Docente, “Se precisar, peça ajuda!”

Publicado em 15 de setembro de 2023 às 14h26min

Tag(s): Campanha Direitos Humanos Setembro Amarelo



O dia a dia de um(a) docente não é fácil. Planejar, revisar, ministrar e organizar aulas requer tempo e excelência. A excelência deve ser posta em prática quando se há um cenário favorável para isto, e por vezes ele inexiste. Expor o(a) profissional a situações como esta pode não somente afetar o desenvolvimento da educação como um todo, como também trazer o esgotamento mental. 

Este que, inclusive, tem sido motivador para o aumento de depressão e ansiedade entre a categoria ao longo dos anos. E durante este mês de setembro o mundo inteiro tem se dedicado a conscientizar e prevenir essas doenças, trazendo à discussão o tema de saúde mental através da campanha do Setembro Amarelo. 

A professora e psicóloga, Luciana Medeiros, pontua que um dos fatores que colabora para o adoecimento do(a) professor(a), ou de qualquer profissional, é as condições de trabalho nas quais eles(as) sãos expostos(as): “A gente tem que tá sempre avaliando, de forma crítica, quais são as nossas condições de trabalho. Precisa ter esse cuidado para não individualizar um problema que é político, coletivo e institucional”. 

Luciana destaca ainda que o trabalho remoto, adotado durante a crise sanitária da pandemia da COVID-19, também afetou completamente o psicológico desses profissionais. O ensino on-line, por exemplo, impossibilitou o contato direto entre os(as) professores(as) e os(as) alunos(as), tornando a interação social um obstáculo entre os indivíduos. 

Mas, para além das condições de trabalho, a psicóloga explica que as relações dentro do serviço também influenciam na saúde mental. “Como as pessoas lidam com as demandas? Com as exigências? Com as cobranças? Pensar nisso também é importante!”, reflete. “Às vezes a pessoa não consegue distribuir bem o trabalho, não tem essa divisão e isso pode prejudicar”, afirma a professora. 

Em uma reportagem especial sobre a saúde mental do(a) professor(a), o Brasil de Fato divulgou dados estatísticos a respeito do afastamento destes profissionais no Estado de São Paulo. No conteúdo consta que até o mês de agosto do ano de 2019 cerca de 27 mil docentes da rede estadual se afastaram de seus cargos por licença médica devido a transtornos mentais ou comportamentais. Os números foram obtidos pelo site através da Lei de Acesso à Informação (LAI). 

Essa estatística torna-se contraditória quando se é levado em consideração o ambiente motivador para esse adoecimento entre os(as) docentes: a sala de aula. O ato de educar, que deveria ser prazeroso, ambiente de absorção de conhecimento e saber, para alguns se tornou amedrontador e pesaroso, refletindo diretamente na capacidade do exercício livre da função. 

A professora Luciana sugere que uma das maneiras de ajudar o(a) profissional que enfrenta esse tipo de problema ou dificuldade é “uma escuta sem julgamentos; onde você mostre que está disponível pra ouvir aquela pessoa”. “Muitas vezes só a escuta, o apoio ou ficar ali do lado, já é muito bom! Muito terapêutico e muito cuidadoso”, enfatiza a psicóloga, destacando que abordar o que precisa ser feito não surte resultado. Pelo contrário, traz ao indivíduo a noção de incapacidade. 

Além da disponibilidade em ouvir o(a) outro(a) como uma forma de ajuda eficaz, Luciana também destaca a necessidade da existência de centros de acolhimento dentro das instituições. Para mais, a psicóloga cita quatro práticas efetivas de cuidados necessários, em caso de já diagnosticado(a), e prevenção às doenças: aceitar que existem limitações e que agradar a todos à sua volta torna-se impossível, entendendo que a perfeição não existe;  praticar exercício físico e fazer acompanhamentos regulares através do atendimento psicoterapêutico; ter uma rede de apoio; e analisar as possibilidades de mudança ao longo da vida. 

Sobre a campanha

O Brasil está no ranking de países com maiores índices de suícidio do mundo! É o que diz a Organização Mundial de Saúde (OMS), em pesquisa realizada no ano de 2019. O órgão detalha que o país registrou aproximadamente 14 mil casos por ano, o que diz respeito a uma média de 38 pessoas que se suicidam por dia. Esses números escancaram a necessidade de um cuidado ativo e qualificado com a saúde mental da população. 

E com o intuito de trazer como pauta a prevenção e cuidado, no ano de 2014 iniciou-se a campanha do Setembro Amarelo, que tem data oficial em 10 de setembro, e foi idealizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). A ação está há nove anos incentivando a sociedade a ter uma atenção maior com a saúde mental e colaborando com a luta pelo fim do preconceito à temática. 

Em 2023 a campanha tem como lema “Se precisar, peça ajuda!”, e, assim como nos demais anos, o objetivo dela é ajudar na prevenção do suicídio e relembrar sobre a importância da vida. Através do site oficial do Setembro Amarelo é possível conferir quais as diretrizes de divulgação e participação da campanha, além do acesso gratuito ao material sobre o assunto. 

A plataforma também disponibiliza centrais de ajuda responsáveis pelo atendimento a pessoas com doenças mentais, com uma equipe de psiquiatras associados. Além do site oficial da campanha, existe ainda o Centro de Valorização da Vida, que oferece apoio gratuito, 24H. Para que o atendimento seja realizado basta que entre em contato através do número 188.

O ADURN-Sindicato compreende que o adoecimento mental é um caso que precisa ser discutido sem preconceito ou tabu, bem como ser tratado por profissionais qualificados(as) para a área. Reforçamos ainda que a interação social é necessária, trazendo a empatia como elemento crucial da relação saudável entre os(as) indivíduos. Ademais, os problemas psicológicos precisam ser analisados sob uma perspectiva clínica, mas também sob uma perspectiva política. Porque viver é  revolução, e revolucionar é um ato político.

ADURN Sindicato
84 3211 9236 [email protected]