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Publicado em 10 de janeiro de 2024 às 11h04min
Tag(s): Educação Movimento negro
Fundador do Teatro Experimental Negro, o ex-deputado e ex-senador Abdias do Nascimento entrou oficialmente no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, a partir da decisão assinada pelo presidente Lula (PT) e publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira 9.
A história de Nascimento se conecta com os primórdios do movimento negro brasileiro. Poeta, escritor, dramaturgo, artista visual e ativista pan-africanista, ele fundou, além do Teatro, o projeto Museu de Arte Negra e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, o Ipeafro.
Natural de Franca, no interior de São Paulo, ele é filho do músico e sapateiro José Ferreira do Nascimento e da doceira Georgina Ferreira do Nascimento. O novo herói da Pátria é reconhecido no Brasil e no exterior por suas atuações como ativista dos direitos civis e humanos das populações negras.
Como parlamentar, Abdias do Nascimento apresentou diversas propostas para reduzir a desigualdade racial. É dele, por exemplo, o primeiro projeto de lei com ações compensatórias como políticas públicas de igualdade – uma delas previa a criação de uma cota de 20% de vagas para mulheres negras e de 20% para homens negros na seleção de concursos públicos.
Também propôs estabelecer 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, no aniversário de morte de Zumbi dos Palmares. Nascimento ainda foi um dos principais nomes do processo de criação da Fundação Cultural Palmares.
Em 1991, ele se tornou o primeiro senador afrodescendente a dedicar seu mandato à promoção dos direitos do povo negro do Brasil.
Sob a liderança de Abdias, o Teatro Experimental Negro organizou a Convenção Nacional do Negro em 1945 e propôs à Assembleia Nacional Constituinte a inclusão de um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria.
Já o Ipeafro foi responsável por um dos primeiros cursos de preparação de professores para a introdução da história e da cultura africanas e afro-brasileiras no currículo escolar, antes mesmo de existir a Lei de Ensino sobre história e cultura afro-brasileira.
Durante a repressão do regime militar, Nascimento viveu 13 anos exilado nos Estados Unidos e na Nigéria, onde foi professor universitário e participou de diversos encontros e congressos internacionais.
Em Nova York, fundou a cátedra de Culturas Africanas no Novo Mundo do Centro de Estudos Porto Riquenhos, no Departamento de Estudos Americanos, e foi professor visitante na Escola de Artes Dramáticas da Universidade Yale.
Nascimento é autor de dezenas de livros, como o Quilombismo e O genocídio do negro brasileiro. Ele também era editor do jornal Quilombo e das revistas Afrodiáspora e Thoth.
No campo da dramaturgia, suas principais montagens foram Rapsódia Negra (1952) e Sortilégio (1957), escrita em 1951 e censurada duas vezes até sua primeira apresentação, devido à visão de “democracia racial” da peça.
Nas exposições em museus brasileiros e no exterior, Fórum Memória Viva (2007) e Sankofa (2010) marcam sua trajetória.
Muitas de suas telas, a propósito, se dedicam a representar religiões de matriz africana, como Ponto Riscado de Exu Cruzado com Xangô (1972) e Quilombismo: Exu e Ogum (1980)
Por suas iniciativas, Nascimento recebeu o título de Doutor Honoris Causa de universidades do Rio de Janeiro, Bahia, Brasília e da Nigéria.
Ele faleceu aos 97 anos, em 23 de maio de 2011, no Rio de Janeiro.
O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria — ou Livro de Aço — foi criado em 1992 para reunir protagonistas da liberdade e da democracia brasileiras.
A obra é formada por páginas de aço e está exposta no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Entre os 64 nomes de heróis e heroínas estão os de Tiradentes, Anita Garibaldi, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis, Chico Xavier, Santos Dumont e Zuzu Angel.
Fonte: Carta Capital