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Publicado em 25 de julho de 2023 às 16h04min
Tag(s): Comemoração Movimentos Negros
Não à toa, o Candomblé e a Umbanda foram alvo de repressão na Argentina, Uruguai e Venezuela e ainda, no Brasil, 81 anos depois de ser descriminalizada, as notificações de denúncias dos ataques contra religiões de matriz africana cresceram acima de 270% nos últimos anos.
Em busca de construir uma contramão a esse modo “comum” de vida, em 1992, mulheres negras de 32 países se reuniram na República Dominicana para dar visibilidade à luta contra opressão de gênero, exploração e racismo em terras latino-americanas. Desde então, a data representa o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
“Há 31 anos atrás, as mulheres se reuniram na República Dominicana para discutir a situação da mulher negra por causa das disparidades, dos índices de violência e hoje a gente está aqui, 30 anos depois constatando que nos últimos 10 anos esses índices aumentaram. Isso é muito preocupante”, destaca Jaqueline Fernandes, idealizadora do Instituto Afrolatinas e do Festival Latinidades, que promove ações de equidade de raça e gênero.
Os dados do Observatório de Igualdade de Gênero do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) indicaram que há uma prevalência de 7,2% da violência contra mulheres afrodescendentes, em relação a mulheres brancas na América Latina.
Na Nicarágua, a taxa é de 9,2 mulheres negras agredidas a cada 100 mulheres, em seguida a Colômbia com 9,1 a cada 100, o Peru com 8,1; Brasil com 7,7; Honduras com 6,3; Costa Rica com 4,4 e Panamá com incidência de 3,6.
“A primeira coisa é que o péssimo legado da escravidão, dessa invasão dos nossos territórios e da exploração dos corpos de pessoas negras, toda herança colonial ainda se faz muito presente. Essa desigualdade estrutural provocada por esse colonialismo ainda precisa ser superada”, aponta Fernandes. “Ao mesmo tempo existe a força, a potência e o poder de conduzir a sociedade para transformações essenciais que as mulheres negras têm em toda a região”.
Esse processo de transformação de dentro para fora, foi importante para que a empresária Ciça Pereira se conectasse, ainda mais com sua própria identidade.
Pereira é produtora cultural, co-fundadora da Zeferina Produções, do projeto AfroTrampos, e foi uma das debatedoras no Festival Latinidades.
“Eu nunca me conectava com essa data, achava muito infantilizada, até não trazia as pautas necessárias. E eu fui buscando outras referências e dessas minhas pesquisas eu encontrei o [que era] o 25 de Julho e foi um alívio, porque eu encontrei minhas parecidas, minhas irmãs no processo mais ideológico e global”, conta Pereira.
Ao estar em espaços majoritariamente brancos e de maior poder aquisitivo, não era incomum as comparações e tentativas de ser cada vez mais parecida com aqueles que se conviviam. A mudança na aparência estética e as referências intelectuais, são alguns exemplos desse processo de assimilação aos valores brancos.
“Quando você ocupa o lugar dentro da academia, principalmente na universidade pública, ela está dizendo diretamente sobre intelectualidade e sobre agregar valor acadêmico as suas experiências, e são experiências que não são validadas de forma intelectual˜, relata Pereira, “Enquanto eu era invalidada dentro do espaço acadêmico na minha vivência, os espaços de sarau, das batalhas, dos movimentos culturais periféricos pretos me acolhiam”.
Tal qual os quilombos foram espaços de resistência e reintegração identitária, hoje os movimentos e datas, como o 25 de julho, promovem o fortalecimento de identidade, cultura e memória.
A data ainda recorda a história da líder do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, Tereza de Benguela. Ela ajudou a proteger mais de 100 pessoas negras indígenas a fugir da escravidão no século 18.
O ‘Bem Viver’, tema do Festival Latinidades deste ano, debate a importância de novas possibilidades de participação política, social e ampliação de direitos.
“Eu encontrei esse Bem Viver quando eu entendi e eu não precisava me culpar nesse processo. Aprendi muito também sobre as matrizes africanas e isso me trouxe uma naturalidade para ser quem eu era e quem eu sou. Isso me fez me sentir mais completa com a minha existência e compreender obviamente eu não seria aceita porque aquele não é o meu padrão de vivência”, afirma Pereira. “[Comecei] a buscar essa perspectiva mais real de quais eram as tecnologias sociais que os nossos criaram para sobreviver às violências“.
O termo foi cunhado pela ativista paraense Nilma Bentes, a partir da I Marcha de Mulheres realizada em 2015, e nasce da cultura dos povos originários Aymara e Kichwa do sul do Peru, Bolívia, Argentina e Chile.
“Não à toa uma mulher negra que convive com essa ancestralidade traz um conceito indígena que confronta o sistema capitalista na sua raiz. Sem política pública e reparação, não existe Bem Viver. Enquanto houver racismo, machismo e desigualdade, não existe Bem Viver e esse Bem Viver precisa ser integral, para todos, todas e todes”, aponta Fernandes.
O Festival Latinidades originalmente realizado em Brasília, desde 2008, neste ano foi sediado em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Até o final do evento, a expectativa é reunir cerca de 18 mil pessoas.
Foi nele que Soffia Gomes da Rocha, de 19 anos, mais conhecida como MC Soffia, teve o primeiro contato com a história do 25 de Julho.
“A gente trazer essa palavra Bem Viver antes de tudo, é sobre a nossa saúde mental, tem que estar bem sobre tudo o que o racismo abala. Nossa autoestima é abalada, os nossos direitos e não tem como a gente viver bem num país racista”, afirma Soffia. “Tudo o que nós fomos fazer ou a gente vai ser minoria, ou a gente vai ser desrespeitado, ou a segurança vai nos seguir ou a gente vai ser a mais feia da escola, como que a gente vai estar bem? Bem Viver é a gente ser livre, poder escolher, estudar e estar nos lugares assim como pessoas normais“.
Outra camada dessa desigualdade são as condições de vida. Uma pesquisa conduzida pela ONU Mulheres publicada neste ano, mostrou que mulheres negras com mesmo grau de escolaridade que homens brancos, ainda recebem 55% menos. Globalmente, a disparidade salarial entre os grupos é de 20%.
“Às vezes parece uma coisa corriqueira, mas é extremamente importante perceber que numa sociedade racista e machista a contribuição da população negra, em especial das mulheres negras, não é reconhecida”, afirma Fernandes.
Para Soffia, o desprestígio também se insere dentro do cenário artístico. “As mulheres estão tendo reconhecimento cada vez maior, só que ainda é pouco, porque chegar num lugar onde um festival faz uma live só com homens como se não existisse mulheres é triste”, afirma. “Um festival de rap e não chamar mulheres? Qual é o empoderamento, então? A gente já está lutando porque o rap é música de força, de resistência, do povo da periferia e as meninas não entram nisso, sabe? Então eu sempre me incomodo”.
Fonte: CartaCapital