Pelo fim do assédio no ambiente acadêmico

Publicado em 12 de maio de 2023 às 15h23min

Tag(s): Assédio universidades



A notícia da denúncia ao sociólogo Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, reacendeu o debate sobre assédio sexual e moral nas universidades.

No caso envolvendo Boaventura, a denúncia partiu de quatro ex-alunas do CES. Após os relatos, outras surgiram, embora o sociólogo negue. O CES informa que está apurando o caso, que tem tido intensa repercussão na imprensa portuguesa.

Essencial lembrar que denúncias não constituem condenações e que todo acusado de práticas ilegais – quaisquer que sejam – se beneficia, nos países democráticos, da presunção de inocência. Mas é também verdade que o assédio, moral ou sexual, tem uma frequência alarmante, que merece ser enfrentada.

Essas acusações se somam a outros relatos de situações de perseguição, humilhação, coerção e abuso registrados no ambiente acadêmico. O mundo da pesquisa e do ensino não está fora da sociedade e, se nesta ocorrem episódios de abuso sexual e moral, infelizmente é inevitável que na academia eles também sucedam. Embora o assunto seja latente e reconhecido socialmente, a prevenção e o enfrentamento à questão pelas instituições de ensino superior e de pesquisa caminham a passos lentos.

Nos últimos anos, diversas instituições de ensino e pesquisa públicas têm criado códigos de ética e resoluções que abordam as questões envolvidas na violência de gênero, como apoio às vítimas que denunciam assédio (sexual ou moral) ou discriminação.

Em 2020, por exemplo, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) iniciou a distribuição do Guia de Prevenção ao Assédio, idealizado pela Universidad Complutense de Madri. O guia orienta a comunidade acadêmica sobre como proceder se algum caso for identificado e dissemina o princípio de respeito à diversidade.

Mas o assunto requer muito mais atenção e, na prática, a percepção é de que a resolução, na maioria dos casos, ainda é descentralizada, demora muito e apresenta medidas ainda pouco eficientes de acolhimento às vítimas. Infelizmente por causa disso, muitas desistem da carreira. E isso precisa mudar.

As instituições têm o dever de enfrentar essa prática, criando canais de denúncias e acolhimento, além de ações de prevenção com debates para contribuir na criação de um ambiente respeitoso, saudável e seguro.

Na Editoria Especial desta semana, manifestamos nossas preocupações diante de um assunto tão presente e sensível e que deve ser combatido com energia por parte das instituições. E deixamos nosso canal aberto para ampliarmos as discussões de como enfrentar este problema.

Renato Janine Ribeiro

Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

Fonte: SBPC

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