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ADURN-Sindicato
Publicado em 23 de outubro de 2023 às 16h39min
O deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) tirou de contexto e denunciou diversos políticos e entidades à Embaixada dos Estados Unidos por um suposto apoio ao grupo Hamas. Na lista, estão dois professores da UFRN: Cesar Sanson, do Departamento de Ciências Sociais, e Angela Facundo do Departamento de Antropologia.
Gayer chegou a publicar nas redes sociais a relação das pessoas e grupos denunciados, mas depois apagou. O ofício, contudo, foi publicado pela Revista Oeste, um veículo conservador de direita alinhado ao bolsonarismo.
“Levando em conta a proteção do povo de Israel, de cidadãos americanos, de cada brasileiro residente nos Estados Unidos da América, bem como de cada uma das famílias de bem, que têm nos EUA um lar, asseguradas pelos princípios de liberdade sob os quais tal gloriosa nação foi fundada, lançamos mão do ‘Decreto do Executivo’ do Governo Americano, publicado em 27 de janeiro de 2017 , para inteirar esta Embaixada, da presença de apoiadores e simpatizantes do grupo reconhecido pelo próprio presidente americano, Joe Biden, como sendo uma ‘organização terrorista’, no Brasil”, diz trecho do documento.
Segundo o professor Cesar Sanson, a denúncia foi baseada em um manifesto assinado por ele, parlamentares, partidos políticos e organizações em 2021, contra a decisão do Reino Unido de classificar o Hamas como uma organização terrorista, a quase dois anos atrás e antes da guerra iniciada com Israel no último dia 7.
“Na época o Hamas não tinha essa imagem que evidentemente tem hoje em função do que fez. O Hamas era mais identificado como resistência, e eu subscrevi esse manifesto com centenas de pessoas”, explica Santos.
“Ele [Gustavo Gayer] puxa a lista de assinaturas desse manifesto de dois anos atrás, contestando essa decisão do governo britânico e associa com esses últimos fatos. Quer dizer, ele faz uma manipulação sórdida e grosseira. O cara não pode pegar um fato de dois anos atrás e descontextualizar como se a gente tivesse hoje subscrevendo apoio. Ninguém em sã consciência apoia o que os caras [Hamas] fizeram”, contesta o cientista social.
De acordo com o professor da UFRN, a ação do deputado bolsonarista é parte da estratégia da extrema-direita de associar a esquerda à “atrocidades”.
“Não tem fundamento [o suposto apoio ao Hamas]. É uma mentira, uma fake news”, rebate Sanson.
Medidas judiciais
O professor pretende entrar na Justiça contra o deputado federal Gustavo Gayer assim que retornar ao Rio Grande do Norte na semana que vem. Ele está atualmente em compromisso em São Paulo e diz que já está conversando com a também professora Angela Facundo.
“Provavelmente a gente vai procurar o ADURN-Sindicato [sindicato dos professores da UFRN] para conversar com a assessoria jurídica. Eu sou favorável, sim, a abrir um processo de calúnia e difamação porque essas pessoas não podem ficar impunes”, afirma.
Também procuramos a professora Angela Facundo, mas não obtivemos retorno.
STF
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), outro que está no dossiê, prometeu ir ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra Gustavo Gayer.
“O deputado Gayer enviou à embaixada dos EUA lista de nomes, pedindo sanções, pois supostamente apoiam o Hamas, entre eles o meu. Vamos ao STF com queixa-crime por injúria e difamação, Ação Civil por danos morais e Comissão de Ética. O covarde apagou o post, mas pagará pelos seus crimes”, escreveu Valente em seu perfil no X (antigo Twitter).
O parlamentar do PSOL também deve denunciar Julia Zanatta (PL-SC), mais uma que divulgou a lista.
“A deputada Julia Zanatta também cometeu o mesmo crime que Gayer, de traição à pátria, ao difamar brasileiros para país estrangeiro. Será alvo de ação, assim como o primeiro, no STF, na justiça comum e no Conselho de Ética da Câmara. É preciso cassar o mandato e punir a Gestapo bolsonarista”, disse Ivan, em referência à polícia secreta oficial da Alemanha nazista.
Gayer é conhecido por assédio eleitoral, fake news e associação de africanos a baixo QI
Uma das mais recentes polêmicas do bolsonarista goiano foi em junho deste ano. Numa entrevista a um podcast, Gayer e o apresentador associaram africanos a um baixo quociente de inteligência (QI) e afirmaram que eles não têm “capacidade cognitiva” para viver em um regime democrático.
Já em outubro de 2022, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-GO) proibiu o político de utilizar qualquer comércio ou indústria, dentro do horário de expediente, para promover propagandas e atividades político-partidárias em Goiânia. O objetivo era evitar o “assédio eleitoral” dos empregados de qualquer comércio.
A medida veio após uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT), que afirmou que o deputado fazia reuniões com “propaganda eleitoral ilegal” dentro de várias empresas com o objetivo de apoiar a releição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No mês seguinte, novembro de 2022, a Justiça suspendeu a conta de Gayer no Twitter depois dele divulgar nas redes sociais uma transmissão feita pelo argentino Fernando Cerimedo, amigo do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em que ele fez acusações falsas sobre as urnas eletrônicas.
Contra Gustavo Gayer também pesam investigações por descredibilizar o resultado das urnas e por ataques a ministros do STF.
Sindicato lamenta
Em nota, o ADURN-Sindicato, que representa os docentes da UFRN, considerou “inadmissível e vergonhoso” a atitude de Gayer. A entidade classificou a denúncia como perseguição “com base em calúnia e difamação, a fim de restringir o direito de ir e vir desses no exterior.”
“A assessoria jurídica do sindicato está à disposição dos docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sindicalizados, citados no documento publicado nas redes sociais que foi supostamente enviado à Embaixada Americana, para que as medidas cabíveis sejam tomadas”, afirmou o ADURN.
O sindicato ainda disse que se mantém na defesa do Estado Democrático de Direito e na luta pela garantia dos direitos dos cidadãos e da categoria docente.
Fonte: Saiba Mais