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Publicado em 19 de outubro de 2022 às 11h44min
Tag(s): Brasil Mulheres Outubro Rosa
No ranking de doenças que mais afetam as mulheres no Brasil, o câncer de mama lidera as estatísticas com uma estimativa de 66 mil 280 novos casos em 2022 até o momento. Com o objetivo de combater esses índices alarmantes, desde 2002 diversas ações são realizadas no país com a Campanha do Outubro Rosa. O período é marcado por atividades de conscientização e combate ao câncer, realizadas tanto pelos profissionais da saúde, quanto pela própria população.
De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) em 2019, o Brasil ocupa o segundo lugar no que se refere à incidência de neoplasia. Apesar da gravidade da doença, a paciente pode ter 95% de chance de cura, se diagnosticada precocemente.
Foi o que aconteceu com a Maria do Socorro Cabral Barreto, 61. Seu caso se tratava de um nódulo na mama e quatro linfonodos na axila, descobertos após fazer o autoexame preventivo. Em entrevista concedida ao ADURN-Sindicato, Socorro falou que se manteve tranquila e confiante quando descobriu o câncer. “Nunca chorei, nunca me desesperei. Eu nunca disse que estava mal. E me curei!”, relatou. O tratamento durou cerca de um ano, contando com o processo de exames laboratoriais para o diagnóstico, quimioterapia, cirurgia e radioterapia.
Como os procedimentos têm um custo elevado, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi primordial para o processo de combate à doença. Tanto a cirurgia, quanto o exame de imagem por ressonância magnética de Maria do Socorro foram realizados no Sistema Público. Em 2023, no entanto, pacientes nessa mesma situação correm o risco de não poder contar com o apoio do SUS.
Em outubro deste ano, justamente no mês dedicado à campanha, o governo Jair Bolsonaro anunciou o desfalque nos recursos destinados ao tratamento e combate ao câncer de mama. O valor designado caiu de R$175 milhões para R$97 milhões, ou seja, uma diferença de R$78 milhões que poderiam ser usados tanto no tratamento da doença, quanto na manutenção de equipamentos, ambulatórios e centros especializados.
O desmonte na área previdenciária também atinge as pacientes. Socorro teria direito ao Auxílio Doença por parte da Previdência Social, mas seu pedido foi negado pelo órgão responsável. “Eu trabalhava, fazia bolo, fiquei sem receber nada. Nem Auxílio Doença e nem aposentadoria”, detalhou. Maria contou que gastou mais de R$3 mil só com os exames para o diagnóstico e que essa quantia só foi possível com o apoio da sua própria renda e do seu esposo.
O suporte financeiro negado a Maria do Socorro durante sua luta contra o câncer ocorreu em 2021, mas o processo segue em trâmite na justiça ainda em 2022. “É uma humilhação a gente passar por isso. Graças a Deus eu tive condições de fazer por conta própria e não precisei esperar pelo governo”, reiterou.
Para a vice-presidenta do ADURN-Sindicato, Isaura Brandão, casos semelhantes ao de Socorro “demonstram a insensibilidade do Governo Federal diante da problemática no país. Além disso, exemplificam o descuido com a saúde pública da população brasileira, e com os direitos das mulheres”.
Durante a conversa, Socorro demonstrou estar realizada com o resultado positivo do seu tratamento, apesar do processo ter sido delicado e aflitivo. Atualmente faz o acompanhamento padrão como medida de prevenção e toma a medicação necessária fornecida, inclusive, pelo SUS. Ela reforçou às mulheres a realização do autoexame e destacou a felicidade em ter encontrado uma rede de apoio na família, reiterando que, para além da atuação eficiente dos profissionais da saúde, a sua fé a curou da doença que, infelizmente, mais mata mulheres no Brasil.
Isaura reforçou que o ADURN-Sindicato reconhece a gravidade do câncer de mama e defende o cuidado e a prática do autoexame como medida preventiva. “Lamentamos o desrespeito por parte do Governo Bolsonaro para com os recursos destinados à doença e reiteramos a relevância de contarmos com uma gestão que valorize e invista na saúde pública do país”, disse a vice-presidenta.