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Publicado em 28 de agosto de 2023 às 15h14min
A importância da ciência foi tema de debate na última sexta-feira, 25 de agosto, em audiência pública realizada pela Comissão Mista de Orçamento (CMO). Durante o encontro, especialistas defenderam a necessidade de divulgar melhor as realizações da pesquisa científica brasileira para garantir mais recursos. Alguns deles mostraram insatisfação com a decisão da Câmara dos Deputados de manter o setor nos limites fiscais anuais durante a votação do novo arcabouço fiscal.
Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ressaltou a importância do fomento às humanidades, fundamentais para a compreensão do mundo ao redor. “Isso é uma das causas de tamanho negacionismo científico em pleno 2023. Essa má compreensão de mundo fez com que no Brasil se morresse três vezes mais que a média mundial na pandemia”, disse.
A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, se disse pessimista após a recente decisão da Câmara e lembrou que a falta de investimentos em educação e ciência fez o País ficar para trás no ranking das economias globais. Nader teme que a inclusão da área nos limites do teto venha a justificar novos contingenciamentos em recursos não-reembolsáveis do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). “Lamento muito a falta de compreensão dos deputados, o Brasil saiu mais pobre da última terça-feira”, criticou.
O representante da empresa 3M Brasil Paulo Gandolfi lembrou que os recursos não-reembolsáveis do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) são importante ferramentas de fomento pois são mais atrativos que os créditos reembolsáveis, já que inovação é naturalmente um investimento de risco. Ele argumentou também pela ampliação do fundo e defendeu a expansão da Lei do Bem, cujos incentivos fiscais são um forte mecanismo de estímulo à pesquisa no setor privado.
Inovação é um setor em que o Brasil ainda engatinha. Enquanto o país está em 14° posição em produção científica (dados do relatório Elsevier-Bori para 2022), o país está apenas em 54º no Índice Global de Inovação. “Temos um buraco nas etapas intermediárias que conectam centros de pesquisa às empresa. Não traduzimos o conhecimento para a sociedade pois não temos políticas públicas contínuas com esse intuito”, declarou Roseli Lopes, vice-diretora do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP).
Lopes trouxe o exemplo da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) que incentiva projetos de alunos do ensino fundamental e médio. Nos 20 anos da feira alunos já desenvolveram projetos voltados à purificação de água, combate à dengue, monitoramento e alerta de desastres naturais, entre outras inovações práticas trazidas por jovens estudantes e seus professores. “Cria-se assim um ciclo vicioso de investimento, retorno e investimento”, afirmou.
Levantamentos recentes sobre percepção pública da ciência mostraram que a população brasileira tem uma visão positiva da ciência e dos cientistas de modo geral, mas ainda conhece muito pouco sobre a área. Nomes como o de Johanna Döbereiner, cientista pioneira responsável pelo salto de produtividade da soja brasileira, ainda são muito menos conhecidos como deveriam. “Precisamos contar essas histórias”, disse Márcia Barbosa, secretária do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Especialista no campo de divulgação, o influenciador Átila Iamarino, que ganhou na produção de conteúdo científico para o grande público durante a pandemia, criticou os incentivos atuais da carreira científica no Brasil. “Hoje, quem se dispõe a fazer divulgação a está fazendo em detrimento de suas carreiras, já que não existem contrapartidas profissionais para divulgar”, disse.
Iamarino trata a divulgação como fator crucial para o próprio investimento em ciência e citou o exemplo bem-sucedido da norte-americana Nasa. “Se a Nasa tiver seu orçamento reduzido hoje, a população dos EUA vai querer saber o porquê. Da mesma forma, o protagonismo da Fiocruz e do Butantan durante a pandemia vai fazer com que a nossa população fique mais atenta quanto à estes institutos no futuro”, alertou.
Para finalizar, o senador Izalci Lucas lamentou o resultado da votação na Câmara e criticou a falta de uma política de Estado para a ciência brasileira. O senador sugeriu também uma reunião futura entre a comunidade científica e os presidentes das duas casas legislativas para tentar mobilizar os congressistas sobre a relevância da área para a própria soberania nacional.
Jornal da Ciência, com ABC
Fonte: SBPC