito ao outro. O Brasil é política de governo; entra um novo governo e ele muda tudo. Isso tem que mudar. É necessário ser política de Estado e depende de nós, cidadãos. Mas isso depende do quê também? Da educação. Então, você percebe, um vai gerar o outro e a educação tem que ser prioridade.
OP - Falando sobre a população, a ciência e a redução, nos últimos anos, vivemos movimentos contraditórios. A ciência se mostra cada vez mais importante para a vida e é também cada vez mais negada pela sociedade. Há um caminho de reconciliação entre a população e a ciência?
Helena - De imediato, só vejo muito diálogo. Eu acho que a gente tem que ter diálogo, cada vez mais. Explicar, mostrar a importância.
Infelizmente, importamos atitudes que não eram típicas do Brasil com base em comportamentos estereotipados do Exterior. O Brasil era referência mundial em vacinação, os pais seguiam a carteirinha e era um grande orgulho. Então a gente andou para trás. Mas eu acho que dá pra reverter.
OP - E o que dá essa esperança?
Helena - Crianças e pessoas jovens me fazem continuar acreditando que dá pra mudar. Esse país realmente tem que acontecer porque o povo é muito bom, muito inteligente. Não é à toa que os brasileiros e brasileiras formados nas nossas universidades são levados para outros países.
OP - São inspirações para a senhora?
Helena - Sim, muitas. O Brasil, na área biomédica — falo porque é a minha área próxima —, deu grandes contribuições. Temos vários pesquisadores e descobertas que mereciam ter ganhado um Nobel. Temos avanços importantes na ciência genômica, avanços na Física, o primeiro acelerador de partículas da América Latina.
E mais, as universidades públicas estão fazendo o seu papel, mesmo com todos os obstáculos. É preciso ter orgulho, por exemplo, das descobertas que estão sendo feitas com os fósseis do Cariri.
Helena Nader veio a Capital para a palestra "Educação e Ciência: Pilares para Soberania e Independência de uma Nação", promovida pelo Grupo de Trabalho (GT) Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Sindicato dos Docentes das Universidade Federais do Estado do Ceará (ADUFC-Sindicato)
Helena Nader é bacharel em ciências biomédicas pela Unifesp e licenciada em biologia pela Universidade de São Paulo (USP). Tem doutorado em biologia molecular pela Unifesp e pós-doutorado na mesma área pela Universidade do Sul da Califórnia (Estados Unidos). Sua área de atuação é a glicobiologia, e sua pesquisa tem como foco a heparina, composto conhecido por sua ação anticoagulante.
Fonte: Jornal O Povo