Existe crise no Ensino Universitário?

Publicado em 12 de julho de 2023 às 15h37min

Tag(s): Artigo Opinião



Por Wellington Duarte
 
Existe crise no "Ensino Universitário"? Essa é uma pergunta que muitos se fazem, mas poucos fazem.
 
As desistências e o esvaziamento dos corredores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), dão um claro sinal de que precisamos abrir olhos.
 
Os professores universitários, e falo por mim, precisam se aproximar dos alunos. Entender a vida dessas pessoas. Compreender o grau de dificuldade que essas pessoas tem de estar na UFRN.
 
Não é paternalismo, é reconhecimento de que somos. Nós professores universitários, a ponta de um processo de formação que, em tese, deveria, não apenas "preparar para o mercado", mas dar elementos para que esse jovem possa reconhecer o mundo em que vive.
 
Um jovem que é "preparado para o mercado", pode não ter os conhecimentos suficientes para se movimentar dentro desse tal "mercado". Imaginar que o "mercado" abraçará graciosamente todos os jovens saídos da UFRN, como um passe de mágica, é um erro grotesco que nós, professores universitários, cometemos.
 
Eu acho, opinião minha, que o professor universitário de hoje sofre por ter se originado dentro de um ambiente em que a produção lhe foi cobrada e que, por isso, ele centralizou sua vida nessa perspectiva, afinal só entra na UFRN quem é doutor e, para isso, o pretendente tem que, pelo menos, dedicar 5-6 anos da sua vida para chegar nesse estágio, e isso exige sacrifícios, inclusive o distanciamento social.
 
O novo professor(a) é produto do tempo. Tempo da solidão científica. Tempo do atomismo social. Tempo da busca pela colocação acadêmica no mundo científico. Tempo dos artigos, das bolsas de pesquisa, dos papers, enfim, da sua vida acadêmica, o que gera o isolamento acadêmico.
 
Esse professor(a) é quem está assumindo as rédeas da formação do jovem que é de uma geração ainda mais atomizada e que está fragilizado pelas condições de existência impostas à ele(a).
 
O que fazer?
 
Primeiro, o professor universitário, deve se reconhecer professor, ter na cabeça seu papel, expresso na Lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDB). Ele é educador, que vai além do que ser professor.
 
Segundo, reconhecer que sem aluno não haverá pós-graduação, nem bases de pesquisa, nem bolsas. Sem a graduação ele não tem razão de existir. Portanto, trabalhar para o fortalecimento da graduação é fundamental para o seu futuro acadêmico.
 
Terceiro, acreditar que ele pode fazer a diferença na vida desse jovem. Que pode lhe abrir os olhos para o mundo e permitir que o desenvolvimento cognitivo desse jovem o transforme em cidadão.
 
Como não sou o que sabe tudo e acha tudo, essa é apenas minha opinião.
 
*Wellington Duarte é professor do Departamento de Economia da UFRN, diretor do ADURN-Sindicato e vice-presidente do PROIFES-Federação.
ADURN Sindicato
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