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Publicado em 11 de outubro de 2022 às 17h04min
O descaso com a educação e a ciência também traz prejuízos à saúde mental. O agravamento do sofrimento psíquico tornou-se parte da rotina de pesquisadores e estudantes que enfrentam, além dos ataques de um governo que trata a produção do conhecimento como inimiga, a defasagem no valor das bolsas, a falta de infraestrutura mínima e inúmeras incertezas sobre o futuro.
Para se ter uma ideia da dimensão do problema, uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), realizada em 2018, mapeou problemas que afetam estudantes de graduação das universidades federais.
O resultado escancarou as dificuldades psicológicas enfrentadas nessas instituições. Com relação ao levantamento anterior, de 2014, os índices sinalizam um quadro ainda mais preocupante.
De acordo com o estudo da Andifes, 7 em cada 10 alunos de instituições federais no Brasil sofrem de algum tipo de sofrimento psíquico – como ansiedade ou depressão. Se avaliarmos que a pesquisa foi realizada antes da pandemia e que, desde então, as áreas de educação e de ciência e tecnologia sofreram mais cortes orçamentários, é provável que o retrato hoje seja ainda mais desesperador.
Defasagem das bolsas
Além da falta de reconhecimento e incentivo, a situação dos pesquisadores se agravou na fase pós-pandemia. Com a inflação galopante e a recessão econômica, as bolsas de mestrado e doutorado vinculadas à Capes e ao CNPq pagam, respectivamente, R$ 1.500 e R$2.200, e não são reajustadas desde 2013.
Em um alerta recente, a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG) sinaliza que o poder de compra dos bolsistas, até 2021, reduziu em 60%. Diante de tantas dificuldades, fica cada vez mais difícil para alguém estudar ou produzir ciência sem saber se terá condições básicas de subsistência, como alimentação, moradia e transporte.
Em 2016, havia expectativa de reajuste das bolsas, mas aí veio o golpe que derrubou Dilma Rousseff, e os governos Temer e Bolsonaro optaram por estrangular o setor.
Se em 90% das pesquisas, de acordo com dados da Capes, há a presença de pós-graduandos, como explicar essa falta de estímulo e investimentos? Sem condições mínimas para a realização dessas atividades, o Governo Federal decreta um futuro nebuloso à ciência no Brasil.
O direito à bolsa exige dedicação exclusiva, ou seja, muitos talentos acabam buscando outros caminhos para garantir a sobrevivência e melhores oportunidades e abandonam a pesquisa. Essa frustração com a realidade propicia uma fuga em massa de potenciais pesquisadores das nossas universidades e institutos.
Com isso, o Brasil vai perdendo capacidade de desenvolvimento, e ficará cada vez da importação do conhecimento, em vez de voltar a ser produtor de inovações.
Os problemas não param por aí. A falta de recursos para trabalhos de campo ou mesmo para a compra de insumos, que acabam atrasando o andamento das pesquisas, faz com que os profissionais coloquem dinheiro do próprio bolso nos projetos. Muitos precisam buscar apoio, por conta própria, em outras entidades de fomento, mas isso também é extremamente desgastante e amplia o stress mental.
Para piorar a situação, não há ajuda de custo para a participação em eventos científicos e a taxa de desemprego de doutores no Brasil vem crescendo a cada ano. O desestímulo à capacitação compromete a descoberta de novos talentos e coloca em risco o futuro do próprio país.
Sem valorização, a pesquisa brasileira, responsável por grandes feitos, pode estagnar. Quem vai responder por esse crime contra toda a sociedade?
Fonte: APUB