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Publicado em 24 de novembro de 2022 às 10h59min
Tag(s): Bolsonaro Economia Governo
Enquanto a equipe de transição tenta arrumar o caos orçamentário deixado pelo governo Bolsonaro, o futuro presidente Lula também deve ter em mente o tamanho do rombo social causado pelo bolsonarismo. A politização das forças de segurança, a circulação desenfreada e descontrolada de armas e munições e a criminalização das favelas tornará o novo mandato um dos mais difíceis desde a redemocratização.
A política armamentista de Bolsonaro já colocou mais de 1 milhão de armas na mão de civis despreparados (tecnicamente e psicologicamente), por meio da categoria de CAC’s (colecionadores, atiradores e caçadores). Esse arsenal já supera o armamento de todas as polícias militares e civis do Brasil e, pior, grande parte está sendo adquirido por pessoas ligadas às facções criminosas – de forma facilitada e bem mais barata (cerca de 70% do valor que precisavam pagar no mercado “paralelo”).
A violência política, incentivada por meio de fake news, pânico moral e fanatismo ideológico, foi ainda mais turbinada por essa enxurrada de armas que entraram em circulação no Brasil.
Não bastasse esse terreno fértil para a barbárie, o bolsonarismo se apossou das forças de segurança, com o aparelhamento da Polícia Federal, que não conseguiu investigar o presidente e pessoas ligadas a ele e, principalmente, a Polícia Rodoviária Federal (PRF), cujo desvio ficou evidente nos bloqueios no dia do segundo turno da eleição para impedir a votação de eleitores, especialmente no Nordeste, e, no dia seguinte, com a negligência (às vezes, apoio) ao impedir que arruaceiros golpistas bloqueassem rodovias após a derrota de Jair Bolsonaro, em um dos capítulos mais vergonhosos da história da corporação. Além disso, a PRF reduziu a fiscalização de velocidade, o que permitiu o aumento da quantidade de mortes nas estradas, e passou a participar de ações com outras forças de segurança, que elevaram em 10 vezes a quantidade de mortes em operações.
A combinação desses fatores esgarçou o tecido social brasileiro, que já era historicamente forjado na profunda desigualdade social e nos preconceitos de raça, gênero e classe. Os valores e princípios democráticos, ensejados no final dos anos 80, foram sumariamente atacados nos últimos anos, mas a sociedade civil organizada, incluindo os sindicatos, montaram uma trincheira que serviu para manter os princípios civilizatório em nosso país.
A frente ampla em torno de Lula é a principal expressão da resistência e da esperança e reflete, de forma categórica, o tamanho do desafio que o novo presidente terá pela frente.
Fonte: APUB